O casarão do Padre Freitas em Piripiri

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O Padre Domingos de Freitas e Silva (1798-1868) veio de sua cidade natal  Parnaíba para Piracuruca e sucessivamente para Piripiri, esta provavelmente em 1840. Ex-participante do movimento de independência em 1822, consta que estabeleceu uma fazenda cuja sede estaria no que hoje é o açude Anajás, no centro da atual Piripiri. Alguns anos depois, por volta de 1850 (?), teria construído um casarão onde hoje se insere a Praça da Bandeira e a Igreja-matriz de Nossa Senhora dos Remédios.

Vivendo maritalmente com Lucinda Rosa de Souza (? – 1839), dessa união nasceram cinco filhos. Com o falecimento da primeira consorte, uniu-se no ano seguinte a Jesuína Francisca da Silva, com que teve sete filhos.

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TALVEZ A ÚNICA IMAGEM DE UM DOS FILHOS DO PADRE FREITAS. DEVE SER  DOS ANOS 1870-1880. ESTE É DO PRIMEIRO CASAMENTO DE SEU PAI, DO QUAL NÃO HÁ FOTO OU PINTURA. AUTORIA DA IMAGEM DESCONHECIDA.

Mesmo vivendo maritalmente com mulheres e dela gerando filhos, o Padre sempre exerceu seus ofícios religiosos.

Foi sem dúvida o patriarca e o grande líder político religioso da primitiva Peripery até sua morte, legando ainda para a posteridade numerosos descendentes.

Seu Falecimento foi sentido não só pela comunidade piripiriense, mas por vários segmentos da sociedade nordestina.

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A IMPRENSA PIAUIENSE NOTICIOU O FALECIMENTO. FONTE: JORNAL A IMPRENSA, TERESINA, 20 DE JANEIRO DE 1869.

Primeira edificação sólida da Cidade, o casarão onde viveu o Padre e sua família, na Praça da Bandeira, não resistiu a “modernidade” e, abandonado, ruiu com suas espessas paredes e portentosas colunas no início dos anos 1980, antes que houvesse qualquer medida do poder público ou movimento popular no sentido de preservá-lo. Da família do padre Freitas por longos anos havia sido passado a outros proprietários. Era o maior patrimônio arquitetônico da Cidade, a casa do fundador de Piripiri, o testemunho material da fundação e evolução da Cidade, em plena praça central, a da Bandeira.

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IMAGEM ORBITAL MOSTRANDO O LOCAL DA CASA DO PE. FREITAS (QUADRO VERMELHO) EM RELAÇÃO AS EDIFICAÇÕES DAS PROXIMIDADES.

O local virou sucessivamente bares e restaurantes, e atualmente durante o dia é um estacionamento e de noite um badalado bar.

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IMAGEM ATUAL DO TERRENO ONDE UM DIA FOI A CASA DO PADRE FREITAS.

No início de 2014 a Prefeitura Municipal de Piripiri adquiriu o terreno por alta soma, com o compromisso de reconstituir o patrimônio histórico, obedecendo à arquitetura original, inclusive com o piso de azulejos.

A reconstituição da edificação em si em nada é impossível. Equipes de engenheiros, arqueólogos, arquitetos e técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional podem fazer isto através de criteriosas escavações, onde explorarão a base dos alicerces, através de achados internos (azulejos, peças metálicas, etc.) e com serviços substanciados por imagens externas existentes e testemunhos de pessoas que adentraram a antiga edificação antes de sua ruína completa.

O problema fica só na boa vontade para conseguir os fundos necessários à reconstrução.

Seria muito interessante o testemunho de pessoas que conheceram pessoalmente o casarão, ali pelos anos 1950, 1960 e 1970, pois as mesmas poderão acrescentar detalhes ornamentais que o serviço de reconstrução não poderá fazê-lo.

O casarão antigo do Padre Freitas apresentava estilo sóbrio, tipicamente colonial, sem grandes adereços nas fachadas e possuía telhado em três águas. As portas são em arco pleno, com bandeiras provavelmente de adobe, apresentando uma cercadura de massa parcial. Não havia recuo na edificação (imposição da época) nem platibanda e nem ornamentações em relevo nas fachadas (exceto nas portas e janelas).

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AUTORIDADES LOCAIS E ESTADUAIS POSAM FRENTE A ENTÃO PRESERVADA CASA DO PADRE FREITAS DURANTE A COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO DA CIDADE (1944). OBSERVEM AS SIMÉTRICAS PORTAS EM ARCO PLENO, COM BANDEIRA PROVAVELMENTE EM ARGAMASSA (1), CERCADURA EM MASSA ENVOLVENDO PARCIALMENTE AS PORTAS (2) E A AUSÊNCIA DE DETALHES NO BEIRAL (3). FACHADA VOLTADA PARA A RUA JOÃO DE FREITAS. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO PIAUÍ.

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IMAGEM ALUSIVA AO CENTENÁRIO DA CIDADE, EM 1944. OBSERVEM A FACHADA DA CASA DO PADRE FREITAS TAMBÉM PELA RUA JOÃO DE FREITAS (1), MONUMENTO PARA INDICAR ONDE FOI ENTERRADO O PADRE (2), A CAPELA CONSTRUÍDA TAMBÉM EM 1944, QUE ABRIGARIA OS RESTOS MORTAIS DE FREITAS (3), UM POSTE DE MADEIRA COM FIAÇÃO ELÉTRICA (4), O PÁTIO DA ESCOLA PADRE FREITAS, INAUGURADA EM 1934 (5) E A PREFEITURA MUNICIPAL (6). OS PONTILHADOS À BEIRA DA CALÇADA MOSTRAM ONDE ESTAVAM POSANDO AS AUTORIDADES DA IMAGEM ANTERIOR. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO PIAUÍ.

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MAIS UMA IMAGEM PELA RUA JOÃO DE FREITAS. AINDA SE PERCEBE O MONUMENTO AO TÚMULO DO PADRE NO MEIO DA RUA. A DIREITA, OBSERVA-SE SUCESSIVAMENTE DA ESQUERDA PARA A DIREITA A PRESENÇA DAS ABERTURAS: UMA JANELA, DUAS PORTAS, UMA SEGUNDA JANELA, UMA TERCEIRA PORTA, FALTANDO AINDA DUAS PORTAS NÃO CAPTADAS. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO.

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ESTA IMAGEM, TOMADA DA PRAÇA DA BANDEIRA PARA A OUTRA FACHADA DA CASA, PELA ATUAL RUA PROF. BEM, É DA MESMA ÉPOCA QUE A PRECEDENTE. OBSERVEM QUE OS CUNHAIS (COLUNAS NAS QUINAS) DELIMITAM APENAS TRÊS PORTAS. A QUARTA PARECE SER DE UM ANEXO (1), Á DIREITA DA CONSTRUÇÃO. POR ESTA IMAGEM É POSSÍVEL OBSERVAR A EXISTÊNCIA DO TELHADO EM TRÊS ÁGUAS. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO.

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ESTA IMAGEM DE ESQUINA (PROF. BEM X JOÃO DE FREITAS) PARECE SER BEM MAIS RECENTE POIS JÁ MOSTRA A DETEORIZAÇÃO DO CASARÃO NA PINTURA, NA BASE DA PAREDE, DA BASE DA COLUNA (CUNHAL), NAS ARQUITRAVES DAS PORTAS, ETC. REPRODUÇÃO, SEM AUTORIA CONHECIDA.

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NESTA IMAGEM PARCIAL TOMADA DURANTE O DESFILE ESTUDANTIL EM 1944 , É POSSÍVEL VER AS SETE PORTAS E JANELAS NA RUA JOÃO DE FREITAS E DUAS DAS TRÊS PORTAS DA FACHADA VOLTADA PARA A PRAÇA, ISSO SEM CONTAR A PORTA DO ANEXO. FONTE: ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO.

Esperemos, pois, que as dificuldades sejam sobrepujadas e seja reconstruído completamente o casarão do Padre Freitas, tornando-se uma portentosa casa de cultura de Piripiri, resgatando brilhantemente a mais antiga memória arquitetônica da Cidade.