Carne de sol de Campo Maior: uma iguaria incomparável

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O prato é típico do Nordeste embora hoje seja conhecido em todo o Brasil. A carne-de-sol já se integrou ao costume culinário nacional, sendo considerada iguaria fina em restaurantes de todos os rincões.

Antes de ser levada ao consumidor final, há um ritual de preparação, salga e desidratação, que é um método antigo de conservar alimentos de origem animal, salgando e secando ao ar livre e vento quente as peças de carne, em geral bovina e também caprino-ovina.

Como o produto exige um clima muito seco, o preparo da carne de sol legítima só é mais apropriado nas regiões menos chuvosas do Nordeste, daí ser um típico produto nordestino.  A secagem é rápida, formando uma espécie de casca protetora que conserva a parte de dentro da carne úmida e macia. A umidade é inimiga da qualidade e da conservação das mantas de carne salgadas, exigindo salga mais demorada em época de chuvas.

Disputam o título de “cidade da carne-de-sol” três urbes nordestinas: Picuí no estado da Paraíba, Caicó, no Rio Grande do Norte e Campo Maior, no Piauí, esta última a 80 km ao norte de Teresina.

Não há quem tenha percorrido a BR-316 cortando ao meio a cidade de Campo Maior e ignorado os dezenas de quiosques que vendem a afamada carne da Cidade, decorando gastronomicamente a paisagem urbana com suas cobiçadas mantas expostas aos olhos curiosos dos passantes. Nos restaurantes da Cidade é o prato mais consumido, bem como nas residências. 

A pecuária bovina extensiva, de tradição secular em seus campos planos entremeados de carnaubais criou a culinária mais típica do Estado, um verdadeiro “artesanato” de suculentas carnes.

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  QUIOSQUE COM CARNE DE SOL EXPOSTA EM CAMPO MAIOR 

Para fabricar a carne-de-sol, os campo-campomaiorenses submetem a carne bovina a um leve processo de desidratação e salga, obtendo um produto com características muito semelhantes à carne fresca. Em que pese o nome, as mantas raramente são exposta ao sol no processo de desidratação; ao contrário elas são deixadas em locais abrigados e bem ventilados, permitindo uma secagem gradual e controlada, sem exposição direta ao sol e protegidas de eventuais chuvas.

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   MANTAS EXPOSTAS DE CARNE DE SOL 

As tradições de preparação da carne-de-sol a partir da carne fresca variam por todo o Nordeste e até em estados de outras regiões. Alguns recomendam a salga e a desidratação por muitas horas e ainda conservação por vários dias na geladeira ou até congelador, utilizando-se sacos ou recipientes de plástico.

Em Campo Maior a este produto suculento é preparado de maneira bem mais simples, resultando em produto de sabor incomparável. A carne, bem selecionada, é cortada em mantas, salgadas e colocadas em grandes recipientes como caixas d’água de PVC. Ali ficam em desidratação por umas três horas, umas empilhadas sobre as outras, inclusive misturando-se carne bovina com bandas de caprinos e ovinos.

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A SALGA DAS CARNES

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   A CARNE REPOUSA PARA DESIDRATAÇÃO

Decorrido aquele período, no qual a carne perde grande volume de líquidos, ocorre à lavagem: é feita com a própria salmoura acrescentada de água. Pronto, as mantas estão prontas para serem exposta ao vento quente da Cidade. Nada de sol ou pelo menos muito sol.

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A PREPARAÇÃO DE LAVAGEM DA CARNE

Em Campo Maior a carne-de-sol é consumida acebolada após frita na frigideira ou assada na brasa. Vem temperada com manteiga da terra e acompanhada de Maria Isabel, paçoca e às vezes de queijo coalho. A Maria Isabel é o arroz misturado com cubinhos de carne-de-sol, geralmente de pedaços da manta já muito seca, e a paçoca é feita basicamente de farinha de mandioca com carne de sol desfiada, bem temperados, tudo batido ao pilão.

Mas a carne-de-sol da Cidade não é exclusiva de carne bovina. São muito preparadas as carnes caprinas e ovinas, e até a de úbere da vaca, todas feitas pelo mesmo processo de salga, desidratação e conservação, uma verdadeira arte culinária da Terra das Carnaúbas.

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 CARCAÇA DE BODE AGUARDANDO SER RETALHADA

 
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ÚBERE BOVINO SALGADO
 
O resultado de todo este labor artesanal é incomparável na mesa: a deliciosa carne-de-sol de Campo Maior, um patrimônio cultural e gastronômico do Piauí.
 
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O PRODUTO FINAL É UMA IGUARIA