Pequi: o “Viagra” do sertanejo piauiense

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Segundo uma crença fortemente arraigada nos sertões nordestinos, o pequi, fruto do pequizeiro (Caryocar brasiliense), possui características afrodisíacas, sendo originalmente consumido pelos sofridos camponeses com rapadura e farinha. Diz a tradição que é no período da queda natural do fruto, quando os nativos começam a consumi-lo,  que mais cresce a população interiorana.

É também conhecido como piqui, piquiá, pequerim, amêndoa-de-espinho, grão-de-cavalo, suarí. A palavra pequi, na língua indígena, significa “casca espinhosa”. Em muitas regiões a sua exploração extrativa constitui importante ocupação para inúmeras famílias, que têm essa cultura como fonte de renda e de emprego através da colheita, processamento e comercialização do pequi, pelo menos durante quatro meses no ano. (www.emater.mg.gov.br).

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UM FRONDOSO PEQUIZEIRO NO ASSENTAMENTO DAS MULHERES ORGANIZADAS, PIRIPIRI-PI.

A árvore é nativa do cerrado brasileiro, ocorrendo também em zonas de transição.  Símbolo da cultura e da culinária dos estados brasileiros de Goiás e Minas Gerais, é muito utilizado no estado de Mato Grosso do Sul, e é encontrado em toda a região Centro-Oeste e nos estados de Rondônia (ao leste), Pará (sudoeste), Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia (oeste), Ceará (sul), e nos cerrados de São Paulo e Paraná. Em Goiás podem ser encontradas todas as variedades, cuja frutificação ocorre entre os meses de setembro e fevereiro. Está na lista de espécies ameaçadas do estado de São Paulo. É encontrada também na Bolívia (www.wikipedia.org). 

No estado do Tocantins há uma cidade com o nome de Pequizeiro em homenagem à árvore, onde se celebra a festa do pequi todos os anos (id.).

O pequizeiro é arvore protegida por lei (Portaria no. 54 de 03.03.87 – IBDF – ) que impede seu corte e comercialização em todo o Território Nacional.

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LOTE DE PEQUIS A ESPERA DE SEUS FÃS GASTRONÔMICOS.

Por seu cheiro forte e marcante e principalmente por causa da pronúncia de seu nome, o pequi foi objeto de muitas músicas de forró com duplo sentido nos anos 1970, notadamente no Ceará. Era Sopa de Pequi (Edson Duarte), Pequi (Zenilton), etc. Ficou famoso o malicioso bordão onde as mulheres do pequi tão?

É talvez o único produto alimentício natural que não tenha meio termo tipo gosto mais ou menos. Ou se adora o pequi ou se detesta, neste último caso, pelo seu cheiro forte e marcante.

No Piauí, onde as principais safras ocorrem nos três primeiros meses do ano, as principais festas do Pequi ocorrem na cidade de Palmeirais, às margens do rio Parnaíba, ao sul de Teresina e no local Assentamento das Mulheres Organizadas, zona rural de Piripiri-PI, norte do Estado, já na sua V edição.

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FESTIVAL DO PEQUI 2015 NO ASSENTAMENTO DAS MULHERES ORGANIZADAS, EM PIRIPIRI-PI. UMA MULTIDÃO TÃO GRANDE NÃO FAZIA PARTE DO PLANEJAMENTO DAS ORGANIZADORAS.

Em tempos antigos, além de fonte de alimentação, era utilizado notadamente como matéria prima para sabão caseiro e produção de óleo medicinal voltado para gripe e afecções.

Segundo a EMATER (www.emater.mg.gov.br), estas são as principais utilidades do pequizeiro, que como a carnaubeira, dela se aproveita tudo:

Raiz: é toxica e, quando macerada, serve para matar peixes;

Madeira: fornece dormentes, postes, peças para carro-de-boi, construção naval e civil e obras de arte (seu corte hoje é proibido); suas cinzas produzem potassa utilizada no preparo de sabões caseiros;

Folhas: adstringentes, que estimulam a secreção da bílis;

Fruto: produz óleo empregado como condimento no preparo de arroz e carnes, contendo proteínas, açucares, vitaminas A, Tiamina, sais de cálcio, ferro e cobre. É empregado no combate a gripes e resfriados;

Sementes: fornecem óleo (manteiga de pequiá), possuindo ainda propriedades aromáticas e sendo utilizadas no preparo de licores;

Casca: fornece tinta, de cor acastanhada, utilizada pelos artesãos no tingimento de algodão e lã.

Recentemente uma informação não confirmada circulou que foi descoberta uma propriedade do óleo de pequi que, antes mesmo de poder ser explorada pelo Brasil, já foi patenteada por japoneses. Ela foi recentemente batizada de CSL (chemical strengthener layer). Segundo as pesquisas, basta adicionar cinquenta mililitros de óleo de pequi a 4l de óleo mineral para que se consiga o efeito da superdureza em qualquer material metálico, aumentando, inclusive, a carga de molas se for aplicado uniformemente. Existem testes em motores com cabeçotes totalmente originais girando mais de 10 000 rotações por minuto sem indícios de fadiga ou quebra (www.wikipedia.org).

Sua polpa macia e saborosa deve ser comida com bastante cuidado, uma vez que a mesma recobre uma camada de finos espinhos que, se mordidos, fincam-se na língua e no céu da boca, provocando dores intensas, risco este que deixa de existir, uma vez assimilada a técnica de degustação que é de fácil aprendizado. Deve ser comido apenas com as mãos, jamais com talheres. Deve ser levado a boca para então ser “raspado” – cuidadosamente – com os dentes, até que a parte amarela comece a ficar esbranquiçada e parar antes que os espinhos possam ser vistos (id).

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A CASTANHA BRANCA LITERALMENTE CERCADA POR MILHARES DE AGUÇADOS E PERIGOSOS ESPINHOS. FONTE: aquiondeeumoro.wordpress.com

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DURANTE A DEGUSTAÇÃO DO DELICIOSO FRUTO, TODO CUIDADO É POUCO, PARA NÃO OCORREREM RISCOS DE LACERANTES ESPINHAS SE CRAVARAM NA BOCA, NOTADAMENTE NA LÍNGUA. FONTE: come-se.blogspot.com

Culinária à base de pequi: A amêndoa é uma castanha saborosa; chocolates; misturado ao arroz para baião de dois ou Maria Isabel; doces; chocolates; bombons; cozidão de carne de vaca, de carneiro e galinha ou capote caipira; torta; estrogonofe; licores; doces; compotas, sorvetes, etc.

Como ocorre em época restrita do ano, no máximo de 3-5 meses, muitos retiram o fruto de sua casca e os congelam em sacos plásticos por meses. Assim a ausência da safra é amenizada para os pequitófilos. Recentemente também estão retirando somente a polpa para conservas, a ser utilizada misturada aos alimentos.

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PEQUIS CONGELADOS E ACONDICIONADOS EM SACOS PLÁSTICOS DURAM MESES NO FREEZER.

Os principais derivados e pratos comestíveis do pequi podem ser observados nas imagens abaixo:

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DOCES, LICORES E CHOCOLATES DE PEQUI. ASSENTAMENTO DAS MULHERES ORGANIZADAS, PIRIPIRI-PI.

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UMA NOVIDADE, COMPOTA COM A POLPA DO PIQUI.

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AQUI OS PEQUIS, JÁ COZIDOS, EM PREPARAÇÃO PARA SER ADICIONADOS A CARNES E ARROZ.

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ESTE É UM CREME DE GALINHA COM PEQUI.

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PANELA COM GALINHA CAIPIRA E PEQUI. UMA DELÍCIA.

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ARROZ DE PEQUI COM FRANGO.

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A DELICIOSA FEIJOADA COM PEQUI.

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BAIÃO DE DOIS COM PEQUI.

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PAÇOCA TEMPERADA COM LASCAS DA POLPA DE PEQUI.

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OS PRODUTOS CULINÁRIOS A BASE DE PEQUI SÃO PRODUZIDOS NESTES RÚSTICOS FOGÕES A LENHA.

Mais uma vez, no domingo 15 de março de 2015 das 08:00 horas até as 17:00 horas o piripiriense das zonas rural e urbana foram contemplados com o excelente Festival do Pequi, na comunidade rural Assentamento das Mulheres Organizadas, cerca de 06 km da BR-343, partindo do Bairro Crioli, em Piripiri-PI. Para ali convergiu uma multidão não esperada pelo Assentamento, composta não só por apreciadores do pequi, mas também por curiosos, atraídos pela movimentação e pela mídia.

Pena que os organizadores do evento não tenha se preparado para a crescente expansão do Festival, o que se manifestou na forma de falta de espaço, superlotação em área restrita, trânsito caótico e principalmente, falta dos deliciosos alimentos além da ausência de mesas e cadeiras em número suficiente. Menos da metade das pessoas que se dispuseram a enfrentar uma longa e irritante fila à espera de ser contemplado com um prato das delícias do pequi teve seu intento alcançado. Para os centenas ou milhares de outros, só restou a frustação.

Com certeza que essa lamentável falta de visão e planejamento não se repetirá no próximo ano, e o aspecto negativo e caótico do festival deste ano será suprimido por um festejo mais bem organizado e eficiente em 2016. Mesmo porque o evento já se integrou definitivamente no calendário turístico-gastronômico do Município, atraindo cada vez mais não só piripirienses, mas também turistas de municípios vizinhos e distantes.