Piauí, Brasil e Califórnia, EUA: as amostras de desenhos rupestres similares, existentes em lugares geograficamente distantes

Além dos autores dos grafismos e das suas datações, um outro aspecto bastante relevante e que atiça a curiosidade dos apaixonados por arte rupestre, são as formas como se apresentam os desenhos. São através das observações das formas que se busca entender os significados dos símbolos rupestres, sejam eles pinturas ou gravuras.

Algumas formas, como por exemplo: mãos, símbolos geométricos, soliformes, zoomorfos e antropomorfos são bem mais fáceis de serem associados. No entanto, existem outros símbolos bem mais abstratos, que tornam a tentativa de significação bem subjetiva.

Para além das significações, um outro detalhe relacionado às formas, é a existência de desenhos similares em lugares geograficamente distintos e muitas vezes milhares de quilômetros distantes. Tenho observado alguns exemplos durante a catalogação de sítios arqueológicos para a base do Projeto Artes do Bitorocaia (link no final desse texto).

Uma boa amostra disso, são os dois desenhos abaixo, localizados a cerca de 9.300 quilômetros de distância. Apresenta um traço na vertical com um detalhe superior, se assemelhando ao caractere numérico “1” e no meio do traço vertical tem um círculo. Também pode ser a representação de um pássaro estilizado.

Gravura rupestre de Swansea, Califórnia – EUA e pintura rupestres de São Roque, Piracuruca – Piauí – Brasil. Apresentam formas bem similares.

Também uma outra semelhança entre grafismos rupestres da Califórnia nos Estados Unidos e Piauí no Brasil. Dessa vez, uma pintura de um ser, meio zoomórfico, meio antropomórfico atribuída ao povo Chumash do sul da Califórnia – EUA, se assemelha a outra pintura existente em Buriti dos Cavalos – Piripiri – Piauí – Brasil. Cerca de 9.400 quilômetros separam as duas pinturas.

Uma diferença entre os dois símbolos é a quantidade de dedos, a figura do povo Chumash apresenta 5 dedos, enquanto que a figura piauiense apresenta 3 dedos.

Cerro Azul na Colômbia e Serra do Morcego no Brasil

Traçados bem semelhantes de duas séries de segmentos de reta com traçados poligonais, são vistos em dois Sítios Arqueológicos da América do Sul, o primeiro em Cerro Azul na Selva Colombiana e o outro na Serra do Morcego no município de Caxingó, no norte do Estado do Piauí – Brasil. Cerca de 3.500 quilômetros separam essas duas pinturas.

Localizado em Guaviare na Selva Colombiana, Cerro Azul passou a ser chamado de a “Capela Sistina” da pintura rupestre. Já a Serra do Morcego, ostenta um dos maiores acervos de arte rupestre do Piauí.

Algumas pinturas semelhantes dentro do Estado do Piauí

Pinturas rupestres com desenhos soliformes bastante semelhantes. O da esquerda no Sítio Arataca (Sopé da Serra da Ibiapaba) e o da direita no PARNA Sete Cidades. Aproximadamente 50 km separam os dois sóis.
Pinturas em formato de cruz com borda. A da esquerda é do sítio arqueológico da Pedra Ferrada – Lapa – Pedro II, a da direita é do sitio arqueológico do Arco do Covão – Serra do Morcego – Caxingó. Cerca de 150 km separam essas duas pinturas.
Pinturas de características fitomorficas (estrutura semelhante às plantas, neste caso flores). A de cima fica na Serra Negra no PARNA Sete Cidades e a de baixo fica na Serra do Morcego – Caxingó. Cerca de 80 km aproximadamente separam as duas pinturas.
Pinturas com traços abstratos e bem semelhantes, as chamo de “drone”. A da esquerda fica no Sítio do Canto, na ZI do Parna Sete Cidades, a da direita fica na Pedra Ferrada, na localidade Lapa no município de Pedro II. Cerca de 90 km separam as duas.

Enfim, essas semelhanças despertam o fascínio dos amantes da arte rupestre, desenhos tão distantes geograficamente e ao mesmo tempo tão próximos na consciência coletiva dos nossos ancestrais.

Artes do Bitorocaia