O ano de 1932 foi de desagradáveis acontecimentos. Piripiri perdeu vários filhos, alguns desconhecidos e outros que deixaram sua marca na história do município, como João de Freitas e Silva, Coronel Thomaz Rebello e sua filha Cassiana Rocha.
Também aquele período ficou conhecido como o ano de umas das piores secas que o Piauí enfrentou, talvez até maior que as secas de 1915 e 1877.
Foi nesse cenário de penúria que se inicia uma bonita história de devoção e fé.
Calixto era um pacato cidadão que residia na zona rural de Piripiri. Apesar de pobre, era uma pessoa caridosa.
Naquele verão contínuo de 1932, Calixto convida seu cunhado para acompanhá-lo numa pequena viagem à Periperi. Calixto sentia umas dores fortes na região do estômago e, por isso, evitava andar sozinho.
O motivo do deslocamento do interior para a “rua” (como era chamada a zona urbana) era para comprar alguns mantimentos para o sustento de sua família.
Na volta, Calixto sentindo fortes dores na região estomacal, pede para seu cunhado levar suas compras, pois o mesmo descansaria e, assim que melhorasse, seguiria seu caminho.
O cunhado obedece ao pedido de Calixto e faz o caminho de volta para casa, deixando Calixto sob a sombra de um crioli (árvore frutífera nativa de nossa região). Melhorando um pouco, Calixto deixa o local onde estava seguindo em direção a uma “mata de criolis” e lá, parando mais uma vez, é acometido por um dor lancinante. Com sede, fome, Calixto não resistiu muito tempo. Seu cunhado, estranhando a demora do amigo, retorna ao local onde deixara Calixto descansando, mas não o encontra. Anda em diversas direções e desiste da busca.
Próximo a essa mata de criolis, morava Dona Maria Generosa, mãe do adolescente Antônio Generosa. A humilde casa de Dona Maria Generosa foi levantada no local onde hoje está construído o prédio da extinta Cibrazem.
Antônio Gomes da Silva (Antônio Generosa), com então quinze anos de idade, caçava de baladeira próximo a sua casa. Ao acertar uma rolinha, Antônio sai à procura da pequena ave, mas não a encontra. Resolve procurar mais adiante, em direção à mata de criolis (onde hoje funciona o supermercado “Comercial Carvalho”) quando sente um forte e desagradável cheiro. Ao se aproximar do local, depara-se com o corpo de Calixto, já em estado de decomposição. Os urubus já estavam furando o corpo.
Como era costume da época, os presos enterraram o cadáver. Seu corpo foi sepultado no mesmo local onde fora encontrado. No local não havia ruas, somente estreitos caminhos e veredas pelos quais transitavam poucas pessoas.
O exato local onde Calixto faleceu fica próximo à margem da Rua Coronel Antônio Coelho e a poucos metros da esquina da referida rua com a Rua Diógenes Coelho.
O local do túmulo foi, em pouco tempo, bastante frequentado por devotos, que depositavam oferendas e ex-votos, rezavam terços, soltavam foguetes. O fluxo de pessoas era maior nas segundas-feiras (possivelmente o dia em que foi sepultado).
Corina Rodrigues da Silva, filha do Sr. Joaquim Rodrigues da Silva (Joaquim Bicudo, já falecido) cansou de ouvir seu pai contar essa história. Segundo Corina, seu pai era amigo de Calixto e de seu Antônio Generosa. Ela sempre ouvia seu Joaquim comentar que Calixto não consumia bebidas alcoólicas. Corina não consegue recordar o nome do cunhado de Calixto nem de sua esposa. Mas ouviu seu pai dizer que a esposa de Calixto só visitou o túmulo na visita de um ano. Também não recorda o nome do interior que Calixto morava, mas sabe que é deste município de Piripiri.
Um fato interessante, dentre as várias graças e milagres alcançados por quem fez promessas ao “santo”, foi o do recruta Patriota (já falecido). Conta Dona Corina que o Sr. Patriota servia o Exército em Teresina, quando foi acusado de furtar um colar de ouro de seu comandante. O recruta foi ameaçado de todas as formas por seu comandante, mesmo negando a autoria do furto. O comandante deu um último prazo para o desvalido recruta: na manhã seguinte seria submetido a um interrogatório, ocasião em que, se não confessasse sofreria terríveis consequências.
Patriota, preso em uma cela do quartel, lembra-se dos milagres atribuídos ao Santo de Piripiri. Faz um pedido à alma de Calixto, que se “escapasse” daquela enrascada, construiria um cruzeiro e uma casinha (para guardar as oferendas e ex-votos depositados no local do túmulo de Calixto).
Na manhã seguinte, aparecem dois soldados para conduzirem Patriota à presença do irado comandante. Penalizado com a situação injusta do recruta e com uma forte crise de consciência, um cabo do Exército devolve o colar de ouro ao comandante, assumindo o furto do objeto.
Desgostoso com o constrangimento pelo qual passara, Patriota abandona o sonho de seguir carreira militar e retorna a Piripiri. Em nossa Cidade, Patriota cumpre o que prometera a Calixto e constrói no local de sua sepultura, um cruzeiro e uma casinha.
O prefeito Jônatas Melo (nascido no mesmo ano do falecimento de Calixto), por ocasião de sua segunda administração, faz uma doação do terreno onde estava sepultado o corpo de Calixto a um senhor (cujo nome será omitido).
Essa pessoa nega que o túmulo estivesse no local de sua casa, mas o certo mesmo é que à medida que as casas foram sendo construídas, as oferendas e ex-votos iam sendo “empurradas” em direção à esquina contrária (Rua Cel Antônio Coelho com Rua Licínio de Brito Melo). Hoje, as oferendas e ex-votos oferecidos ao Santo de Piripiri perderam-se “pelo caminho”. Não existe mais o cruzeiro e a casinha é lembrada apenas por um pedacinho de parede colocado sob a sombra de frondosa castanhola, plantada na lateral oeste da Rua Licínio de Brito Melo, atrás do prédio do novo “Complexo de Delegacias de Piripiri”. A alma de Calixto, a quem á atribuída vários milagres e graças, ainda hoje é venerada.
Créditos: Informações prestadas por: Corina Rodrigues da Silva, Luís Rodrigues da Silva, Armilo de Sousa Cavalcante e Maria das Graças Silva (Graça Generosa).
Publicado originalmente em www.cliquepiripiri.com.br/categorias/almanaque-de-piripiri