O Sítio Anajás foi, provisoriamente, a primeira morada do Padre Freitas. O lugar chamou a atenção do sacerdote que, aproveitando o potencial hídrico do local, instalou engenho de cana e aviamentos para a produção de farinha.
O aprazível sítio, além de se tornar famoso pelo fabrico de aguardente, foi palco de duas curiosas lendas: “O Galo da Apertada Hora” e “O Crucifixo de Ouro”.
O GALO DA APERTADA HORA
Em tempos remotos, os negros (cativos e libertos) festejavam Nossa Senhora do Rosário, em alegre procissão, realizada todos os anos no dia 27 de dezembro. A imagem da santa saía do Sítio Anajás e o cortejo seguia em direção a Peripery.
Em determinado ponto da antiga estrada, à margem de um pequeno morro, o caminho estreitava-se, tornando o percurso ainda mais difícil.
Aquele pequeno trajeto era temido pelos moradores da região, que se programavam com antecedência para que a procissão passasse por aquela vereda ainda em dia claro. O medo era ainda maior se o dia 27 de dezembro coincidisse em uma sexta-feira.
A razão para tanto medo era a crença em uma história fantástica. Acreditava-se que, no pedaço mais estreito da extinta estrada, conhecido como “Apertada Hora”, aparecia um galo encantado. O galo encapetado surgia nas noites dessas sextas-feiras. A terrível ave poderia aparecer só ou acompanhada por sua companheira, uma valente galinha.
Poucas pessoas escaparam dos ataques das macabras aves, que se atiravam com fúria sobre os desvalidos romeiros, usando seus enormes e pontiagudos esporões. O galo era o mais perverso, pois só parava os ataques quando a desamparada vítima falecia.
Hoje, o caminho que passava pela “Apertada Hora” foi abandonado e está coberto pela vegetação. Não se fala mais no terrível galo e seus esporões fatais.
O CRUCIFIXO DE OURO DO PADRE FREITAS
Daniel Rezende, bisneto de Júlio Rezende, conta que antigos moradores do Sítio Anajás acreditavam em aparições fantasmagóricas de um ser, que, supostamente, seria o espírito do Padre Freitas.
Paralelamente a essas aparições, acreditava-se também que, em algum lugar do sítio, estaria enterrado um crucifixo de ouro, que pertencera ao Padre Freitas.
Estariam essas supostas aparições do Padre Freitas relacionadas ao crucifixo enterrado. Seria uma botija? Isso, nunca saberemos.
É sabido, no entanto, que o sacerdote possuíra um crucifixo de ouro, pois a joia está descrita em seu testamento, feito em cinco de novembro de 1862, seis anos antes de sua morte, em 26 de dezembro de 1868.
Estará o tal crucifixo enterrado no sítio ou em poder de alguém da família? Esta é uma pergunta que dificilmente terá resposta
→ Crédito: Informações extraídas dos livros: “Piripiri” e “O Padre Freitas de Piripiri”, ambos de Judith Santana e “Memórias de Piripiri”, de Cléa Rezende Neves de Mello; informações prestadas por Daniel Rezende. Fotos e Imagens: Arquivo pessoal. Obs.: A foto de Domingos de Freitas e Silva Júnior foi escaneada (e melhorada) do livro “O Padre Freitas de Piripiri”, de Judith Santana.
Postado originalmente na Sexta, 28 de Dezembro de 2012, 20:52 h por: Evonaldo Andrade em Almanaque de Piripiri.