Dachaga um vaqueiro aboiador
Cortava o mato no lombo do faísca
Se a coragem é a prova de quem se arrisca
A doidiça é a prova de quem tem amor
Amava Dardô a filha do capataz
Por ela tinha grande distinção
Uma cabôca de grande coração
Mas chegar perto ninguém era capaz
Campiando perto da casa de morada
Dachaga passava ligeiro oiando
Via Dardô com o sorriso acenando
Era desse jeito que os dois paquerava
Uma donzela de olhar quente
Boca molhada um favo de mel
Corpo contorno a montanha e o céu
Pele morena e jeito inocente
Seu pai Zé Bindito, um viúvo zangando
Poço chei de soberba, sujeito amargoso
Com raiva soltava um brado nervoso
Em minha fia num bole, aquele safado
Humilhava Dachaga como podia
Um pobre sem uma rede pra morrer
Num pode a minha fia escoiêr
Num quero nem sonhá com esse dia
Tem que ser home rico e de condição
Pra tirar a Dardô de perto de mim
Por isso eu digo agora assim
E a esse Dachaga jogo a maldição
Vai padicer de uma peste e aleijar
E nunca mais passar em minha porta
Vai ficar cego, mudo e da perna torta
Desse jeito ele vai se ajeitar
Assim se formou uma contenda
Dardô crescendo o desejo
Dachaga insistindo no cortejo
Sem medo da praga estupenda
Quando num dia de inverno
Zé Bindito saiu na alvorada
Atrás de uma rêis disgarrada
Gritou, valei-me meu pai eterno
Caiu num bueiro e dipindurado
Já via a morte chegar na enchente
Um sulavanco puxou ele de repente
Era o Dachaga que o tinha salvado
Levando pra casa o velho combalido
Dachaga encontra Dardô no caminho
Encontrei seu pai se afogando sozinho
Se não tiro, ele tinha morrido
Zé Bindito oia com jeito choroso
Diz meu Deus, me perdoa pela praga
Se o vaqueiro pegasse aquela chaga
Afogado eu tava, num fim doloroso
Home me desculpa, você é de verdade
Tome agora a mão da minha Dardô
Mas trate ela com ternura e amor
E não me deixe morrer de saudade
F Gerson Meneses – 08/04/2019