Ensaio de cordel: sou comboieiro da Ibiapaba

Vou pegar o meu comboio e partir,
mais uma vez vou até o Maranhão,
dezesseis dias rasgando o sertão,
descendo a Ibiapaba rumo ao Piauí.

Tou levando da cachaça ao alimento,
tecido, fumo de corda e café de caroço,
rapadura, chinelo e até meu almoço,
tudo isso inriba de seis jumento.

Comboiando pela beira do Arabê,
pernoitando em tapera e em fazenda,
devagarzinho fazendo minhas venda,
apurando o do bolso e o de comer.

Muito antes de carro e de cidade,
eu já andava por aí comboiando,
batendo perna, sofrendo e sonhando,
nessa rota de poeira e de saudade.

Sempre que tiver no mato assuntando
e ouvir um estalo seco e rasteiro,
é a macaca na mão dos arrieiro,
do meu comboio que tá passando.

F Gerson Meneses
maio de 2024 – Disponível no livro “O ARGONAUTA de si mesmo”

Ilustração: Jason Fontenele