A Rua da Goela em Piracuruca, ainda tem jeito de sobreviver como um patrimônio histórico?

Resposta: sim! E não é por falta de ideias.

No Brasil, ainda existem várias cidades que mantém o seu casario parcialmente preservado, como exemplos, as cidades de: Ouro Preto e São João Del Rei em Minas Gerais, Petrópolis e Paraty no Rio de Janeiro. No Nordestes posso citar: Olinda em Pernambuco, Penedo em Alagoas, Rio das Contas na Bahia, Laranjeiras em Sergipe, Alcântara no Maranhão.

Diamantina-MG e Parati-RJ, são somente alguns exemplos, dentro de um pequeno universo de dezenas e talvez centenas de cidades que ainda preservam suas ruas históricas e assim, usam esta particularidade para atrair turistas, fortalecendo a economia local. Fonte: https://viagemeturismo.abril.com.br/brasil/fotos-conheca-29-cidades-historicas-do-brasil

No Piauí, o exemplo mais digno de ser lembrado é o da cidade de Pedro II, este município do norte do Piauí fica em região de serra e além de belos atrativos naturais, mantém parte do seu casario preservado. Pedro II todo ano sedia um dos maiores festivais do Piauí, o Festival de Inverno de Pedro II, que já é tradição, atraindo um grande número de visitantes e consequentemente, divisas para a cidade.

Durante visita ao centro histórico de Pedro II.

Piracuruca, por ser uma das cidades mais antigas do Piauí e ainda apresentar traços físicos bem definidos de suas origens evidenciados no seu casario, teria tudo para estar nesta lista, no entanto, não se vê nenhuma ação neste sentido. O centro histórico da cidade é tombado desde 2012, mas de nada adianta, pelo contrário, já escrevi aqui no Portal algumas linhas sobre a indiferença que a comunidade demonstra sobre isto e coloco abaixo para quem tiver interesse. O foco aqui deste texto é falar especificamente da Rua da Goela.

Por ser a primeira rua da cidade, a Rua João Martiniano (Rua da Goela) era um movimentado ponto de encontro e passagem de procissões. Como por exemplo, o visto nestas fotografias da primeira metade do século passado.

A Rua da Goela recebe essa denominação devido à sua largura apertada, tendo sido planejada antes do advento dos automóveis, foi nela onde funcionou o primeiro mercado da cidade. Ela faz a ligação em linha reta lateral, da frente da Igreja de Nossa Senhora do Carmo ao cemitério “Campo da Saudade”. A seguir uma série de retratos da Rua da Goela em momentos distintos da história da Piracuruca.

A Rua da Goela em três momentos, aproximadamente no mesmo enquadramento: Em “a” 1913 (aproximadamente), em “b” 2000 e em “c” abril de 2020.

Bom, conforme se observa na série de retratos acima, a Rua da Goela permaneceu com o seu casario bem preservado até o início dos anos 2000, daí em diante, houve um acelerado processo de descaracterização, a começar pelo desaparecimento da casa onde morou por último e tinha um comércio o Sr. Argemiro Avelino. A casa, primeira à direta, foi demolida para dar lugar à parede de um prédio. Agora por último, bem recente, para o bem da mobilidade urbana, jogaram asfalto na Rua da Goela.

No local onde havia uma casa de esquina com a rua Rui Barbosa, onde morou por último o Sr. Argemiro Avelino, hoje é a parede lateral de um prédio.
Rua da Goela hoje, asfaltada…
…e com algumas de suas residências fechadas e em péssimo estado de conservação.

Parece que olharam para a Rua da Goela, desconsideraram a importância do seu passado e quiseram assinar o seu atestado de óbito como patrimônio histórico da cidade. Mas, será que ainda tem jeito?

Creio que sim, quando se quer, tudo tem um jeito. Acredito que com essa nova eleição de 2024, temos uma oportunidade de mudar essa desconsideração histórica para com a Rua da Goela, pois, qualquer que seja a ação a ser realizada, deverá ter o poder público à frente, com o apoio da comunidade. Portanto, aí vai depender dos eleitos, prefeito e vereadores.

Pois então, o que realmente deveria ser feito na Rua da Goela?

Pelo menos o trecho entre as ruas Rui Barbosa e José de Morais Meneses deveria ser revitalizado! Como?

O poder público em parceria com os proprietários deveria patrocinar a reforma das casas e calçadas. Alguns casarões poderiam ser adquiridos pela prefeitura junto aos moradores, principalmente aqueles que estão em pior estado e sem moradores, estes deveriam ser restaurados e transformados em galerias, para que os artistas e artesão locais possam expor seus produtos e também um memorial, contando a história da rua.

O asfalto, pelo menos deste trecho, deveria ser retirado e colocado ladrilhos e nas calçadas, poderiam ser colocados os lampiões para deixar a rua mais característica. A casa onde morou o Sr. Argemiro, a única da rua que foi demolida, seria retratada na parede do prédio que foi construído, seria apenas uma pintura, mas daria um aspecto bem interessante e valorizava a rua.

A partir de então a Rua da Goela passaria a ser um retrato vivo da nossa história e um ponto de visitação aos turistas que quisessem conhecer a primeira rua da cidade de Piracuruca.

Não vai ser por falta de ideias.

Em tempo: a seguir, o link para a matéria “Rua da Goela: O apogeu e a decadência da rua mais antiga de Piracuruca”.

Rua da Goela: O apogeu e a decadência da rua mais antiga de Piracuruca

Outros links:

Centro Histórico de Piracuruca foi tombado e parte dele está “tombando”

A velha guerra piracurucal contra a sua história, o turismo e a cultura