João Siana e seu pangaré de ouro, um dos vaqueiros mais antigos de Cocal-Piauí

A cidade de Cocal tem crescido muito nos últimos anos. Aumentou o tráfego de carros, motos e bicicletas. As ruas sinalizadas com semáforos denotam o crescimento vertiginoso dela. Pouco se vê alguém montado em animal pelas ruas da cidade. Ruas asfaltadas e limpas. Mas, diante de tanto desenvolvimento, é fácil, diariamente, nos depararmos com uma dupla bastante conhecida na cidade. É seu João Siana e seu pangaré de ouro. O nosso protagonista é um dos vaqueiros mais antigos do lugar, e com toda modernidade, não abandonou a vida simples de homem do campo.

Todos os dias João Siana sai para o serviço, levando em suas pernas um saco de ração para seus animais que ficam nos arredores da cidade. Desfila, majestosamente, sobre o lombo de seu companheiro fiel, sentado cuidadosamente sobre seu dorso, bem forrado com uma manta para não machucá-lo. Homem e animal trafegam calmamente pelas ruas da cidade. Mas para os visitantes que trafegam pela região, poderão tomar um susto com aquele cavalo de uma orelha só, meio tropo e que transporta um homem, muitas vezes, cambaleando ou dormindo em seu dorso, após um dia de serviço.

Antigo vaqueiro da região nunca deixou seus costumes. Já aposentado, 83 anos de vida dedicada ao campo, ainda cultiva a paixão da criação de algumas cabeças de gado. Diariamente, como uma penitência, desloca -se, nos primeiros raios de sol para o trabalho, voltando tardiamente. No retorno a sua casa, sempre dá uma paradinha no bar de um amigo para refrescar a memória, ou seja, tomar uma boa cachaça serrana, enquanto seu pangaré de ouro fica do lado de fora, aguardando-o, pacientemente. Surdo, quase não dialoga com os companheiros. Num trago e outro, o tempo vai passando. Na hora de retornar, umas doses a mais dificultam sua subida no seu cavalo, que o espera, tranquilamente,, para levá-lo para casa. Sem muitas dificuldades, os amigos o ajudam de vez em quando a subir no dorso do animal, e dali, sem nenhuma ordem, o amigo quadrúpede, inicia a caminhada de volta ao lar.

Alguns companheiros de farra gritam de longe, esperneiam-se
_____ Segura, João Siana. Se cair, o cavalo não te apara. E assim, o velho vaqueiro, sem olhar para traz, desloca-se confiando apenas no seu fiel amigo.

Sem rédea, o cavalo segue seu trôpego caminhar rua a baixo, mais sem errar o trajeto. Leva o companheiro para casa. Na caminhada pelas ruas principais, uma cena chama atenção. Sem nenhuma ordem de comando, o cavalo ao se aproximar do semáforo, para a alguns metros da faixa de pedestre e fica imóvel como se esperasse o sinal abrir novamente. Os curiosos observam detalhadamente as duas figuras e juram que quando o sinal vermelho acende, proibindo a passagem dos carros, o pangaré reinicia sua caminhada para casa. Até o momento nenhum cientista, estudante ou curioso tentou explicar tal fenômeno. Será que o cavalo consegue definir as cores vermelhas e verdes derrubando todo os estudos científicos da visão incolor de um animal, ou apenas, instintivamente, ele observa a parada dos carros, permitindo sua passagem?

O certo é que todos se admiram do fato. Mas se você acha que termina por aí, está enganado. Logo ao chegar em casa, seu João amarra o amigo em um antigo pé de amêndoa, logo à frente de sua casa. O estranho, é que antes era um terreno baldio, e agora se tornou uma das principais praças da cidade. Cercada de museus, quiosques, parques, restaurantes, etc. Mas quem acha que alguém ouse proibir seu João Siana de colocar o animal ali, se engana. Mesmo existindo uma lei municipal que proíba tal fato. Qualquer animal deve ser expulso ou preso e recambiado pela correição do município para o curral municipal, sob risco de ter que pagar fiança, mas, menos o pangaré de ouro. Ele tem direito adquirido.

Quando visitares a cidade e passarem ao lado do museu, não se assustem ao verem o velho pangaré, parado como uma estátua em pé, glorificando a profissão de cavalo de vaqueiro. Ele está esperando calmamente seu João Siana para mais um passeio. E há pessoas que juram de pé junto que enquanto o seu proprietário não vier apanhá-lo, ele ficará imóvel como uma estátua. Nem ao menos fará suas necessidades vitais. Pois ele é o pangaré de Ouro de seu João Siana. Patrimônio Cultural de Cocal.

O Pangaré de Ouro de João Siana