O Jobel do Bispado da Parnaíba

1945 – 2020: 75 Anos da Instalação da Dioecesis Parnaibensis
1770 – 2020: 250 Anos da Igreja de N S Mãe da Divina Graça

Neste ano de 2020, a cidade da Parnaíba, no Norte do Piauí, tem a honra de festejar o Jubileu da Instalação de seu Bispado, e também os 250 Anos da construção de sua Igreja-Catedral de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça, trabalhos iniciados no distante 1770.

O Ano Jubilar se abre com toque de trombeta, chamada Jobel, daí o nome jubileu, prática antiga em Israel que era celebrado a cada sete anos. O tempo era de se reconciliar com Deus e com o próximo, de perdoar dívidas, libertar escravos, ajudar aos carentes. Na Bíblia, o Livro Sagrado dos católicos, temos referência em Levítico 25: 1-17. O Ano Santo passou a ser comemorado a cada cinquenta anos, mas na nova legislação, e para que mais cristãos participem, o Jubileu é celebrado a cada 25 anos. Em Lucas 4: 18-19, Jesus anuncia o Ano da Graça como sendo o início do seu ministério, o Tempo Jubilar, tempo de novos relacionamentos com Deus e com os outros, principalmente com os mais sofredores e necessitados.


Antiga Praça da Graça, no Centro Histórico da cidade da Parnaíba, onde se vê ao fundo a Igreja-Catedral de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça. Imagem: biblioteca / IBGE.

O Piauí por muito tempo foi administrado espiritualmente por outras capitanias. No começo, Pernambuco, de 1696 até 1728; depois, o território piauiense ficou na dependência dos superiores do Maranhão, embora o pedido dos parnaibanos para construção da capela de Nossa Senhora de Monserrathe da Parnahiba tenha sido dirigido à Cúria de São Luís em 1711. Em 1822, no dia 14 de setembro, o deputado piauiense Miguel Borges Leal Castelo Branco, sem saber da Independência do Brasil, apresentou às Cortes de Lisboa, um projeto para criação da Diocese do Piauí, desanexada do Bispado do Maranhão. A partir de então o tema para os piauienses passou a ser recorrente.

Corria o final do século XIX, quando os parnaibanos se moveram para criação de uma Diocese no Piauí. Foi dirigido ao Santíssimo Padre Leão XIII um memorial datado de 27 de julho de 1898, onde “tiveram a feliz ideia da criação de um bispado”, documento assinado pelos habitantes das paróquias de N S da Graça da Parnaíba, N S da Conceição da vila da Amarração (hoje cidade de Luís Correia), e N S dos Remédios da vila do Burity (atual cidade de Buriti dos Lopes). Toda sociedade parnaibana se mobilizou, mas foi convencida de que a sede deveria ficar na capital Teresina, e assim repassaram para o patrimônio do agora Bispado do Piauí, a vultosa quantia de três contos de réis.

Em 1942, dois anos antes do centenário da elevação da vila de São João da Parnahiba à categoria de cidade, a sociedade parnaibana se une novamente em prol do seu Bispado. Uma campanha memorável presidida pelo Monsenhor Roberto Lopes arrecadou outra vez fundos para criação de uma Diocese constituída das Paróquias da Parnaíba, Luís Correia, Buriti dos Lopes, Piracuruca, Luzilândia, Batalha, Piripiri, Pedro II e Barras. No final do ano em que se celebrava o centenário, no dia 16 de dezembro de 1944, o Papa Pio XII cria a Dioecesis Parnaibensis através da Bula Ad Dominici gregis bonum, que em latim significa “para promover o bem do rebanho do Senhor”. Toda a cidade freme de alegria.

A instalação canônica da Diocese da Parnaíba se deu no claro 8 de setembro de 1945, dia da Festa da Natividade de Nossa Senhora, sendo a padroeira – Nossa Senhora Mãe da Divina Graça. A solenidade foi presidida pelo Bispo de Teresina Dom Severino Vieira de Melo, acompanhado pelo vigário da Freguesia parnaibana Roberto Lopes, muitos padres, autoridades locais e do estado, além de grande concurso de povo. Dom Severino determinou que a festa em homenagem à padroeira dos parnaibanos se fizesse mesmo no dia 8 de setembro. Nomeou como primeiro vigário geral da Diocese, o padre Lindolfo Rodrigues de Souza Uchoa que permaneceu poucos meses no cargo. Assumiu o posto o Monsenhor Roberto Lopes que teve a missão de preparar a cidade para acolher o primeiro administrador de sua Diocese.

Parnaíba recebeu então o seu primeiro Bispo titular, que correspondeu a grandeza da cidade. Era o notável Dom Felipe Benício Condurú Pacheco, que foi pastor espiritual dos parnaibanos entre 1946 e 1959, era maranhense e chegou vindo de Ilhéus na Bahia, aonde tinha sido Bispo daquela Diocese. Trouxe consigo e distribuiu para os diocesanos, uma belíssima Carta Pastoral que demostrava conhecimento e carinho com Parnaíba, considerada por ele “cidade invicta”. Parnaíba abraçou Dom Felipe na sua chegada com grande concentração de populares na Praça da Graça. O carro que conduzia o Bispo estava destacado à frente do cortejo que contava com todo o clero, autoridades locais e estaduais, e por seleta representação da Bahia, do Ceará e do Maranhão

Dom Felipe deu início ao seu trabalho com visitas pastorais para melhor conhecer o rebanho do qual era Pastor. Comprou ações do Ginásio São Luiz Gonzaga para torná-lo diocesano, afim de melhor orientar a juventude. Criou as Paróquias de Cocal (1948), Porto (1948) e Matias Olímpio (1955); construiu o Seminário Diocesano; instalou o Paço Episcopal; e foi assíduo colaborador de jornais e do Almanaque da Parnaíba.

Em 1931, nas celebrações do 15º Centenário do Concílio de Éfeso que definiu no dia 11 de outubro de 431 d.C. o primeiro dos quatro Dogmas Marianos, o Papa Pio XI instituiu a Festa Litúrgica da Maternidade da Santíssima Virgem. Obedecendo a orientação do Santo Padre, Dom Felipe passou a celebrar o Dia da Padroeira no dia 11 de outubro. Mais recentemente, a data voltou a ser celebrada no dia 8 de setembro, também por conta da proximidade dos festejos em homenagem a São Francisco que acontecem na Paróquia de São Sebastião, entre 24 de setembro e 04 de outubro, em Parnaíba.

Dom Felipe foi também Bispo de Decoriana na Tunísia, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e sua biografia é extensa com muitos anos orientando o povo de Deus. Nos deixou trabalhos preciosos como: Vida de Dom Luís de Brito em três volumes, História Eclesiástica do Maranhão, Relações entre o Poder Civil e Eclesiástico. Dom Felipe faleceu em 1972, e o jardim lateral da Igreja-Catedral da Parnaíba ostenta um busto de Dom Felipe, homenagem dos seus diocesanos, além de uma lápide numa das paredes da nave.


Dom Felipe Condurú Pacheco.

Imagem do livro História Eclesiástica do Maranhão de 1968.

Depois de Dom Felipe, a Diocese da Parnaíba teve a orientação pastoral de Dom Paulo Hipólito de Souza Libório (1959-1980); Dom Edvaldo Gonçalves Amaral (1980-1985); Dom Joaquim Rufino do Rêgo (1985-2001); Dom Alfredo Schäffler (2001-2016); e agora conta com a luz de Dom Juarez Sousa da Silva.


Parnaíba recebendo Dom Felipe Condurú Pacheco no dia 7 de julho de 1946. A imagem mostra o momento em que o séquito se aproximava da Catedral na Praça da Graça, aonde o povo recepcionava o seu pastor espiritual.


Carta Pastoral de Dom Felipe Condurú Pacheco (E) saudando os seus diocesanos com Elogio de
Parnaíba editada em abril de 1946, em Belém do Pará. Livro História Eclesiástica do Maranhão (D) com 846 páginas.


Igreja-Catedral de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça. Parnaíba – Piauí.

Assim como o Brasil, que conta com a proteção especial de Nossa Senhora Aparecida, Parnaíba tem também a benção notável de suas padroeiras Nossa Senhora de Monserrathe da Parnahiba (1711 – 1770), e de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça, ambas Santíssimas Virgens parnaibanas.

HINO DE NOSSA SENHORA MÃE DA DIVINA GRAÇA
Um anjo anuncia fulgente de luz
Que a Virgem Maria é a Mãe de Jesus…
Ave, Ave, Ave Maria! Virgem da Graça nossa alegria!
O Verbo Divino então se encarnou
No seio virgíneo Maria O guardou…
Então toda graça que vem lá do céu
Pela Virgem passa, pois é sem labéu…
Feliz Parnaíba que na Mãe da Graça
Favores preliba na vida que passa…