Nem a criatividade fenomenal do proto-italiano Leonardo da Vinci (1452-1519) e nem a fértil imaginação do francês Júlio Verne (1828-1905). Nenhum deles conseguiu idealizar uma bicicleta voadora…Isso mesmo. Mas um piauiense o teria feito.
Um fantástico aparelho para levar o homem a qualquer canto do mundo, movido pelos músculos de seus próprios pilotos, é o que um piauiense de Miguel Alves, cidade do norte do Estado, tentou fabricar por volta de 1980, chegando a elaborar um projeto para tal portento tecnológico.
Segundo o arrojado inventor piauiense, para a conclusão do invento, faltavam apenas adquirir os recursos necessários à aquisição do material e que ele próprio afirmava serem apenas 25 mil cruzeiros, moeda daquela época.
O invento? Era a “biciplana”, geringonça voadora inspirada na dificuldade do brasileiro ante a crise dos combustíveis do final dos anos 1970 e início dos 1980.
O cérebro extraordinário desta invenção pertencia ao modesto mecânico de bicicletas, Fileno de Sousa.
FILENO DE SOUSA, O INVENTOR DA BICICLETA VOADORA. FONTE: JORNAL O DIA.
Fileno fazia questão de explicar que o seu aparelho voador não se baseava em nenhuma invenção daquelas que apareciam constantemente no programa da TV Globo, o “Fantástico”, afirmando possuir provas de que em 1961 já estudava um meio de voar num aparelho deste tipo.
O inventor foi descoberto pela reportagem do jornal teresinense O DIA em 1980, quando procurava um deputado na Assembleia, a quem mostrou duas cópias de seu projeto e pediu apoio para realizar o seu sonho de cientista amador. Disse ao jornal que em tempo algum recebeu qualquer apoio para levar a frente o seu intento e que o ex-governador Alberto Silva, embora tenha lhe oferecido ajuda, nunca liberou verbas alguma para o inventor.
Na explicação de Fileno para sua invenção, ele fazia questão de deixar claro que não admitia, em hipótese alguma, o uso de algum tipo de motor para fazer a navegação aérea. Segundo ele, “…isso não teria sentido, em se tratando de um invento moderno, para o homem do ano dois mil”.
E em que consistia este aparelho, que venceria a força da gravidade sem motor ou combustível? Fileno explicava que consistia numa estrutura de metal, com asas de alumínio e um sistema de propulsão á base de pedais e corrente. A mensageira que puxaria a corrente que vem com a roda traseira seria a mesma que levaria uma corrente a um comando de transmissão, que por sua vez colocaria em movimento duas turbinas laterais.
O inventor piauiense explicava também com muita clareza como seria feita a movimentação das asas e do leme de seu aparelho de voar. Seriam cabos de aço, cujo comando ficaria nos punhos de um simples guidão da bicicleta.
Fileno afirmava já haver tido sucesso em outras experiências mirabolantes de voo. Uma delas seria uma espécie de papagaio (pipa) de papel, de enorme tamanho, que chegou a ter um início de voo, tendo porém o inventor sido obrigado a cortar as cordas para não ir aos céus com ele…
A “biciplana” de Fileno foi projetada em miniatura e teria sido lançada ao ar através de um arco de flecha (?), com absoluto sucesso. A engenhoca “biciplana”, uma vez equilibrada no espaço, permitiria ao seu piloto o repouso necessário, pois a paralização dos pedais não implicaria na descida à terra. Para permanecer no ar teria o piloto que manter as asas e o leme em constantes manobras.
PROJETO GRÁFICO DA BICIPLANA DE FILENO. FONTE: JORNAL O DIA.
Fileno apresentou o seu projeto aeronáutico ao então deputado amarantino Homero Castelo Branco (n. 1943), explicando que todo o material para a fabricação da engenhoca seria adquirido em Teresina, ressaltando que as mensageiras, rolamentos, coroas, guidão e rodas deveriam ser compradas em lojas do gênero na Capital.
Acrescenta Fileno que testes feitos em miniaturas de “biciplana” demonstraram a condição de levantar voo em espaço de cinco metros, e que o invento poderia permanecer no espaço por qualquer tempo, inclusive a noite. O sistema de iluminação para a bicicleta voadora seria aquele usado em bicicletas comuns.
O fato é que nem o inventor fantasioso não conseguiu convencer ninguém da exequibilidade de seu projeto, caindo no mais completo abandono e esquecimento. Nunca mais se ouviu falar de Fileno ou de seu projeto.
É possível que o inventor ainda esteja vivo, pois há na cidade de Miguel Alves uma empreiteira com seu nome e ainda nas redes sociais uma mensagem de uma filha referindo-se ao pai com aquele nome, residente naquela Cidade. Nas entrevistas Fileno afirma que se apresentara ao serviço militar em 1961. Portanto, estima-se que possua hoje uns 71-72 anos.
Fileno não pôs em prática seu projeto. Mas curiosamente, de alguns anos para cá outros projetistas, com maiores tecnologias, verbas e dinamismo tem posto em prática protótipos de bicicletas voadoras. Porém, ao contrário daquelas do mecânico piauiense, todas estas modernas possuem motores e sistemas eletrônicos para alçar voo.
A COMPANHIA INGLESA XPLOREAIR LANÇOU A BICICLETA BATIZADA DE “PARAVELO” QUE PODERÁ VOAR ATÉ A 1.200 METROS DE ALTURA. FONTE: www.piauihoje.com
PROJETO DE BICICLETA VOADORA APRESENTADO EM 2012 POR INDÚSTRIA DA REPÚBLICA TCHECA. FONTE: www.noticias.uol.com.br
Fonte: Jornal O DIA, Teresina, 11 de agosto de 1979.