O dia em que um ônibus naufragou

mist01.jpg - 35.74 KB

Acidentes são comuns com caminhões e ônibus nas estradas do Piauí. Porém o naufrágio destes veículos terrestres é mais raro de se observar.

Até os anos 1970 ainda existiam no Piauí aqueles ônibus chamados “mistos”, parte carroceria, parte cabine para passageiros, cobertas. Era um ônibus com uma parte de carroceria aberta. Alguns chamavam de “pau de arara”. E tome sacolejo nas estradas então esburacadas e poeirentas deste Piauí.

 mist01.jpg - 35.74 KB
ANTIGO CAMINHÃO MISTO. IMAGEM DE AUTORIA DESCONHECIDA. REPRODUÇÃO.

Pois em 1977 um destes caminhões tipo misto naufragou após um acidente com um pontão na travessia do Rio Poti, no bairro Poti Velho, em Teresina, deixando pelo menos um morto e vários feridos.

Naquela época havia um pontão (balsa), fixa por cabos de aço para travessia do rio naquele local. Por ausência de pontes em certos locais, nos pontões atravessam margem a margem de um rio, automóveis, caminhões, ônibus, pedestres, bicicletas, motocicletas, etc. 

O ônibus era da empresa Coimbra e fazia regularmente a linha Teresina-David Caldas, povoado situado no município de União, ás margens do Rio Parnaíba.

 dsc00205.jpg - 78.55 KB
IMAGEM DE UM PONTÃO NO MESMO LUGAR DO NAUFRÁGIO, TRÊS ANOS ANTES DA TRAGÉDIA. FONTE: JORNAL O DIA..

O ônibus sinistrado na manhã de 05 de maio de 1977 era da empresa Coimbra e fazia regularmente a linha Teresina-David Caldas, povoado situado no  vizinho município de União, ás margens do Rio Parnaíba.

Ocorreu que os cabos de aço do pontão se romperam no momento em que o ônibus misto fazia a travessia, levando ao fundo das águas seus 25 passageiros, que deveriam estar na superfície do pontão e não dentro do ônibus, talvez por comodidade. Um idoso de 96 anos morreu afogado. Dois outros anciães saíram feridos, e tiveram que receber atendimento de urgência no local, com respiração boca a boca.

 mist03.jpg - 83.87 KB
TEM INÍCIO A TRAGÉDIA. O ÔNIBUS COMEÇA A AFUNDAR NO RIO. FONTE: JORNAL O ESTADO.

Pescadores e moradores do Bairro Poti Velho ao presenciarem a tragédia, acionaram imediatamente o Corpo de Bombeiros, resgatando, após intensas buscas um morto e vários sobreviventes. 

 mist04.jpg - 65.21 KB
PASSAGEIROS ABANDONAM O VEÍCULO. FONTE: JORNAL O ESTADO.

Os passageiros eram em sua maioria idosos do povoado David Caldas, que vieram a Teresina para receber a aposentadoria pelo FUNRURAL.

mist05.jpg - 77.24 KB
O ÔNIBUS JÁ PARCIALMENTE AFUNDADO. FONTE: JORNAL O ESTADO.

O problema parece ter sido o excesso de peso concentrado apenas no local do veículo, já que a maioria dos aposentados se recusou a fazer a travessia fora do ônibus, no convés do pontão.

Uma multidão de moradores se aglomerou no local da tragédia, trazendo certa dificuldade para os trabalhos de resgate do Corpo de Bombeiros, embora muitos populares tenham participado do salvamento.

 mist07.jpg - 40.74 KB
MULTIDÃO PRESENCIA O ACIDENTE. FONTE: JORNAL O ESTADO.

 mis09.jpg - 28.08 KB
POPULARES PARTICIPARAM DO RESGATE DOS PASSAGEIROS. FONTE: JORNAL O ESTADO.

O resgate terminou com a chegada de dois tratores que retiraram o ônibus submerso do rio Poti.

 mist10.jpg - 73.89 KB
NESTA IMAGEM O ÔNIBUS ESTÁ SENDO PUXADO DA ÁGUA POR CABOS DE AÇO ATRAVÉS DOS TRATORES. FONTE: JORNAL O ESTADO.

Começou após a tragédia o empurra das responsabilidades. O proprietário do veículo, João Luís Costa acusou o encarregado do pontão, João Costa, que não teria agido de maneira eficiente no início do resgate.  Porém um dos moradores que presenciou o acidente, Leonido Lima da Silva, rebateu as acusações, afirmando que a culpa foi dos próprios passageiros que se recusaram a descer do misto, concentrando muito peso num ponto só. E afirmou ainda que o encarregado sempre recomendava que passageiros descessem dos veículos, como manda a Lei. Também o motorista do veículo, Miguel Pereira pediu os passageirosque descessem, não sendo atendido.

Nos dias de hoje ninguém atravessa um pontão num veículo, notadamente dos grandes. Estes pontões ainda são muitos comuns em trechos ao longo do Rio Parnaíba onde não há pontes que liguem o Estado ao Maranhão.

Fontes:

Jornal O ESTADO, Teresina, 06 de maio de 1977.

Jornal O DIA, Teresina 10-11 de novembro de 1974.