Os últimos suspiros da admirável e misteriosa Vila Verde em Piracuruca-Piauí

A Vila Verde acompanhou de frente os vários momentos marcantes da velha Piracuruca e apesar de não estar em área oficialmente tombada pelo IPHAN, tem o seu precioso legado histórico, uma trajetória quase centenária que infelizmente está prestes a ficar somente na lembrança……Segundo o que apuramos, o proprietário atual, que é um empresário, não tem interesse de reformar a Vila Verde, a ideia seria aproveitar o terreno para um outro empreendimento. Vale aqui uma última sugestão para preservar as características originais da Vila Verde, que seria fazer o que foi feito no centro de Teresina em alguns casarões e prédios antigos: transformá-la em um centro comercial, mantendo a arquitetura original, assim, todos ganhariam, o empresário que gastaria menos e a cidade que iria ter preservado um dos seus casarões históricos.

Mais uma construção histórica de Piracuruca está ruindo, dessa vez trata-se da Vila Verde, um marcante casarão localizado na Rua Rui Barbosa nº 696, centro de Piracuruca. A Vila Verde é mais um símbolo de tempos áureos, em que cada núcleo familiar tradicional da cidade, tinha o seu casarão, era uma forma de demostrar posses e propiciar mais conforto para os seus familiares.


Construído ainda na década de 1920, o casarão tinha na sua frente uma área aberta e arejada, uma quase rua que depois foi isolada. Esse espaço valorizava a sua imponência, pois foi edificado em um lugar alto, assim, o mesmo se destacava na paisagem da velha Piracuruca.

De fato, assim como a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, a Vila Verde foi construída de frente para o Rio Piracuruca. O seu primeiro proprietário e quem a construiu foi o Sr. José de Moraes Machado (Zeca Machado). De acordo com (1):

José de Moraes Machado, era inteligente, autodidata em todas as artes que exerceu com maestria. Seus trabalhos em marcenaria ainda são havidamente procurados. Político influente intendente de 1917 a 1920; primeiro prefeito nomeado pela ditadura Vargas.

Zeca Machado nasceu em 7 de dezembro de 1895 (2), era filho do Coronel Tote Machado, e portanto, neto do Senador Gervásio de Brito Passos. Ainda em 1930, Zeca voltou a comandar Piracuruca, dessa vez como prefeito, indicado por seu pai Tote Machado (1).

De acordo com o Sr. Zé Brito, Zeca Machado ainda construiu outras marcantes edificações em Piracuruca, entre elas se destacam o Casarão da Fazenda Limoeiro e um outro na esquina da Praça Getúlio Vargas, ambos ainda estão de pé e em um razoável estado de conservação.


Registro histórico do Casarão da Fazenda Limoeiro.


Casarão na esquina Praça Getúlio Vargas, datado de 1936. Nesse casarão, morou por muitos anos a família do Sr. Antônio de Pádua Machado, filho de Zeca Machado.

De acordo com Dona Maria do Carmo Brito, Zeca Machado casou-se por três vezes, e sempre viveu na Vila Verde, até a sua morte. Uma grande prole se formou a partir de Zeca Machado, com destaque para o renomado tributarista Professor Hugo de Brito Machado.

Hugo de Brito Machado nasceu em 6 de maio de 1940, era filho de Zeca Machado com a sua última esposa, a Sra. Milarinda de Brito Machado. Perdeu o pai quando tinha apenas 5 anos, estudou na Unidade Escolar Fernando Bacelar, hoje Unidade Escolar Anísio Brito. Depois de fazer o ginasial em Parnaíba, foi para Teresina estudar contabilidade, concluindo o curso em Fortaleza onde continuou os estudos e fixou residência (3).


Formado em direito desde 1966 e Juiz Federal desde 1974, com atuação nos Estados do Piauí, Alagoas e Ceará, Hugo de Brito Machado tem um vasto curriculum, muitos livros publicados e se tornou uma grande referência na área do direito (4), sendo inclusive, um dos autores mais citados pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça (5).

Zeca Machado faleceu por volta do ano de 1945, ainda novo, aos 50 anos, e a partir de então a Vila Verde passou a ser habitada por vários moradores ao longo da história. De acordo com o Sr. Zé Brito, a família Trindade também ocupou o casarão por uns tempos, além de funcionários do Banco do Brasil. A última família a habitar o casarão foi a do Sr. Juvenal.

Segundo ainda Dona Maria do Carmo Brito, um fato marcante na história da Vila Verde, foi a fama de ser mal assombrada, devido isso, há muito tempo atrás, a mesma teve que receber uma atenção especial do pároco da cidade, que fez um ritual para libertar o casarão dessa má “fama”. O que de fato ocorreu.


Destaque para a varanda do casarão e o nome  gravado no seu frontão: “Vila Verde”.

A Vila Verde acompanhou de frente os vários momentos marcantes da velha Piracuruca e apesar de não estar em área oficialmente tombada pelo IPHAN, tem o seu precioso legado histórico, uma trajetória quase centenária que infelizmente está prestes a ficar somente na lembrança.


Lastimável estado atual da Vila Verde, apesar do desgaste, ainda se percebe a suntuosidade e capricho com que o prédio foi construído. 

Segundo o que apuramos, o atual proprietário, que é um empresário, não tem interesse de reformar a Vila Verde, a ideia seria aproveitar o terreno para um outro empreendimento. Vale aqui uma última sugestão para preservar as características originais da Vila Verde, que seria fazer o que foi feito no centro de Teresina em alguns casarões e prédios antigos: transformá-la em um centro comercial, mantendo a arquitetura original, assim, todos ganhariam, o empresário que gastaria menos e a cidade que iria ter preservado um dos seus casarões históricos.

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Fotos Históricas:

Piracuruca Túnel do Tempo

Referências:

1 – Remexendo o Baú – Maria do Carmo Fortes de Britto
2 – http://augustobritoomemorialista.blogspot.com/
2016/02/memoria-prosaica_28.html

3 – https://repositorio.ufpe.br/bitstream/
123456789/7111/2/arquivo345_2.pdf

4 – http://www.hugomachado.adv.br/
5 – https://www.conjur.com.br/2006-nov-05/
melhor_reforma_tributaria_nao_nada_10_anos