A loja fantasma de Sete Cidades

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O poeta, cronista e boêmio teresinense Vítor Gonçalves Neto (1925-1989) publicou em seu Roteiro de Sete Cidades (Teresina, 1963) vários causos de assombração que ouviu dos moradores de Sete Cidades, anos antes da criação do Parque Nacional (1961). Serviu-lhe de guia do folclore local o velho Chagas Bacuri, antigo morador da região. Nesta época moravam no futuro Parque várias famílias de agricultores, espalhadas numa imensa área. Essa história refere-se a uma loja do além…

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 O ARCHETE DA MÍSTICA SETE CIDADES. 

Certo dia o compadre de Chagas, chamado Chico Benedito, chegou às altas horas da madrugada na casa do primeiro, totalmente apavorado e de olhos arregalados, balbuciando palavras desconexas. Com muita dificuldade o assustado roceiro relatou ao cunhado e familiares seu caso alucinante. É que vinha ele distraído por uma das inúmeras veredas que cortavam as matas do futuro Parque quando viu de repente uma grande e sortida loja, muito iluminada e com muitas prateleiras repletas de artigos. Havia ali candeeiros, fumo de rolo, rapadura, querosene, pentes, espelhos, cordas, rifles, pólvora, facões, enxadas e outras utilidades. Uma loja farta, ali no meio do mato?

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SERIA ASSIM A LOJA FANTASMA DE SETE CIDADES? FONTE: www.zazzle.com.br

Atônito, Chico Benedito observou que na desconhecida e fenomenal loja havia uma belíssima e formosa mulher, a proprietária, e uma impávida cascavel enrolada numa pedra. A exuberante dondoca chamou o trêmulo e apalermado caboclo e lhe disse para escolher qualquer um dos objetos da loja para si. Explicou ainda que essas cidades (Sete Cidades) pertenciam ao rei da Inglaterra e que ele era seu vassalo (do rei) e, portanto,  deveria estar preparado (armado) para lutar na hora certa. 

Atarantado com a aparição  daquela loja sortida em local tão ermo, Benedito estirou  seu braço e escolheu um simples facão. Então, as luzes foram se apagando, a moça desapareceu , a cobra se mexeu e o sertanejo recuou, correndo  desabaladamente dali.

Após ouvir o fantástico relato, o velho Chagas Bacuri recebeu o facão do seu trêmulo compadre, o qual “…brilhava que nem pescoço de mulher-dama e o gume era mais afiado do que língua de gente ruim”. O facão foi colocado dentro de um cesto e embrulhado com roupas e todos foram dormir, impressionados com a história. 

Para surpresa geral, pela manhã o facão desaparecera do local onde Chagas guardara.  Coisas das Sete Cidades encantadas…