O Pernona é uma lenda urbana da cidade de Valença do Piauí, a acolhedora Cidade-Sorriso, localizada ao sul da capital. Lembra estranhamente uma outra interessante lenda urbana, de Teresina, a da Num-se-Pode, mulher sobrenatural que crescia de tamanho subitamente nas madrugadas de boemia da Verdecap, assustando os incautos noctívagos que dela se aproximavam.
A SIMPÁTICA E HISTÓRICA CIDADE DE VALENÇA DO PIAUÍ POSSUI UM RICO E DIVERSIFICADO FOLCLORE.
Dizem que na tradicional Rua Lauro Sodré, no centro de Valença, ocorre vez por outra uma marmotagem, tendo como personagem o Homem das Pernonas. Essa é uma das mais antigas vias centrais da cidade, e lá ocorrem muitas assombrações, como pudemos mostrar no nosso livro Antiguidades Valencianas (2000).
Soubemos que a assombração ocorreu também em frente do necrotério do Hospital Estadual. Estaria a marmota a contemplar macabramente os mortos? É o que indaga nosso amigo, o intelectual valenciano Antônio José. Aliás, este nosso amigo nos contou que o ente dá uma pernada do centro paroquial e atravessa de uma só vez a rua, de cerca de 8 metros, até o referido necrotério… Haja pernas…
Segundo nos contou o valenciano Raimundo Branca EM 1999, ele já ouvira falar da assombração, mas que nunca houvera se deparado até então com a visagem. Num certo dia do mês de outubro de 1998, precisamente à uma hora da madrugada, estava na porta de sua casa, pegando um ventinho, quando presenciou um estranho acontecimento. Raimundo Branca observou subitamente um chapéu se deslocando acima da lâmpada do poste, por trás de um elevado muro. Observou boquiaberto aquela coisa estranha e ficou desorientado por algum tempo. Um chapéu, se deslocando a uns quatro metros de altura? Estaria na ponta de uma vara?
RAIMUNDO BRANCA VIU O HOMEM DA PERNONA.
O que o Sr. viu então?- Indagamos.
Rapaz, eu juro que vi um lapa de homem de uns quatro metros de altura sair por trás do muro.
Descreva-nos mais essa assombração. – Pedimos.
Rapaz era um homão com blusão, calça branca e blusa bege, chapéu de boêmio e caminhado de malandro carioca. Mas a coisa era enorme mesmo. Não era gente comum, não.
E o que você fez?
Olha, por precaução eu peguei o facão e só fiquei observando aquilo, meio abestalhado. Fiquei sem saber o que fazer. O bicho nunca olhou pra mim. Nunca ficou de frente. Fez o percurso de volta ao longo do muro, sempre de lado, e depois sumiu no beco. Sei lá o que era aquilo. Eu só tinha ouvido falar quando era pequeno.
E você voltou a ver algum dia a estranha aparição?- Quisemos saber.
Voltei sim. Foi três dias depois daquilo. De novo eu tava meio acabrunhado numa madrugada olhando o tempo quando vi de novo o chapéu por trás do muro. Eu acho que eu queria mesmo era tirar a dúvida. Nem eu mesmo acreditava no que eu vi. E o pior, quando eu vi da primeira vez, foi só eu.
E desta vez, como foi tudo?
Desta vez eu chamei minha mulher pra ver a marmotagem. Isso pra ninguém me chamar de mentiroso. E ela viu junto comigo. Ela também viu tudo. Agora vão ter que chamar os dois de mentirosos, se quiserem.
Soubemos que também um vigia do hospital da cidade viu o Pernona levantar a sua fenomenal perna e atravessar um muro de dois metros de altura… Coisas das madrugadas silenciosas de Valença do Piauí, cheias de criaturas alucinantes…
A lenda é antiga na cidade valenciana. Parece que em tempos idos chamavam a presepada de Colarinho Branco, pelo seu tipo meio almofadinha. Dizem que o poeta valenciano João Ferry (1895-1962) conhecia muitos detalhes da lenda urbana do esticadão…
Com a avantajada estatura que possui, não será de se estranhar que o Homem das Pernonas seja o marido da enigmática Num-se-Pode das madrugadas de Teresina…