Conto em poesia: Aonde mora a saudade da minha Piracuruca

Atravessando pelo Capricho da Viúva
carregando um baú cheio de passado
ladeando a frente da rural, avexado
pisando no molhado, é tempo de chuva

Quero chegar na Estação com tempo
o meu destino de hoje é Amarração
o trem me leva, mas fica o coração
nessas idas e vindas eu me reinvento

A quitanda do Argemiro tem muita gente
tamborete de couro e muita conversa
alunos do Ateneu passam sem pressa
e pela rua da Goela eu sigo em frente

Passo na Graça Cota para o almoço
eu não quero partir de barriga vazia
pretendo chegar no finalzinho do dia
passar no Deserto eu pego um reforço

No Cocal vou ver a minha Lunabele
por isso, uma passada no Zé Nogueira
para aparar a barba e a cabeleira
e um pouco de talco pra amaciar a pele

Dois dedos de proza no banco do Carrim
Luiz da Moageira nunca esquecia
lá o Durval, sempre alegre aparecia
e me convidou pra ir até o Bar Pinguim

Depois de um trago com o meu amigo
vou até a Matriz tirar um terço e rezar
se aproximando a hora do trem passar
peço a Deus pra me livrar dos perigo

Agora é seguir sem nenhuma parada
do Matusalém eu escuto o apito
já tá na ponte de ferro, escuto o grito
e lá se vou eu, naquela tubada

Na estação encontro a Maria Fumaça
muito movimento e o sereno começa
gente com calma e gente com pressa
frito na lata e água na cabaça

E vou embora da minha cidade
com a Piracuruca ficando pra trás
olho pela janela e a lembrança me traz
para onde mora a minha saudade

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Foto estilizada
Fonte: Acervo fotográfico Casa da Cultura
Colaboração: Piracuruca Túnel do Tempo