Findava o século XVIII, quando no Porto Salgado da Vila de São João da Parnahiba, Simplício Dias da Silva embarcava em navio próprio rumo ao Velho Continente, a Europa. Inscrito na faculdade de Leis da Universidade de Coimbra, Portugal, ambicionava um diploma de curso superior.
Herdeiro da colossal fortuna do negociante português Domingos Dias da Silva, Simplício Dias passou a frequentar os ricos palácios, salões e jardins de Portugal, incluindo a Quinta de Queluz, aonde conheceu a sua esposa, uma dama de honra da rainha Dona Maria I, que o reconhecia atenciosamente como o moço rico do Brasil, concedendo-lhe o título nobiliárquico de Fidalgo da Casa Real, “em atenção às avultadas despesas, que a sua família, distinta pelo seu zelo, tinha feito a esta Real Coroa”, e que a mesma Augusta Senhora continuará sempre a atender tão benemérito vassalo”. O Brasão de Armas dado pela Rainha, hoje, compõe o desenho da Bandeira da Cidade da Parnaíba.
Simplício Dias passou a apreciar as belas artes dos grandes artistas do Velho Mundo que via nascer a genialidade de Sebastian Bach, Ludwig van Beethoven e Amadeus Mozart. Conheceu Paris logo depois da Revolução. Demorou-se em Londres. Aprendera então a admirar uma das artes do belo: a música.
Retornando a sua terra natal, a Vila de São João da Parnahiba, com grande dispêndio mandou escravos para Lisboa e Rio de Janeiro, para obterem uma formação musical. Assim, a Parnahiba passou a ser uma das poucas vilas do Brasil, aonde se ouvia uma banda. Casamentos, bailes, jantares, grandes encontros eram abrilhantados com os acordes de uma orquestra composta por escravos educados.
Em dezembro de 1808, assim como o Rio de Janeiro aonde estava a Família Real, a Vila da Parnahiba mandava deitar luminárias por três dias e cantar Te Deum pela feliz Restauração do Reino de Portugal, agora livre das tropas de Napoleão.
Informava então a Gazeta de Lisboa na edição de 13 de julho de 1809 que “Na mesma Vila os Negociantes e principaes pessoas ali moradoras mandaram no dia 5 de Fevereiro deste ano [1809] cantar Missa solene com Senhor exposto e Sermão, a que assistiu o Senado da Câmara com todas as pessoas que concorreram para a festa, precedendo na véspera uma grande iluminação para toda a Vila; e deram um explêndido jantar público, assistindo a toda a função hum grande instrumental de vento”. A Vila da Parnahiba ouvia no ar os primeiros acordes musicais com instrumentos metálicos de sopro.
Em maio de 1820, outro grande evento solene na Vila de São João da Parnahiba. Desta vez, comemorava-se o aniversário de Dom João VI, a Elevação do Brasil a condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, e a criação da Alfândega da Parnahiba ato do príncipe regente em 1817.
Editado em Portugal, o opúsculo do juiz doutor João Cândido de Deus e Silva relata “as festas com que o Senado da Câmara com toda a nobreza da Vila de São João da Parnahiba celebrou no dia 13 de Maio de 1820 o aniversário natalício de sua majestade El Rei Nosso Senhor”. E lá estava a banda do coronel comandante Simplício Dias da Silva a dar distinção às solenidades. Com “mais de vinte músicos asseadamente vestidos”, a banda deu brilho aos três dias de festas que contou com a exceletíssima presença do presidente da Província do Piauhy, Elias José Ribeiro de Carvalho. Os músicos tocavam ao som de vários instrumentos diversas peças bem executadas como os Hynnos Patriótico e Nacional portugueses, entre outras composições. Varrida as ruas da Vila e ornadas com arcos de junco enfeitados com flores, a banda desfilou carbosamente e em boa ordem acompanhada de grande concurso de povo.
No Dia 19 de Outubro de 1822, Parnahiba faz a sua Proclamação da Independência do Brasil. Presentes no Largo da Matriz: a Banda, Simplício Dias da Silva, militares e demais patriotas dando vivas a nascente nação brasileira. Por este feito, Dom Pedro I agraciou a Vila com o honroso título de “Metrópole das Províncias do Norte”.
Ao falecer no ano de 1829, Simplício Dias da Silva levou a opulência da Vila de São João da Parnahiba. Os clarinetes que fizeram harmoniosos concertos no litoral do Piauhy, agora apenas faziam parte do inventário do coronel comandante: uma caixa com instrumentos musicais.
Mas a música não morria na Parnaíba. Coube a um herdeiro dos escravos educados em Lisboa e no Rio de Janeiro, a regência da Lira Pedro Braga. Maestro e compositor, Pedro José Braga manteve a banda até 1918, quando o intendente Nestor Veras adquiriu os instrumentos e passou a ser a Banda de Música Municipal, participando dos desfiles cívicos. No coreto art-déco da belíssima Praça da Graça, com os músicos sentados em bancos de formato circular, executava marchas, hinos e dobrados, para alegria de todos. A Praça da Graça também era o endereço da sede da Furiosa, como era carinhosamente chamada pelos parnaibanos. Nos anos 40, a banda passa a ser regida pelo maestro Almir Araújo e participa das solenidades do Centenário da Cidade de Parnaíba, em 1944.
A partir de 2009, a corporação passou a se chamar oficialmente Banda Municipal Simplício Dias, uma justa homenagem ao mecenas da musicalidade na Capitania de São José do Piauhy.