Nossa Senhora da Saúde da Parnahyba

Matriz de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça. Parnahyba – PI.

Mal a Parnahyba se livrava dos horrores da Guerra do Paraguai, dois eventos marcaram a cidade nos anos 70 do século XIX: a seca e a varíola.

O homem, desde as mais remotas eras, conviveu com as adversidades. Entre estas, estavam as doenças, contra as quais não podia fazer quase nada. Com o deslocamento das populações em busca de melhores condições de sobrevivência, as doenças também começaram a se espalhar pelos mais diversos cantos da Terra, sendo o navio um dos grandes disseminadores de vetores que dizimavam aldeias e vilas.

No Brasil, antes da chegada dos europeus, os índios sofriam com poucas enfermidades, levando o país a ser chamado de terra sem males. Ao longo dos tempos, os nativos aprenderam a curar doenças com a sua farmácia da natureza. Com a colonização, vieram grandes ameaças, e entre elas estava o vírus da gripe, moléstia contra a qual os índios não tinham defesa, muito menos a cura. Tribos inteiras eram arrasadas por esta e outras afecções. Ao retornar para o Velho Continente, os europeus também levavam as doenças tropicais, como a febre amarela, trazida da África para o Brasil através do comércio de escravos.

Corria os anos setenta do século XIX e a Parnahyba assistia a mais um surto da temível varíola. A doença foi mais uma vinda a bordo das primeiras naus e durante mais de quatrocentos anos, não se pôde fazer nada contra pela falta de recursos. Os sobreviventes não escapavam das sequelas, que incluía a cegueira. Somada a esta peste, ocorria no Nordeste brasileiro o terrível episódio das secas, sendo o Ceará a província aonde o flagelo era mais sentido, obrigando populações inteiras a migrarem para o Piauí que contava com a perenidade do Rio Parnaíba. Parnahyba recebia os cearenses emigrados da estiagem, que chegavam desolados, mas muitos ficavam pelo caminho sacrificados pela sede e fome.

Preocupado com a ameaça da varíola e recorrendo a um dos últimos remédios, um devoto parnaibano mandou buscar no Rio de Janeiro uma imagem de Nossa Senhora da Saúde, para oferecê-la à igreja Matriz de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça. É que, os serviços organizados pelo governo imperial que visavam à difusão da vacina contra a popular bexiga não surtiram efeito e, de modo contrário, este pretenso antiviral de prevenção contribuiu para o agravamento da epidemia, aumentando o temor diante da vacinação.

Em viagem da capital do Império ao Porto Salgado em Parnahyba, o navio que conduzia a Senhora da Saúde perdeu-se cruzando o mar cearense. Mas, meses depois deste acontecimento, remetiam para o fiel, que não nutria mais esperança de recebê-la, um caixão com a preciosa imagem de vulto crescido. É que, sendo o caixão e a escultura de madeira, a encomenda foi parar numa praia do Ceará, encontrada por alguém que conscientemente remeteu para o destinatário.

A imagem que sofreu danos na infeliz viagem, foi recuperada pelo artista local Miguel Alves, após campanha para arrecadação de fundos, doados pelos paroquianos. Assim, no dia 6 de outubro de 1878, por iniciativa do revendo vigário Francisco de Paula Cavalcante d’Albuquerque, foi inaugurada na igreja Matriz, a Festa de Nossa Senhora da Saúde. Na sua entronização no dito templo, entoou-se do coro um hino acompanhado de banda de música, que fora especialmente composto, sendo a letra de autoria da poetisa Luiza Amélia de Queiroz Brandão com a música do professor Luiz Lima. Foi celebrada missa cantada, e logo depois constituídos os juízes e mordomos para as festividades nos anos seguintes. Pela tarde, aconteceu uma concorrida procissão.


Altar mor da Matriz de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça em Parnahyba – Piauí vendo-se à esquerda a imagem de Nossa Senhora.

Com extrema religiosidade, Parnahyba celebrou uma semana depois, dia 13 do mesmo mês e ano, os festejos do glorioso São Sebastião, não tendo ainda este santo, a sua especial igreja que só seria construída em 1940. Para este acontecimento, uma comissão formada pelos jovens Athenodoro de Carvalho, Francisco Seixas e Sebastião Antunes pediram donativos e promoveram as celebrações, onde A boa disposição desses mancebos, revelando espirito religioso, é digna de ser apreciada, ainda mais quando a filosofia moderna tem estragado com suas falsas doutrinas a juventude incauta.

Tradicionalmente invocada pelos doentes, Nossa Senhora da Saúde tornou-se cultuada a partir dos finais do século XVI, quando a peste negra assolou Portugal. Sendo-lhe atribuída a intervenção milagrosa que levou ao fim o flagelo, em sua honra foram erigidas igrejas e capelas.


Altar mor da Igreja de Nossa Senhora da Saúde, em São Paulo, Brasil.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_da_Sa%C3%BAde.

Nota: notícia extraída do jornal Diário do Maranhão, edição nº 1569, do dia 30 de outubro de 1878. Fonte: http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=720011&pasta=ano%20187&pesq=parnahyba&pagfis=8916.