As hipóteses sobre a mística datação da Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Frecheiras – Cocal – PI

No dia 06 de setembro de 2023 passei novamente pela histórica Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Frecheiras – Cocal-PI, realmente é um lugar fascinante, diferente. Para um amante da história como eu, essa fascinação se potencializa.

Vista frontal da história Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Frecheiras – Cocal – Piauí. Nesse dia da minha passagem (06/09/2023) o templo estava passando por uma reforma.

Ao chegar na Igreja somos teletransportados para um passado DISTANTE e a grande questão está aí: qual a real medida dessa DISTÂNCIA. Indo direto ao ponto: qual a real DATAÇÃO desse templo?

Aqui alguns registros da minha primeira visita à Igreja de Frecheiras, ainda no ano de 2019 quando fiz um documentário em vídeo (link abaixo). Destaques para a imagem de Nossa Senhora do Rosário, uma visão superior do altar e bancos, uma das lápides que existem nas paredes internas do templo, uma visão do piso superior e o sino localizado em uma das torres.

Em tempo: Logo no final desse texto tem um link para o documentário em vídeo que produzi em 2019, em que o escritor e historiador João Passos nos apresenta a Igreja, e nos revela o seu parecer histórico sobre o antigo templo.

A datação:

O questionamento sobre a datação vem a partir da enxurrada de suposições, hipóteses, documentos, matérias e capítulos de livros que vem sendo publicados ao longo do tempo. Daí, me veio a ideia de “provocar” alguns historiadores da nossa região com a seguinte pergunta: Da forma mais objetiva possível, qual a sua opinião pessoal sobre a polêmica datação da Igreja de Frecheiras?

Penso que a minha inquietação sobre esse mistério deve ser a mesma inquietação de muitos, portanto, para esclarecer esses fatos temos que recorrer aos nossos historiadores contemporâneos, para, a partir daí, estabelecermos também os nossos próprios pontos de vista.

Entre todos os escritores e historiadores indagados, Elmar Carvalho e Diderot Mavignier foram pontuais e me responderam, dando as suas opiniões as quais irei descrevê-las abaixo. Antes disso, falarei do real motivo do mistério.

A igreja de Frecheiras, com destaque para a sua polêmica datação, fonte de muitas incertezas.

Bom, como se pode ver na figura acima, nesse símbolo em destaque constam aparentemente 4 algarismos indo-arábicos e lendo em sentido horário a partir do topo seria 1616. Esse arranjo numérico forma a primeira suposição e a mais propagada até hoje, ou seja, que a datação do templo remete ao ano de 1616. Porém, há controvérsias, vejamos as opiniões:

Elmar Carvalho

De acordo com o escritor e historiador Elmar Carvalho: “…ao percebermos o símbolo como sendo em forma de cruz, o mais adequado seria associarmos ao sinal da cruz, com a leitura dos algarismos feita a partir da ordenação original do sinal da cruz, sendo: PAI (testa “1”), FILHO (peito “7”), ESPÍRITO (ombro esquerdo “6”) e SANTO (ombro direito “6”). Desse modo, chegamos à datação de 1766 e assim, estamos indo na correta interpretação do símbolo como sendo uma data, levando-se em conta a cronologia dos acontecimentos documentados que envolvem a história do lugar, inclusive a época em que viveram os antigos a quem é atribuída a construção da referida igreja que são o Capitão Mor Diogo Álvares Ferreira e sua esposa Dona Francisca Tomásia Veras.”

A hipótese da analogia com o sinal da cruz (aqui apresentado na ordem numérica) faz com que a ordenação sequencial dos números seja diferente do sentido horário. Ao invés de 1616, seria 1766. Mas, de onde surgiu esse “7”?

E aí surge uma pergunta: como surgiu esse “7”? A suposição é que a escrita do “7” nesse caso na parte de baixo (no peito, passo 2 do sinal da cruz), está há muitos anos confundida com a de o “1”. Na verdade, o que achamos que seja o “1” é um “7” de cabeça pra baixo. Assim:

Caso se confirme essa hipótese, o algarismo “7” talvez tenha sido deformado ao longo do tempo e após várias sobreposições de tinta ficou com uma aparência retilínea, sendo associado ao “1”. Aqui cabe uma investigação arqueológica para confirmar tal suposição.

Elmar Carvalho, seguindo a hipótese do escritor Vicente Miranda, também fundamenta a sua hipótese a partir de um outro símbolo, esse disposto na outra torre da igreja, do lado direito. Esse outro símbolo tem o mesmo pano de fundo do primeiro, também em formato de cruz, só que ao invés de números, apresenta algumas letras do nosso alfabeto, que ordenando-as também na sequência do sinal da cruz ficaria: N, D, R, S, que em latim significa (Natus Domini Regnum Salus) “Do Nascimento de nosso Senhor Rei Salvador”. Vejamos:

Símbolo na torre direita, apresentando, pela sequência do sinal da cruz, os símbolos N D R S.

Desse modo, considerando que as duas sequencias de 4 caracteres obedecem a ordenação do sinal da cruz e que na torre esquerda o caractere de baixo, ao invés de “1” é o “7”, temos:

Interpretação dos símbolos da Igreja de Frecheiras, segundo Elmar Carvalho. 

Em tempo: logo abaixo, tem o link para o artigo “Expedição às serras das águas coloniais” de autoria de Elmar Carvalho. Nesse artigo é abordada a Igreja de Frecheiras.


Diderot Mavignier

Já o escritor e historiador Diderot Mavignier, reconhece o avanço das pesquisas históricas relacionadas ao templo, que apontam o Capitão Mor Diogo Álvares Ferreira e sua esposa Dona Francisca Tomásia Veras como os construtores da Igreja, assim como a data de sua construção no distante ano de 1766 ou 1767, porém, não deixa de reforçar uma outra hipótese para a datação, segundo ele: “…observando e acompanhando a posição das letras no lado direito da fachada, onde encontramos as letras D, R, N e S, as iniciais de (Domini Regnum Noster Senior), expressão equivalente a “Do Reino do Nosso Senhor”, isso pode ser entendido que o ano gravado no lado oposto é posterior a vinda de Jesus Cristo, e dessa maneira o ano pode ser 1616 ou 1619.

Dessa forma, seguindo a hipótese apresentada por Diderot Mavignier, a sequência dos números não obedece ao sinal da cruz e sim, somente o sentido horário, começando pelo caractere mais abaixo, tanto no símbolo dos números (lado esquerdo), como no símbolo das letras (lado direito). Vejamos:

Ordenação dos símbolos, de acordo com a hipótese apresentada por Diderot Mavignier.

Portanto, como vimos acima, a hipótese apresentada por Diderot Mavignier é conservadora, seguindo a tradição ancestral da datação como sendo ainda do século XVII.

Em tempo: logo abaixo, tem o link para o artigo “A Igreja de N S do Rosário da Frecheira da Lama e o método indiciário” de autoria de Diderot Mavignier.

As duas hipóteses tabuladas sobre o significado do símbolo:

Elmar Carvalho Diderot Mavignier
Ordenação pelo sinal da cruz Ordenação pelo sentido horário
Torre direita Torre esquerda Torre direita Torre esquerda
1766 N, D, R, S –
Natus Domini Regnum Salus
(Do Nascimento de nosso Senhor Rei Salvador).
1616 ou 1619 D, R, N, S – Domini Regnum Noster Senior)
(Do Reino do Nosso Senhor).

Em tempo: Um outro artigo sobre a Igreja de Frecheiras está disponível aqui no Portal Piracuruca, foi escrito por Reinaldo Coutinho, o artigo de 1998 cita vários outros historiadores com suas hipóteses sobre a datação da histórica Igreja de Nossa Senhora do Rosário, o artigo “Misteriosa igreja em Cocal polemiza povoamento do Piauí”, tem o link disponível no final desse texto.

Finalizando, repito as palavras de Diderot Mavignier, quando diz: “Debates à parte, o que nos leva a entender é que faltam ainda pesquisas sobre este templo, estão, entre outras peças desse mosaico, as ruínas localizadas no entorno da capela. Um alicerce de pedra com paredes de aproximadamente um metro de largura de uma antiga construção, a mais ou menos cem metros da capela, nos leva a pensar que esta era fundação de uma edificação de relevo. Além de estudos que revele o que seria esta construção, outros estudos arqueológicos se fazem necessários para que nos aproximemos da verdade histórica. Certo é que, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Frecheira da Lama é, de qualquer forma, página importante na História do Piauí.

Quanto à minha opinião sobre as hipóteses acima, antes de opinar eu gostaria de ouvir outros historiadores da região, também de forma bem objetiva.


Links:

 

Expedição às serras das águas coloniais

A Igreja de N S do Rosário da Frecheira da Lama e o método indiciário

Misteriosa igreja em Cocal polemiza povoamento do Piauí