O governador do Piauí durante a República Velha Miguel Paiva Rosa nasceu em Teresina em 15 de dezembro de 1876 e faleceu na mesma cidade em 9 de junho de 1929. Era filho de João Augusto Rosa e Júlia Emília de Paiva Rosa.
Ingressou na Faculdade de Direto em Recife em 1895, concluindo o curso em novembro de 1898. Findo o bacharelado em Direito, retornou ao Piauí, sendo sucessivamente nomeado juiz distrital de Jerumenha e União. Retornando a Teresina em 1900, exerceu também aquela magistratura.
Nomeado pelo governador Anísio de Abreu (1862-1909) em 1909 foi diretor da Instrução Pública. Neste cargo fez publicar, no jornal O Comércio, uma portaria que proibia o ensino religioso nas escolas. Começava muito cedo seus conflitos com a Igreja Católica. Segundo Pinheiro (1999) o Diretor da Instrução Pública era apontado como um déspota, perseguidor da Igreja e da religião católica, que gostava de ridicularizar as famílias católicas e tirar-lhes o “sagrado direito de escolherem a melhor educação para os seus filhos”.
MIGUEL ROSA EM RECIFE, 1898. ARQUIVO FUNDAJ.
Advogado, maçom e polêmico jornalista, Miguel Rosa casou-se em 1900 com Adelaide Freire Rosa.
Foi escolhido pelo governador Antonino Freire (1878-1934) para sucedê-lo em julho de 1912. Concorreria contra os oposicionistas Odilo Costa (?-?) e o truculento coronel Coriolano de Carvalho (?-1926) ex- governador do Piauí no final do século XIX. Antonino Freire, para assegurar sua vitória, organizou nos municípios os “batalhões” patrióticos, que eram civis armados que lutariam, se fosse necessário, pela candidatura de Miguel Rosa. Alguns destes “batalhões” chegaram a adentar perigosamente em Teresina, aguardando o resultado do pleito.
O AMARANTINO ANTONINO FREIRE. REPRODUÇÃO
Com a retirada providencial do Coronel Coriolano de Carvalho por pressão do ministro da Guerra, Miguel Rosa bateu Odilo Costa nas urnas. O novo governador do Piauí assumiu seu cargo em 1º de julho de 1912.
Seu governo foi repleto de problemas políticos, sociais, administrativos e financeiros. Havia uma luta de natureza religiosa-política como a crise entre a maçonaria e a Igreja além de seríssimos problemas na sofrida economia estadual, que pioravam sucessivamente dia a dia.
Um dos seus primeiros atos foi combater o banditismo, que grassava no sul do estado, enviando para lá a Força Pública, que travou sangrentos combates contra jagunços e cangaceiros.
Foi Miguel Rosa o político que transformou o jornal Diário do Piauí num novo jornal, bem aparelhado, o Diário Oficial do Estado. Com muita dificuldade, instalou a energia elétrica movida a geradores na Capital. Instalou, no bairro Pirajá, um campo experimental de maniçoba, a seringueira que produzia látex no Piauí. Ali seria mais bem estudada e cultivada, já que era o maior produto nas pautas de exportação do Piauí. O campus fracassou e só funcionou por um ano. Em 1917 inaugurou o primeiro trecho da rodovia entre Floriano e Oeiras, e avançou celeremente com o trecho de ferrovia entre Amarração (Luís Correia) e Parnaíba.
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as exportações brasileiras caíram sensivelmente, e com elas, as piauienses, restringindo bastante a administração estadual. A calamitosa seca de 1915 que devastou o semiárido piauiense foi duplamente crucial, pois exatamente naquele difícil período, o Governo Federal, em decorrência da crise mundial causada pela Primeira Guerra, suspendeu várias verbas federais para o Piauí. Desemprego em massa, flagelados, falências e quedas nas arrecadações se sucederam.
Segundo Mons. Joaquim Chaves (1913-2007), a baixa geral no preço dos gêneros de exportação foi uma grande calamidade para nossa economia estadual. Sem capitais, sem comunicações, sem transportes eficientes, não havia no estado sequer um banco nem carteira financeira. Na impossibilidade de manter em dia o pagamento do funcionalismo, o Governo emitiu apólices a 7% com prazo estipulado em Lei, conforme o Decreto nº 571, de 26 de setembro de 1913.
O governo de Miguel Rosa foi politicamente muito atribulado, com polêmicas na imprensa, assassinatos, prisões e perseguições pessoais, muitas alheias ao mandatário, que terminavam por lhe serem atribuídas. Aliás, os políticos oposicionistas atribuíam a crise econômica por que passava o Estado a uma má administração de Miguel Rosa. Omitiam sutilmente que a crise foi provocada pela conjunção de fatores como a Primeira Guerra Mundial, a perda do comércio do gado para o Pará e Guiana Francesa e a catastrófica seca de 1915.
Outro problema muito sério e que entrou para a História do Estado foi o massacre, por parte da Força Pública, de ciganos (final de 1913) em terras de Retiro da Boa Esperança (atual cidade de Esperantina) então pertencente ao município de Barras do Marataoã, causado em parte pelas badernas que os zingares estavam processando e em parte por informações tendenciosas e erradas sobre estas atividades, advindas de um comandante da polícia.
A campanha para sucessão de Miguel Rosa foi altamente polemizada. Seu candidato era o desembargador Antônio José da Costa (? -1934). Concorreu contra ele o oposicionista Eurípides Clementino de Aguiar (1880 –1953) médico, jornalista e poeta, patrocinado por Antonino Freire, ex-aliado de Miguel Rosa. A eleição foi realizada em 7 de abril de 1916, ganhando o candidato oficial, Des. Antônio da Costa. Mas a maioria da Assembleia Legislativa, questionando a legalidade do resultado, na sessão de 5 de junho de 1916 proclamou Eurípides de Aguiar governador do Piauí.
EURÍPEDES DE AGUIAR SUCEDEU MIGUEL ROSA. REPRODUÇÃO.
A saída de Miguel Rosa do poder foi precedida por ameaças de policiais aos jornais, invasão de cangaceiros a Teresina, tanto da situação como da oposição, deserções, tanto de policiais como de cangaceiros, barricadas, etc.
Houve contestações quanto aos resultados das eleições vencidas pelo candidato da situação e Miguel Rosa viu a capital ser invadida por batalhões de jagunços que tinham por objetivo destituir o governador e dar posse a Eurípedes de Aguiar. O governador reforçou com barricadas o Palácio do Governo e muitos teresinenses, fugindo de eventuais conflitos armados, buscaram refúgio em Flores, atual Timon-Maranhão.
Em 26 de junho de 1916 irrompeu um motim no quartel da polícia e sentindo-se totalmente abandonado, Miguel Rosa abandonou a sede do governo, recolheu se à casa de seu pai e solicitou segurança ao comandante da Guarnição Federal. Foi o fim de um atribulado governo.
O novo governo do Estado, na figura de Eurípedes de Aguiar assumiu somente quatro dias após, em 1º de julho. Dizem que os cangaceiros ou “patriotas” de seu lado desfilaram solenemente pelas ruas da Capital, sobre as marchas da banda da Polícia Militar.
Mons. Chaves (1913-2007) fez um resumo sobre o homem e político Miguel Rosa:
“Não resta dúvida que o governo de Miguel Rosa foi difícil e que acarretou muito sofrimento para o povo. Não se pode, porém, lançar a culpa exclusivamente sobre os seus ombros. Crise internacional, crise nacional e crise local concorreram para torna-lo impopular. Temos que reconhecer a coragem pessoal e a honestidade do governador. Entrou pobre para o governo e dele saiu pobre como entrara.”
Miguel Rosa afastou-se então da vida política, dedicando-se exclusivamente à advocacia, retornando, porém a um cargo público em 1924, quando foi nomeado procurador da República.
Fontes:
Chaves, Mons. Joaquim. Apontamentos biográficos e outros. Fundação Cultural monsenhor chaves. Teresina, 1994.
Pinheiro, Áurea da Paz. As tensões entre clericais e anticlericais no Piauí no início do século XX. Dissertação. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Estadual de Campinas, 1999.
Santana, R.N. Monteiro de. Evolução histórica da economia piauiense. APL, Teresina, 2001.
Tavares, Zózimo. 100 fatos do Piauí no século 20. Teresina, 2000.