A Teresina do início do século XX mergulhava celeremente na modernidade. Os equipamentos de infraestrutura se instalavam progressivamente, tais como abastecimento de água encanada (1904), telefonia (1907) e energia elétrica (1914). Novas ruas eram abertas e a urbe se expandia além dos limites circunvizinhos ao trecho Praça Uruguaiana (atual Rio Branco) e da Constituição ou Largo do Amparo (atual Marechal Deodoro).
Já se podia tomar sorvetes e cerveja gelada até antes do advento da energia elétrica, através de geladeira a querosene nos requintados cafés da Praça Rio Branco. A vida social e política fervilhavam principalmente neste logradouro. A moda e costumes europeus avançavam tenazmente no meio da população mais favorecida.
IMAGEM DE POSTAL DATADA DE 1925 MOSTRANDO A ATUAL PRAÇA RIO BRANCO. OBSERVA-SE A PRESENÇA DE VASTA ARBORIZAÇÃO, POSTES DE FIAÇÃO ELÉTRICA E, NA EXTREMA DIREITA, O ANTIGO CORETO PRODUZIDO NA INGLATERRA. REPRODUÇÃO.
Surgiram os primeiros magnatas, capitalista, industriais e grandes empresários. Tempos auríferos para o coronel João (Joca) Maria Broxado, os irmãos Pedro e Manoel Thomaz de Oliveira, Antônio Gonçalves Pedreira Portelada, João Lobão Portelada, Aphrodísio Tomaz, Agripino Maranhão, Leocádio Santos, Oliveira Pearce, os imigrantes sírios, etc.
Palacetes suntuosos eram construídos na restrita área urbana da Cidade e chácaras nas circunvizinhanças, muitas delas na atual Av. Frei Serafim (antiga Estrada real, aberta em 1896). Uma destas chácaras ou quintas passou de maneira especial para a história de Teresina, embora tenha sido tragada pelo dito “progresso” há muito tempo: a Chácara Lavinópolis, situada na Av. frei Serafim, onde hoje existe o Posto Mercury, pertencente ao rico farmacêutico Collect Antônio da Fonseca (1852 – ?) e sua esposa Lavínia Fonseca (? – ?).
UMA DAS SUNTUOSAS CHÁCARAS DA AV. FREI SERAFIM ERA A CHÁCARA LAVINÓPOLIS, NA FOTO ASSINALADA “LABINÓPOLIS”, NO INÍCIO DO SÉCULO XX. AUTORIA E DATA DA FOTO DESCONHECIDAS. REPRODUÇÃO.
IMAGEM ATUAL DO LOCAL ONDE UM DIA FOI A CHÁCARA LAVINÓPOLIS. HOJE FUNCIONA ALI UM POSTO DE COMBUSTÍVEIS.
• O casal Fonseca
Pouco sabemos sobre a família Fonseca. O farmacêutico Collect Antônio Fonseca possivelmente nascido em Jerumenha-PI, era filho de Anacleto José da Fonseca (1819 – 1886) e Francelina Carolina da Fonseca (1827 -?) nascidos em Jerumenha. Quando iniciou sua vida farmacêutica o Sr. Collect também se dedicou a política, sendo vereador da cidade de Teresina em 1889, ano da Proclamação da república.
Collect teve 11 irmãos, dentre eles Olegário Sandes Da Fonseca (1854 -?) e Victalina Carolina da Fonseca (depois Gomes Ferreira, 1849-1928).
Era um homem muito rico, pois em 1910 dentre os quinze maiores contribuintes de imposto predial de Teresina estava em primeiro lugar, à frente de muitos magnatas, o que significava possuir muitos imóveis. Também dentre os quinze maiores contribuintes de indústria e profissão deste ano constava em sexto lugar.
Seu principal empreendimento era a farmácia Collect da Fonseca & Cia, de renome nacional.
Dona Lavínia Fonseca era uma senhora da sociedade teresinense que, juntamente com outras senhoras, no dia 4 de setembro de 1889, no palácio do governo, pediu ao presidente da Província, o alagoano Teófilo Fernandes dos Santos (1847-1897), a construção de um teatro em Teresina. Atendida a solicitação, o governante forneceu a verba, surgindo, cinco anos depois, o Theatro 4 de Setembro.
Além de ativos participantes da vida social de Teresina, o casal Fonseca era zelosamente dedicado ás causas sociais. Dona Lavínia sempre era descrita como mãe dos pobres, dedicada que era em atender os mais desvalidos. Os dois, aliás, profundamente religiosos, participavam de todos os eventos de cunho católico da Cidade, sendo o Sr. Collect inclusive um dos redatores do jornal oficial da Diocese teresinense “O Apóstolo”.
NA RELAÇÃO DE REDATORES DO JORNAL CATÓLICO “O APÓSTOLO” DESTACAVA-SE O FARMACEUTICO COLLECT ANTÔNIO DA FONSECA. AQUI UMA EDIÇÃO DE 1910.
A dedicação de D. Lavínia à religiosidade católica era especial em relação à Igreja São Benedito, sendo ela a responsável pela vinda da Europa de uma linda imagem do Sagrado Coração de Maria em março de 1908, evento religioso festivo com grande solenidade, com direito a missa celebrada pelo cônego Raimundo Gil, Vigário Geral da Diocese de Teresina.
Não sabemos exatamente quando faleceu o Sr. Collect. Porém sabemos que em 1925 ainda estava vivo, agora casado com a Sra. Professa (Purcina?) Fonseca, segundo o jornal Teresinense O ARREBOL (14/06/1925). Mas já não estava vivo em 1933, quando o jornal A IMPRENSA (21/06/1933) de Teresina refere-se ao natalício da Sra. Professa Fonseca como viúva do Sr. Collect Fonseca.
Quanto a Sra. Lavínia, embora não saibamos quando faleceu, provavelmente já não estava mais viva no ano de 1925, quando o Sr. Collect já estava casado com a Sra. Professa.
Se o casal teve filhos não conseguimos averiguar nos jornais da época ou com outras fontes de informação.
• A Farmácia Collect
A farmácia Collect funcionava á Rua Grande (atual Álvaro Mendes). O estabelecimento parece ter estado em mãos do Sr. Collect ou de sua família até os anos em 1930, quando foi adquirida pelo farmacêutico florianense Antônio Ribeiro da Silva (1910 -? ) que a administrou por muitos anos. Caso estivesse vivo na época da venda, Collect já seria um octogenário
A Farmácia Collect, que marcou época na referência á saúde em Teresina, foi inaugurada provavelmente muito antes de 1900. Isso porque o jornal Diário do Maranhão, de São Luís, em edição de 08 de outubro de 1904 noticiava que o farmacêutico Collect Antônio da Fonseca associou-se ao colega Fernando de Oliveira Marques, passando a nova empresa, constituída em 1904 a chamar-se Collect Fonseca & Cia. O jornal se refere à farmácia Collect como muito antiga antes desta nova razão social. Daí pensarmos ter sido a original constituída nos anos 1880 ou início de 1890.
Embora não tenhamos dados exatos, o nome do estabelecimento já consta no Almanaque Laemmert para 1902 com a localização Rua G. (Grande, hoje Álvaro Mendes) Firmino Pires. Entendemos como cruzamento das ruas Álvaro Mendes com Firmino Pires, o que acontece nas proximidades da Praça Marechal Deodoro. Esta parece ser a única referência da localização no cruzamento das duas ruas, pois sempre é descrita nos anúncios como situada na Rua Grande. Se for correta esta localização no cruzamento dessas duas ruas, a Farmácia Collect existia num ponto onde hoje estão as quatro edificações abaixo.
BANCO HSBC (ESQUERDA) E UM VELHO HOTEL, HOJE LANCHONETE E UM MINI SHOPPING (DIREITA). FONTE: GOOGLE STREET.
DO OUTRO LADO DOS DOIS EDIFÍCIOS ANTERIORES, A SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE DO MUNICÍPIO (ESQUERDA) E BANCO SANTANDER (DIREITA). FONTE: GOOGLE STREET.
A Farmácia Collect não era um simples empreendimento de saúde piauiense. O farmacêutico produzia, em sociedade com empresários do sudeste ou por conta própria medicamentos que eram vendidos no Brasil inteiro.
ANÚNCIO DO CAMAPÚ BEIRÃO, MEDICAMENTO MUITO CONSUMIDO NAQUELA ÉPOCA. FONTE: JORNAL O PIAUÍ, TERESINA 17 DE JUNHO DE 1911.
VINHO QUINADO, VENDIDO NA FARMÁCIA DO DR. COLLECT. FONTE: JORNAL DIÁRIO DO PIAUHY, TERESINA, 08 DE JULHO DE 1911.
ANÚNCIO DE LOÇÃO PARA CABELOS. FONTE: JORNAL CORREIO DE TERESINA, 04 DE ABRIL DE 1916.
FÁRMACO CONTRA DIABETES. FONTE: JORNAL A IMPRENSA, TERESINA, 13 MARÇO DE 1926.
LAXANTE FAMOSO. FONTE: JORNAL A IMPRENSA TERESINA 18 DE AGOSTO DE 1925.
Ainda no final do século XIX Collect da Fonseca era um farmacêutico respeitado a nível nacional tendo seus produtos anunciados nas mais conceituados jornais e revistas especializadas do país.
ALMANAQUE LAEMMERT 1895.
REVISTA O BRASIL MÉDICO, RIO DE JANEIRO, ANO 10 Nº 13, 01 DE ABRIL DE 1896.
ESTA ERA UM DAS FARMÁCIAS CARIOCAS QUE REVENDIAM OS PRODUTOS COLLECT. FONTE: ALMANAQUE LAEMMERT, RJ, 1918.
• Litígio farmacêutico
Entretanto, ao largo da fama, o Sr. Collect envolveu-se em escandaloso processo de propriedade intelectual ainda no distante ano de 1886. O Sr. Fonseca foi processado e condenado através de denúncias da viúva do médico e farmaceutico Eugênio Marques de Hollanda (1836-1892), pioneiro da indústria farmacêutica nacional, por apropriação indevida de nomes de produtos patenteados. O caso foi muito agitado na imprensa daquela época. O JORNAL DA NOTÍCIA, do Rio de Janeiro, Edição de 11 de agosto de 1896 publicou:
Em execução da sentença proferida pelo digno juiz seccional desta Capital nos autos de ação sumária proposta por D. Emília Ferreira de Hollanda contra Collect da Fonseca & C., foi hoje ordenado pela junta Comercial o cancelamento do registro da marca com que os réus Collect da Fonseca & C. assinalavam os produtos farmacêuticos, que expunham ao consumo público, imitando fraudulentamente os verdadeiros preparados do farmacêutico Eugênio Marques de Hollanda.
Está livre o público de tão indecente especulação.
Henrique C. Marques de Hollanda.
Foi ordenada pela justiça naquela época a busca e apreensão de produtos Collect em várias farmácias do Rio de Janeiro, sob a acusação de serem imitações dos produtos do Dr. Hollanda.
O que não é muito compreensível é que mesmo alguns anos após a referida condenação, a firma Collect da Fonseca e Cia. ainda se dissesse sucessora de Eugênio Marques de Hollanda & Cia. Teriam as partes chegado a um acordo?
PROPAGANDA EM JORNAL CARIOCA ONDE AINDA SE OBSERVA A CONTINUAÇÃO DO ELO COMERCIAL ENTRE FONSECA E HOLLANDA. FONTE: JORNAL GAZETA DE NOTÍCIAS, RIO DE JANEIRO, 24 DE AGOSTO DE 1900.
• A antiga urbe teresinense
A Teresina do início do inicio do século XX era uma pequena e provinciana urbe, onde a concentração de edificações se limitava ao sul pelo “Barrocão”, atual Av. José dos Santos e Silva; a oeste, pela Av. Maranhão; a leste pela Rua 24 de janeiro, tendo como principal referência a igreja São Benedito e ao norte a Rua da Estrela (atual Rua Desembargador Freitas). Fora deste perímetro, só esparsas casas de palha e adobe, muita mata, córregos e algumas chácaras ou sítios.
A IGREJA SÃO BENEDITO MARCAVA O LIMITE LESTE DA CIDADE DE TERESINA. IMAGEM DE 1905 OU ANTERIOR PUBLICADA EM 1906 NO ALMANAQUE GARNIER (RJ).
• A glamorosa chácara
Segundo o site Teresina Antiga, muitos representantes de movimentos em prol da Consciência Negra garantem que o terreno da chácara foi parte de um primitivo cemitério de escravos negros, indigentes e outros desvalidos durante a edificação de Teresina. Teria sido desativado por insalubridade e construído outro no lugar que corresponde hoje ao Cemitério São José.
A chácara Lavinópolis, uma homenagem do seu construtor à sua esposa Lavínia Fonseca localizava-se na atual Av. frei Serafim, onde hoje existe o Posto Mercury, ao lado da Igreja São Benedito. Não sabemos quando foi construída, mas certamente por volta do ano 1900.
Ali se realizavam faustosos banquetes e recepções a magnatas, políticos e familiares. O jornal teresinense O PIAUÍ, de 26 de dezembro de 1908 reportou um destes suntuosos acontecimentos, o aniversário de sua proprietária:
O belo palacete de Lavinópolis, no bairro de S. Benedito está hoje em festas. Para lá passam de quando em vez grupos de notáveis cavaleiros e gentilíssimas senhoras e senhoritas, que vão levar as suas cordiais e atenciosas saudações à Ex.ª Sr.ª d. Lavínia Fonseca, amabilíssima e carinhosa esposa do nosso bom e prestante amigo dr. Collect Fonseca, por motivo de seu venturoso aniversário natalício, que hoje ali se comemora.
D. Lavínia com aquela extrema gentileza e cativante fidalguia que lhes são peculiares, a todos recebe prazenteiramente e a todos cumula de atenções e obséquios com a graça e fineza que a distinguem desde os mais verdes anos.
“Muitos tem sido os cumprimentos pessoais por cartas e cartões, que a digna senhora tem recebido e grande o número de amigos e admiradores que a cercam, sendo de notar os valiosos presentes que lhe mandam de todos os pontos da Cidade.
A par da presença importância social no seio da elite teresinense de D. Lavínia, o articulista exalta suas virtudes beneficentes e caridosas com os desfavorecidos das classes mais pobres:
É que d. Lavínia Fonseca é também protetora da pobreza; faz partilhar carinhosamente de sua amizade, tem enxugado muitas lágrimas e há poderosamente concorrido para a felicidade de meninas órfãs e desoladas viúvas. Bem haja uma tal patrícia que dignifica o Estado com o exemplo de suas ….virtudes.
O certo é que até missa de intenção na igreja São Benedito foi celebrada em comemoração ao evento festivo da madame.
A chácara era o que havia de mais glamoroso e refinado na época. Embora sem detalhes precisos nas imagens, se percebe um muro com colunas e gradis de ferro fundido, com o portão principal tendo sobre duas colunas um arco pleno, possivelmente em ferro. Salvo engano, a coluna frontal da esquerda parece ostentar no seu alto um lampião, daqueles a querosene.
O palacete, com vistosas colunas e cunhais apresenta platibanda vazada com balaústres. Esta platibanda continuava nas laterais da casa. Pela imagem abaixo a frente da propriedade não ia além de uns 40 metros e toda a sua frente, sem calçamento algum, é claro. A construção, propriamente dita, talvez uns quinze metros de frente, mas muito alta estilo palacete.
ANTIGA IMAGEM DA CHÁCARA LAVINÓPOLIS, ONDE SE HOSPEDOU O PRESIDENTE AFONSO PENA. PUBLICAÇÃO FEITA POUCOS MESES APÓS A ESTADA DO POLÍTICO. FONTE: REVISTA DO NORTE, SÃO LUÍS, AGOSTO DE 1906, Nº 12.
• Afonso Pena se hospeda em Lavinópolis
Um dos acontecimentos que contribuíram para tornar célebre a chácara Lavinópolis foi ter servido de hospedagem ao primeiro presidente eleito a visitar o Piauí: Afonso Pena (1847-1909). O político mineiro, eleito em 01 de março de 1906, veio ao Piauí em antes de tomar posse em 15 de novembro de 1906.
Segundo Cavalcante (2012) penitenciando-se, talvez, do mecanismo eleitoral que dispensava contato com a população dos estados, em 1906 o presidente (já) eleito Afonso Pena decidiu fazer algo totalmente fora dos padrões da jovem República Velha: — Ao invés de uma tournée pela Europa, uma viagem ao Brasil, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, num percurso de 21.459 quilômetros.
Desse total — retratando bem a desarticulação do sistema ferroviário — 16.112 quilômetros tiveram de ser percorridos em embarcações, principalmente por mar, ao longo do litoral; e em menor proporção por rios e lagoas, que estendiam a navegação de cabotagem a alguns locais terra adentro.
Somente 5.347 quilômetros puderam ser percorridos pelas estradas de ferro então existentes, em curtos trajetos de significado local ou sub regional.
No dia 14 de julho de 1906 Afonso Pena saiu de trem da cidade maranhense de Caxias até a antiga Flores (atual Timon-MA), de onde atravessou o rio rumo a Teresina no vapor tipo gaiola “Theresinense”, repleto de autoridades e empresários piauienses.
PRESIDENTE AFONSO PENA, O MAIS ILUSTRE DOS HÓSPEDES DE LAVINÓPOLIS. FONTE: WIKIPEDIA.ORG
Afonso Pena foi recepcionado com espetáculo no teatro 4 de setembro e banquete suntuoso na Chácara Lavinópolis pelo vice-governador do Piauí Areolino de Abreu (1865-1908), já que o governador Álvaro Mendes (1835 – 1907) se encontrava mortalmente enfermo. Após muitas receber muitas homenagens e visitar obras públicas e escolas, o Presidente seguiu sua trajetória rumo ao porto de Tutóia-MA.
O memorialista barrense A. Tito Filho (1924-1992) nos conta mais detalhes sobre a ilustre visita. Quando chegava gente importante a Teresina, era um deus-nos-acuda. Alvoroço nas camadas sociais ilustres. Terno branco, engomadíssimo, sapato engraxado, camisa limpa, gravata bonita, assim ficavam os machos. As damas botavam o melhor vestido, perfume afrancesado, pulseiras ricas. Plantavam-se todos no local do desembarque da figura esperada com ansiedade. Banda de música. Nos velhos tempos, fazia-se o cortejo, a pé, à casa da hospedagem.
Sempre segundo Tito Filho, no caso dos presidentes da República, os preparativos da recepção começavam dez ou mais dias antes da chegada. Assim se deu com Afonso Pena, eleito para governar o Brasil. Antes da posse, visitou o Piauí, chegando a Teresina a 14 de julho de 1906, pelas 10 horas da manhã. Recebeu homenagem estrondosa. Ao alcançar a igreja de São Benedito, penetrou o templo, ajoelhou e rezou. Seguiu para a Chácara Lavinópolis, do farmacêutico Collect Fonseca, esquina da Avenida Frei Serafim, local hoje de posto de gasolina. Regressou no dia seguinte; as cinco da tarde. Dormiu uma noite só, com penico de porcelana no quarto – um penico de pinturas elegantes, que se esqueceram de guardar para o futuro museu.
• As irmãs catarinas
Segundo Samara Mendes, em território piauiense, em 1906, os colégios confessionais católicos destinados a educação feminina iniciaram suas atividades tendo as religiosas italianas da Congregação dos Pobres de Santa Catarina de Sena como diretoras e professoras.
A escolha dos nomes dos colégios atendeu ao pedido feito pelo Bispo Dom Joaquim, responsável pela vinda da Congregação italiana para o Piauí. Em Teresina, o Colégio fundado em outubro de 1906, recebeu o nome e foi consagrado ao Sagrado Coração de Jesus.
IMAGEM DA FACHADA DO PALACETE. PARECE QUE O PORTÃO PRINCIPAL ACHA-SE OCULTADO POR UMA ÁRVORE. AQUI SE PERCEBE QUE A EDIFICAÇÃO ERA RELATIVAMENTE ESTREITA. ESTE CARTÃO POSTAL FOI PRODUZIDO POR IRMÃS CATARINAS QUE SE HOSPEDARAM LÁ EM 1906. REPRODUÇÃO.
Segundo o comentário de Samara Mendes no seu face, a fotografia acima teria sido foi dada à Irma Tecla Doro (então superiora da congregação no Piaui), por Dona Encarnadinha, irmã de D. Lavínia, como recordação dos dias passados naquela residência. Considerando que a identificação da imagem esta escrito em italiano, mesmo que isto fosse uma pratica comum entre as Irmãs de origem Italiana supomos que a lembrança foi levada à Sede da Congregação em Siena para esclarecer onde eram tratadas as religiosas que adoeceram.
Essa relação com o nascente Colégio das Irmãs seria prolongada. Aliás, há indícios fortes que na própria chácara funcionaria uma escola para crianças carentes, mesmo antes da chegada das irmãs italianas ao Piauí.
POR ESTA ANTIQUISSIMA IMAGEM, DE 1904 SE PERCEBE QUE A FAMÍLIA FONSECA FAZIA FUNCIONAR EM SUA CHÁCARA UMA ESCOLA PARA CRIANÇAS CARENTES. ERA A ESCOLA LAVINÓPOLIS. FONTE: REVISTA DO NORTE, SÃO LUÍS, 16 DE JUNHO DE 1904, Nº68.
• Dona Encarnadinha
Uma terceira ilustre moradora da Chácara tornou-se quase uma lenda urbana: Dona Encarnadinha Fonseca, que seria irmã de Lavínia Fonseca.
Consta que a referida senhora foi acometida de hanseníase, passando a viver isoladamente naquela mansão, que perdera seu fausto e afastava as visitas. O preconceito na época era implacável relegava os doentes ao abandono, familiar e social.
Porém não sabemos quando isso começou nem quando terminou. Supõe-se que Collect e Lavínia retiraram-se da chácara e foram morar num dos inúmeros imóveis que possuíam, ficando ali de quarentena perpétua Dona Encarnadinha. Mas seria mesmo ela irmã de D. Lavínia ou de Collect? O nome Fonseca era de Collect e D. Lavínia o herdou pelo casamento. Na verdade isso não é um impedimento para que Encarnadinha, mesmo sendo irmã de D. Lavínia fosse Fonseca. Isso porque talvez ela e a irmã fossem parentes do Sr. Collect, relação muito comum naquelas épocas. Ou ainda há o fato de que até as filhas de empregadas domésticas da chácara batizavam seus filhos com o nome Fonseca, como foi o caso da criança Joaninha Fonseca, que foi recebida como aluna no Colégio das Irmãs.
Segundo as tradições, as famílias recomendavam com veemência a garotada que não se aproximassem da chácara Lavinópolis, pois temiam o contágio da estigmatizada doença de D. Encarnadinha.
A propósito, dos “Fonseca” envolvidos nesta matéria temos a imagem apenas de D. Encarnadinha, mulher rica e poderosa até que a então incurável doença a abatesse.
DONA ENCARNADINHA. ACERVO DIGITAL TERESINA ANTIGA. AUTOR DA IMAGEM E DATA DESCONHECIDOS.
Dizem que o estigma de D. Encarnadinha ultrapassou a sua morte, permanecendo a chácara abandonada por anos, sempre evitada por todos, ganhando com o tempo fama de assombrada até sua demolição completa em época ignota.
Evidentemente nossa matéria sobre a chácara Lavinópolis e os “Fonseca” é extremamente limitada. Faltam fontes de pesquisa, o que nos chegou em grande parte na forma de antigos jornais do Piauí, Maranhão e Rio de Janeiro e de alguns sites. Pode haver descendentes, pessoas com ligações familiares distante ou historiadores mais antigos que possuam informações, fotos, tradições e mais subsídios para completar esta interessante e esquecida página da História teresinense.
• Homenagens ao casal Fonseca
Hoje o casal ilustre no glorioso passado da Teresina do início do século XX é homenageado com nomes de ruas da zona leste nesta Cidade: Rua Lavínia Fonseca e Rua Farmacêutico Collect Fonseca, ambas no bairro Dirceu, através de decretos municipais de 1986.
Fontes:
Cavalcanti, Flávio R. Ferrovias brasileiras em 1907: A viagem do presidente eleito Afonso Pena de norte a sul do Brasil, em 1906. Matéria editada em março de 2012. Acesso: http://vfco.brazilia.jor.br/ferrovias-historia/1907-CIB/1906-viagem-presidente-eleito-Afonso-Pena.shtml
Coutinho, Reinaldo. Arquivo pessoal.
Mendes, Samara. As órfãs sociais dos Colégios das Irmãs: as escolas gratuitas nos colégios confessionais católicos no século XX. In sbhe.org.br/.
Jornal O FLUMINENSE, Niterói-RJ, edições dos dias: 15 e 16 de julho de 1906.
Jornal ACTUALIDADE,Teresina 4 de dezembro de 1989.
JORNAL GAZETA DE NOTÍCIAS, Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1900; 16 de julho de 1906.
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JORNAL A NOTÍCIA, Rio de Janeiro, 11 de agosto de 1896; 25 de agosto de 1896.
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Jornal O APÓSTOLO, Teresina, edições de 05/01/1908; 01/03/1908.
Jornal PIAUHY, Teresina 31 de dezembro de 1910.
Jornal O PIAUHY, Teresina 17 de junho de 1911.
Jornal DIÁRIO DO PIAUHY, Teresina, 08 de julho de 1911.
Jornal CORREIO DE TERESINA, Teresina 04 de abril de 1916.
Jornal A IMPRENSA, Teresina, edições dos dias: 13 de março de 1926; e 18 de agosto de 1925; 21 de junho de 1933.
Jornal O ARREBOL, Teresina 14 de junho de 1925.
REVISTA O BRASIL MÉDICO, RIO DE JANEIRO, ANO 10 Nº 13, 01 DE ABRIL DE 1896.
REVISTA DO NORTE, SÃO LUÍS, 16 DE JUNHO DE 1904, Nº68 e Nº 12, de agosto de 1906.
http://albertoribeirodasilva.blogspot.com.br/2011/06/o-ribeirinho.html
http://teresinaantiga.com/antigas-chacaras-e-quintas-de-teresina.php
http://acervoatitofilho10.blogspot.com.br/2012/05/gente-importante.html A. Tito Filho, 16/05/1991, Jornal O Dia – p. 4, Postado por Jordan Bruno.