Quem conheceu ou conhece as estradas de ferro do estado do Piauí sempre se refere aos seus três trechos conhecidos: Teresina a Parnaíba, desativado em meados dos anos 1990, e os ramais que ainda subsistem, Teresina-São Luís e Teresina-Fortaleza.
Entretanto, longe da capital, em pleno semiárido, uma quase desconhecida ferrovia teve seus tempos áureos em priscas eras, rasgando a caatinga piauiense: A Estrada de Ferro Petrolina-Paulistana.
FONTE: VFCO. BRAZILIA. JOR. BR
Em 1910, o Governo Federal realizou os estudos para a construção de uma estrada de ferro entre Petrolina (Pernambuco), bem em frente a Juazeiro (Bahia), do outro lado do rio São Francisco, e Teresina (Piauí), com o propósito de ligar a rede baiana à do Nordeste.
Aprovado o projeto, as obras tiveram início em 1913 depois e em 1º de março de 1923 foi inaugurado o primeiro trecho (61 km), que ligava Petrolina a Pau Ferro (Pernambuco).
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A primeira estação em território piauiense tinha o nome de Mafrense, no atual município de Acauã, inaugurada em 1928. Em outubro de 1932 o presidente Getúlio Vargas (1882-1954), em decorrência da tragédia humana provocada por uma impiedosa estiagem, autorizou o reinício dos trabalhos ferroviários, com a construção do trecho Mafrense-Paulistana.
FONTE: VFCO. BRAZILIA. JOR. BR
As obras prosseguiram, sendo que em dezembro de 1936 foi inaugurada a estação de Acauã e em 25 de dezembro de 1938, a estação de Paulistana.
Essa ferrovia era o maior patrimônio público da sofrida região sertaneja, castigada pelas secas no Piauí e Pernambuco. A obra era talvez a única oportunidade de progresso da esquecida região. Mas feneceu e desapareceu, levando com ela a esperança de centenas de milhares de sofridos sertanejos. Hoje só restam as ruinas entre Petrolina e Paulistana. Ruínas e melancolia! Talvez o patrimônio restante ainda conservado seja o da estação da cidade piauiense de Acauã, que serve de endereço para a Prefeitura Municipal.
FONTE: VFCO. BRAZILIA. JOR. BR
Os estudiosos apontam algumas razões para a falência do grandioso projeto: em primeiro lugar, a desistência governamental de ligar as ferrovias do sul-sudeste com as estradas de ferro do norte, pela região de Petrolina/Paulistana. Resolveram ligar as ferrovias do sul e norte pela região Petrolina/salgueiro, ambas em Pernambuco.
FONTE: VFCO. BRAZILIA. JOR. BR
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Em segundo lugar, na esfera federal foi decidido em meados dos anos 1960 que as ferrovias que estivessem dando prejuízo seriam desativadas. Era o período de grande crescimento do transporte rodoviário, durante o “Milagre Econômico Brasileiro”, em detrimento do ferroviário, bem mais barato e popular.
ESTAÇÃO DE PAULISTANA EM 1956. FONTE: ENCICLOPÉDIA DOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS, VOL. XV, IBGE, 1959.
A ESTAÇÃO DE PAULISTANA EM RUÍNAS. FOTO: AUTORIA DESCONHECIDA.
PONTE DA FERROVIA DESATIVADA NA CIDADE DE ACAUÃ – PI. FONTE: BLOG DO EVANGELISTA.
SEDE DE EMBARQUE E DESEMBARQUE DA FERROVIA NA ESTAÇÃO DE ACAUÃ, É ATUALMENTE A SEDE DA PREFEITURA. FOTO DO BLOG DO EVANGELISTA.