O jornalista, crítico, contista e memorialista maranhense Humberto de Campos (1886 – 1934) publicou em um dos seus livros uma curiosa passagem intitulada “O prisioneiro Sol Pôsto” o episódio teve como cenário a cidade de Piracuruca-PI, não temos o nome e nem sabemos o ano em que a publicação foi lançada, no entanto temos o texto que diz o seguinte:
IMAGEM ILUSTRATIVA
Domingo último, 8 de fevereiro, publicaram os jornais cariocas este curioso telegrama de Portugal, fornecido pela United Press:
“Lisboa, 7 – Os presos da cadeia de Monte-Mor-Novo serraram as grades do cubículo saindo a passear pelas ruas e a libar pelas tabernas durante a noite, regressando pela manhã à cadeia, com exceção de um deles, cujo paradeiro é ignorado”.
Essa pequena notícia provinciana procedente da outra margem do Atlântico, não constitui para nós nenhuma novidade. Eu próprio contei em livro, há uns quinze anos, três casos brasileiros absolutamente semelhantes, os quais, por sinal, foram vivamente explorados por um escritor espanhol domiciliado na Argentina, autor de um panfleto intitulado “Nuestra guerra”, assinado com pseudônimo Pedro de Córdoba. Um deles, ocorreu em Piracuruca, no Piauí. Não dispondo de verba especial para o sustento dos presos, resolveu o Prefeito Municipal a dificuldade permitindo que os indivíduos ali recolhidos para cumprimento de pena abandonassem pela manhã a prisão, com a condição de, terminada a faina nos seus roçados ou nos serviços de rua, se recolhessem novamente à cadeia. Certa vez, porém, foi essa autoridade procurada pelo carcereiro, que foi fazer uma queixa grave: um dos detentos, o conhecido “Sol-Pôsto”, criminoso de morte, em vez de recolher-se às seis horas da tarde, ao toque da “Ave-Maria”, conforme ficara estabelecido, deixava-se a perambular pelas vendas do mercado até oito e nove horas, indo bater à porta da cadeia quando esta já se achava convenientemente aferrolhada. Dias depois era o “Sol-Pôsto” levado à presença do Prefeito, que lhe fez a mais terrível das ameaças:
– Olhe, “seu” “Sol-Pôsto”, você está saindo do sério, com essa história de querer desmoralizar a autoridade; e se você continuar a chegar à cadeia depois de fechada, eu dou ordem para não abrirem, e você dorme na rua.