Distante cerca de 23 km da sede de Castelo do Piauí, norte do Estado, a localidade Picos dos André guarda inúmeras histórias e é um dos lugares onde encontramos uma das maiores concentrações de sítios arqueológicos do estado do Piauí. Situa-se às margens da PI-322 que liga Castelo do Piauí a Buriti dos Montes.
O lugar tem esse nome por causa de várias formações rochosas semelhantes a picos. Uma das primeiras famílias a fixarem residência ali foi a família André, que, em 1888 construiu a primeira casa, por isso o nome “Picos dos André”, no singular mesmo.
VISTA PANORÂMICA DAS FORMAÇÕES DOS PICOS
PRIMEIRA CASA CONSTRUÍDA NA LOC. PICOS DOS ANDRÉ, EM 1888
- Vestígios do homem primitivo
Na Localidade existem fortes indícios da presença do homem primitivo através das inscrições rupestres (gravuras e pinturas) grafadas nas paredes dos imensos paredões de pedra. Segundo alguns arqueólogos, essas populações eram denominadas de Tradições Nordeste, Agreste e Geométrica.
Na Tradição Nordeste eram representadas cenas do cotidiano, como cerimonial religioso, lutas, atos de sexo, etc. Nessa tradição, além de se conseguir interpretar as cenas retratadas, elas dão ideia de movimento, sendo o dinamismo a característica marcante desse grupo. Já na Agreste, observando os desenhos, dá para diferenciar figuras antropomorfas e zoomorfas, porém elas estão de forma estática, caracterizando a tradição. E na Geométrica, predomina apenas rabiscos e símbolos geométricos, os chamados grafismos puros.
PINTURA RUPESTRE COM CARACTERÍSTICAS DA TRADIÇÃO NORDESTE
ESTA PINTURA PODERIA SER CLASSIFICADA NA TRADIÇÃO AGRESTE
PELA PRESENÇA DE FORMAS GEOMÉTRICAS, ESTA PINTURA É SEMELHANTEÀTRADIÇÃOGEOMÉTRICA
- Confecção das tinturas
Essas pinturas eram feitas com hematita, um composto formado por óxido de ferro. Retiravam corante da própria vegetação que era aquecido e depois misturavam com a hematita, ficando nas cores vermelha (hematita pura) e amarela (hematita hidratada). A Localidade Picos dos André ainda tem um diferencial, porque os seus sítios têm a chamada policromia, que é uma variedade de cores. Existem ainda o preto, que é derivado de restos orgânicos, e o branco, derivado de rochas como a gipisita e a caulinita, que são raras.
PINTURA NA COR PRETA
PINTURAS COM POLICROMIA
Por não ter sido feito nenhum estudo nas pinturas dos sítios na localidade Picos dos André, não podemos classificá-las em nenhuma dessas tradições citadas, e sim dizer que são muito semelhantes.
- Indígenas
As cavernas ou furnas, como são conhecidas na Localidade Picos dos André, também abrigaram algumas tribos indígenas, como os Tabajaras, os Tapuias e os Tacarijus, já que o lugar fica bem próximo da fronteira com o Ceará, de onde vieram fugidos por causa da catequização jesuítica. Os padres jesuítas Francisco Pinto e Luiz Figueira desceram a serra e tiveram contato com essas tribos. Na tentativa de catequizar os tapuias, Pe. Pinto foi brutalmente assassinado por essas tribos.
FURNA ANTERIORMENTE HABITADA POR INDÍGENAS
Segundo Pe. Cláudio Melo no livro “O Mártir do Padre Pinto”, o provável local do massacre do jesuíta está localizado na área que vai desde os paredões rochosos dos Picos dos André até a fazenda Cabeça do Tapuia, que corresponde ao atual município de São Miguel do Tapuio.
- Descendentes
Mesmo alguns autores defendendo a tese que essas tribos foram totalmente exterminadas, na região encontramos muitos artefatos, como instrumentos de pedra, material lítico, arcos de madeira (bestas) usados para caça, etc. Alguns moradores se dizem descendentes desses índios, como o mateiro e guia local Carlos Henrique Almeida, que sabe se localizar na mata como ninguém, é ágil, exímio nadador, conhece a fauna e a flora da região como poucos, além de um grande conhecimento sobre plantas medicinais.
MATEIRO E GUIA LOCAL, CARLOS HENRIQUE ALMEIDA
- Fauna e flora
A localidade ainda preserva algumas espécies animais como roedores (mocó, preá, cutia, pacas), animais de médio e grande porte como onça vermelha e parda, caititu (porco do mato), veados e raposas. A região é também habitada por diversas espécies de serpentes, como jararaca, cascavel, coral verdadeira, saramanta, caninana, etc. As aves jacu, sariema, nambu, cordiniz (codorniz), zabelê, gavião, juriti e asa branca são também comuns.
AVE CAMUFLADA ENTRE A VEGETAÇÃO FECHADA
A flora também é muito rica, tendo espécies variadas como faveira, aroeira, ipê (roxo e amarelo), tinguizeiro, imburana, imbuzeiro, catingueira e chapada, pois a região localiza-se numa zona de transição entre caatinga e cerrado.
Uma equipe de professores, formada por Augusto Júnior (geografia) e Paulo Clímaco (história), acompanhada por Carlos Henrique, morador da região e condutor de visitantes, desbravando a mata a dentro, nessa que é uma verdadeira cidade de pedra, visitou, além dos sítios arqueológicos mais conhecidos (Ninho do Urubu, Pedra do Aleixo, Pedra do Dinheiro), outros ainda bem preservados e totalmente desconhecidos do grande público, como a Pedra da Rainha e o magnífico labirinto rochoso do Salão dos Índios.
AUGUSTO JÚNIOR, PAULO CLÍMACO E CARLOS HENRIQUE NO PICO MAIS ALTO DO LUGAR
Vale a pena ressaltar que a Localidade Picos dos André, por ter inúmeros sítios arqueológicos muito ricos em arte rupestre é um dos atrativos turísticos mais visitados de Castelo do Piauí. Essas visitações devem sempre ser acompanhadas por um condutor de visitantes do município, pois conhecem bem a região e têm a função de evitar ao máximo a degradação do local.
Apoio: Paulo Clímaco e Carlos Henrique
- Mais fotos
COMUNIDADE VISTA A PARTIR DO SEU PONTO MAIS ALTO
AUGUSTO JÚNIOR OBSERVANDO PAINEL DE PINTURAS
PEDRA DA BALEIA VISTA DE FRENTE (BOCA DA BALEIA)
FIGURA GEOMÉTRICA PRESENTE NO SALÃO DOS ÍNDIOS
FIGURAS GEOMÉTRICAS E ANTROPOMORFAS OU ZOOMORFAS
CASA ANTIGA DA LOCALIDADE, COM AS FORMAÇÕES ROCHOSAS AO FUNDO
PAULO CLÍMACO E CARLOS HENRIQUE NA PEDRA DO ALEIXO
PINTURAS RUPESTRES NA PEDRA DA RAINHA
Fonte: Augusto Júnior (Apoio: Paulo Clímaco e Carlos Henrique) http://www.portalcdp.com.br