Meteoro gigantesco caiu no Piauí há milhões de anos

astr1.jpg - 29.06 KB

Chamamos de astroblemas as imensas marcas deixadas por gigantescos corpos celestes que colidiram com o nosso planeta há milhões de anos. A expressão vem do grego Astron (astro) e Blema (cicatriz). Podemos diferenciar estas crateras de impacto das crateras comuns pelo fato de serem sempre maiores, mais antigas e muitas vezes sem vestígios de restos do meteorito que as causou. Geralmente só são identificadas após exaustivo trabalho geológico de campo e pela interpretação de imagens de satélite, onde as estruturas de impacto mostram-se dômicas e circulares. 

 astr1.jpg - 29.06 KB
CRATERA DE IMPACTO BARRINGER, NO ARIZONA, ESTADOS UNIDOS. POSSUI 1,6 KM DE DIÂMETRO E PROFUNDIDADE DE 200 METROS. É NOVA, POIS O IMPACTO OCORREU APENAS HÁ 50.000 ANOS. A QUEDA DO METEORO DEVE TER SIDO PRESENCIADA POR ANTIGOS AMERICANOS. REPRODUÇÃO.

Os milhões de anos de intemperismo, erosão e atividades tectônicas modificam tanto a antiga cratera de impacto que, às vezes, seu reconhecimento é demorado.

 astr2.jpg - 17.90 KB
 FIGURA HIPOTÉTICA MOSTRANDO UM IMPACTO CAUSADO POR UM METEORO NA TERRA. REPRODUÇÃO.

A Terra já sofreu milhares destes potentes bombardeios celestes, mas a maioria dos astroblemas não é mais identificada hoje. Sem contar com os impactos nos oceanos, quase impossíveis de serem detectados. Aliás, um destes impactos, há 65 milhões de anos atrás, provocou uma grande catástrofe na Terra e a consequente extinção dos dinossauros. Trata-se da Cratera de Chicxulub, na Península do Iucatã, México.

A cratera Chicxulub é uma antiga cratera de impacto soterrada. O seu centro está localizado próximo à localidade de Chicxulub, que deu origem a zona de impacto. A cratera tem mais de 180 quilômetros de diâmetro, tornando-a uma das maiores estruturas de impacto conhecidas no mundo; o bólide que a formou a cratera tinha pelo menos 10 km de diâmetro.

 astr3.jpg - 48.07 KB
 MAPAS APRESENTANDO A ÁREA DE IMPACTO EM TERRA E NO MAR DO MÉXICO. FONTE: WIKIPEDIA.

A idade das rochas mostra que essa estrutura de impacto data do fim do Cretáceo, há aproximadamente 65 milhões de anos. O impacto associado com a cratera teria estado envolvido na extinção de numerosos grupos de animais e plantas, incluindo os dinossauros. Recentes evidências sugerem que o meteoro pode ter sido um pedaço de um asteróide muito maior que se fragmentou numa colisão no espaço distante há mais de 160 milhões de anos.

As ondas de choque do impacto e suas consequências como tsunanis, nuvens de pó e de cinzas, superaquecimento, incêndios globais, terremotos e erupções vulcânicas foram devastadores.  As consequências após o impacto inicial também foram catastrófica para a vida no planeta: repentino e mortal efeito estufa causado por elevação incomensurável de dióxido de carbono na atmosfera; ausência de fotossíntese por séculos devido a cinzas por toda a atmosfera; chuva ácida; mudanças climáticas; extinção de vegetações inteiras afetando a cadeia alimentar; extinção de animais como dinossauros, etc.

 astr4.jpg - 27.02 KB
IMAGEM ARTÍSTICA E HIPOTÉTICA DO INFERNO QUE ARDEU NA TERRA PROVOCADA PELA QUEDA DE UM METEORO HÁ 65 MILHÕES DE ANOS.. FONTE: http://blogs.longwood.edu/kepleasants/2013/03/24/sixth-mass-extinction/ 

Calcula-se que hoje existam, identificados ou em estudo, mais de 120 astroblemas no nosso planeta. 

Só as crateras menores e mais jovens contêm fragmentos meteoríticos, que as tornam possíveis de serem identificadas prontamente. Nas maiores e mais antigas, com maior estado erosivos-deposicional, as condições de pressão e temperatura, geradas pela liberação de imensa quantidade de energia do impacto fazem com que, tanto o meteoro como as rochas que foram atingidas, sofram elevado metamorfismo, o que destrói os vestígios diretos do bólide.No caso de cometas, por serem em sua maior parte constituídos por gelo e poeira, do seu choque não restariam vestígios diretos.

Acredita-se que a maioria dos astroblemas foi causada pelos asteroides do cinturão que gravita entre Marte e Júpiter. Já foram catalogados mais de 3.000 deles, e estima-se que o seu número total alcance a 400.000 corpos. Seus tamanhos variam de uma unha a centenas de quilômetros de diâmetro. O maior deles, Ceres, possui mais de 1.000 km de diâmetro. Vez por outra um deles, em suas órbitas irregulares, passa relativamente próximo ao nosso planeta. Seria preciso bem menos do que o choque com Ceres para riscar a vida de nosso planeta…

aast.jpg - 36.20 KB
IMAGEM ARTÍSTICA DO CINTURÃO DE ASTERÓIDES. FONTE: http://www.materiaincognita.com.br/existe-vida-extraterrestre-resposta-pode-estar-nos-cinturoes-de-asteroides/#axzz2yxXGxp96

No Brasil existem uns 12 astroblemas, alguns ainda em fase de estudos e identificação. O maior de todos é o Domo de Araguainha, localizado entre as cidades de Ponte Branca e Araguainha, na divisa dos estados do Mato Grosso e Goiás. O impacto ocorreu há uns 247 milhões de anos. O diâmetro do que restou da cratera é de 40 km. O impacto equivaleu a milhares de vezes a potência da bomba lançada em Hiroshima. Imaginem o desastre ecológico na época. É o maior e mais antigo astroblema da América do Sul.

 astr5.jpg - 65.53 KB
IMAGEM DO SATÉLITE LANDSAT MOSTRANDO O DOMO DE ARAGUAINHA, A MAIOR E MAIS ANTIGA CRATERA DE IMPACTO DA AMÉRICA DO SUL. FONTE: ÁLVARO CRÓSTA. 

E aqui no nosso Piauí temos o Domo de São Miguel do Tapuio, na região centro norte do Estado. Na verdade, este domo ainda em fase de estudos e identificação para ser comprovado como cratera de impacto.

Segundo Crósta (2006) o nosso pretenso astroblema tem seu centro em centro em 5º38`S/41º24`W, e diâmetro de 22 km. Sua morfologia é de assimetria das escarpas, íngreme e elevadas ao oeste e suaves a sudeste, dois anéis concêntricos, apresentado uma elevação central. Teria impactado ainda no período de pré-abertura do Oceano Atlântico, há uns 200 milhões de anos, aproximadamente na passagem do Triássico para o Jurássico.

 astr6.jpg - 42.04 KB
IMAGEM LANDSAT DO DOMO QUE SE SUSPEITA TER SIDO CAUSADO POR UM METEORO EM SÃO MIGUEL DO TAPUIO-PI. FONTE: landsat http://www.relevobr.cnpm.embrapa.brconteudocuriosidadespi1.htm

 astr7.jpg - 34.58 KB
 IMAGEM ORBITAL DO RELEVO DO DOMO DE SÃO MIGUEL DO TAPUIO FONTE:  http://www.relevobr.cnpm.embrapa.brconteudocuriosidadespi1.htm

A estrutura dômica de São Miguel do Tapuio recebe constantemente equipes de geólogos e geofísicos para investigações no intuito de comprovar definitivamente que se trata de uma estrutura de impacto, ou seja, um astroblema e não de uma gigantesca feição erosiva circular. 

Geólogos da UFC-Univ. Fed. do Ceará realizaram durante o mês de Janeiro de 2014, a segunda etapa do levantamento geofísico gravimétrico de alta resolução na estrutura circular de São Miguel do Tapuio. Mais uma coleta de subsídios geológicos e gravimétricos para inserir de vez a estrutura no âmbito de astroblemas.

 aastb.jpg - 50.05 KB
DETALHES DA AQUISIÇÃO DE DADOS GRAVIMÉTRICOS (GEOFÍSICOS) NO INTERIOR DA ESTRUTURA CIRCULAR DE SÃO MIGUEL DO TAPUIO-PIAUÍ PELA EQUIPE DA UFC. FONTE: PORTALSAMITA in http://www.tapuionoticias.com/?pg=noticia&id=5933

A colisão deve ter correspondido a milhares de explosões nucleares. Não conhecemos a amplitude das extinções provocadas na vida primitiva daquela época. Mas isso foi há muitos milhões de anos. Isso não significa que um dia não possa acontecer novamente. 

Fontes: 

Crósta, Álvaro. P. 2006. Crateras meteoríticas no Brasil. Textos de Glossário Geológico Ilustrado http://www.unb.br/ig/glossario/

Crósta, Álvaro. Domo de Araguainha – O maior astroblema da América do Sul. In: Schobbenhaus,C.; Campos,D.A.; Queiroz,E.T.; Winge,M.; Berbert-Born,M. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Publicado na Internet em 01/07/1999 no endereço http://www.unb.br/ig/sigep/sitio001/sitio001.htm [atualmente http://sigep.cprm.gov.br/sitio001/sitio001.htm ]

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cratera_de_Chicxulub