A misteriosa pintura rupestre existente na Serra Negra, Parna Sete Cidades e a teoria de Jacques Mahieu

O Parque Nacional de Sete Cidades guarda mistérios que transcendem ao tempo, muitos deles não tem uma resposta totalmente fundamentada cientificamente, ficando na margem de um rio de fantásticas especulações. São teorias muito bem costuradas e até sustentadas, com letrados argumentos registrados em livros.

A seguir, alguns estudiosos, com as suas curiosas teorias sobre as Sete Cidades do Piauí:

  • Ludwig Schwennhagen (Naturalista austríaco): propôs a teoria de que as formações das Sete Cidades registram a passagem dos fenícios pelo Brasil.
    Livro “Antiga História do Brasil”, de 1928.
  • Gabriele D’Annunzio Baraldi (Pesquisador italiano): apresentou a ousada teoria de que em Sete Cidades podem estar soterrados restos do continente da Atlântida.
  • Erich von Däniken (Pesquisador suíço): defendeu a teoria de que deuses extraterrestres teriam estado nas Sete Cidades.
    Livro “Semeadura e Cosmo”, de 1973.
  • Jacques Mahieu (Arqueólogo e antropólogo francês): argumenta que a região foi um ponto estratégico e habitado pelos Vikings há cerca de mil anos.
    Livro “Os Vikings no Brasil” de 1976.

Em todos esses estudos, as pinturas rupestres existentes na área do Parque, são usadas como matéria-prima para confirmar as afirmações. São um amontoado de símbolos, com várias formas e tamanhos, dispostos em dezenas de Sítios Arqueológicos com pinturas multimilenares espalhadas pela área do Parque, das quais são tiradas as mais diversas motivações e significados.

Destaco aqui, a teoria de Jacques Mahieu, sobre a presença Viking nas Sete Cidades. Mahieu teve uma atenção especial sobre uma pintura rupestre existente nas Sete Cidades, no Sítio Arqueológico Pontal da Serra Negra.

A pintura fica em um abrigo sobre rocha. De acordo com Reinaldo Coutinho: O conjunto é ordenado e harmônico, obedece uma sequência regular e a repetição intercalada de alguns signos nos leva a crer que se trata de um tipo surpreendentemente moderno de escrita (1).
Outros registros de pinturas do Sítio Pontal da Serra Negra são vistos no final desse texto. No link para o Projeto Artes do Bitorocaia.

Mahieu afirmou, sem nenhum obstáculo ou inibição, que aquela escrita seria Viking, sendo “traduzida” da seguinte maneira. “Os inteligentes barbados próximos de sua residência na planície“! (1)

Sobre essa pintura, Reinaldo Coutinho completa:

“No nosso entendimento, existiu uma escrita, talvez de natureza alfabeto-silábica no Brasil pré-histórico, só que a mesma não era parte integrante de nossa cultura indígena, mas sim, uma possessão exclusiva da casta sacerdotal dos membros estrangeiros da antiga cultura megalítica. Cremos haver um único exemplo desta desaparecida escrita em Sete Cidades.

É composta pôr sete glifos, alguns deles repetidos. Não acreditamos que haja, em toda a simbologia rupestre do Brasil antigo uma inscrição que mais se assemelhe a uma antiga e desconhecida forma de escrita, talvez de natureza alfabética como se poderia supor pelas repetições em apenas sete símbolos, ou talvez silábica, ou ainda uma combinação das duas formas, como acontece, por exemplo, com as antigas cipro-minóica e ibéricas.

O que é certo é que a inscrição da Serra Negra não faz sentido completo em nenhuma das antigas escritas conhecidas do Velho Mundo. Onde seriam correntes o uso de seus signos? Não o sabemos. Seriam uma escrita iniciática, de uso exclusivo da casta sacerdotal do povo dos megalitos, tendo seus servidores ou uma outra forma de escrita, mais popular, como ocorria com o “Antigo Egito? E esta escrita popular não seria de natureza alfabética? Alfabeto, milhares de anos antes da “invenção” dos fenícios? Não seria uma incoerência? Podemos afirmar que não!

Se existiu um alfabeto pré-fenício, não podemos prová-lo. Entrementes, símbolos alfabetiformes existiam não só na Europa Neolítica como também no Brasil pré-histórico.” (1)

Já para Marcos Chastinet*, historiador e pós-graduado em arqueologia:

“Já li o livro “Vikings no Brasil”, de autoria de Mahieu, e ele acredita que as inscrições da Serra Negra sejam em rúnico “Furthok” que relataria algo sobre povos barbados encontrados na planície (que ele acha que seja na Amazônia!). Estive na Serra Negra na década de 80, cujo acesso a época era difícil, e o que vi foram desenhos simétricos que podem ter sim alguma mensagem simbólica, mas dificilmente seria um relato num alfabeto de língua germânica antiga.

Pensando bem, por que estes navegadores iriam se aventurar a mais de centena de quilômetros do mar, adentrar o mato até a Serra Negra, para ali elaborar o relato de povos situados na bacia amazônica? De resto, Mahieu tinha predileção por encontrar influência germânica por toda América do Sul, talvez por conta de sua filiação a teorias eugenistas nazistas.

Tudo leva a crer que Mahieu, assim como Schwennhagen e outros, é herdeiro de uma visão de ciências sociais baseada no Darwinismo Social que encara os antigos povos europeus e asiáticos como superiores aos povos indígenas pré-coloniais da América.”

O que é real, é que este mundo de suposições e teorias, sejam cientificamente comprovadas ou não, vem se tornando ao longo dos anos, um forte fator de divulgação do Parque, tornando-se fundamental para que as Sete Cidades do Piauí sejam conhecidas pelo mundo a fora.

Serra Negra – Pontal


Referências bibliográficas:

1 – COUTINHO, Reinaldo. Desvendando Sete Cidades. Edições Tur-Troya. Teresina: Expansão, 2000.

* Marcos Chastinet Junior, é licenciado em História pela UFC, pós-graduando em Arqueologia Social Inclusiva pela URCA/Fundação CasaGrande. Atualmente participa de grupo de pesquisa e apoio a comunidades na preservação do patrimônio histórico e arqueológico. É autor do livro Repensando a História da Gente, volumes I e II, LOWES Editora, 1997/1998 (Ensino Fundamental II).