Árabes no Piauí antes da “descoberta” do Brasil

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A velha e surrada historieta da pomposa descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral (1467 ou 1468 – 1520 ou 1526) e a do nosso Piauí pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho (1614-1703) ou pelo português Domingos Afonso Mafrense vez por outra é posta espremida contra a avassaladora parede da contestação e da desconfiança. Teria tudo se passado realmente assim mesmo, mecanicamente compassado, como arquitetam maquiavelicamente as conspirações gabineteanas dos nossos jumentóides e intragáveis sábios de plantão?

O que teria se passado no nosso país séculos antes de Cabral e do naufrágio do infausto Nicolau de Resende no delta parnaibano no século XVI? Só o ir e vir interminável de irrequietos e impulsivos povos nômades brasílicos, num cotidiano apenas de abrangência interna, sem nenhuma ingerência de navegantes de outros continentes, como é muito cômodo afirmar? Nada de fenícios, de vikings, de egípcios, de normandos, de povos do mar, de atlantes, etc.?

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MAIS DE DUAS CENTENAS DE KM DO OCEANO, O DESENHO DE UM NAVIO COM DUAS VELAS NO LUGAREJO PICOS, MUNICÍPIO DE CASTELO DO PIAUÍ.

• Os grandes desbravadores do Brasil

Para o historiador carioca Antônio Leite Pessoa (1905 – ?), os árabes islamizados e estabelecidos na Península Ibérica (Portugal e Espanha) foram os grandes desbravadores do Brasil antigo e, inclusive do nosso território piauiense. E isso muito antes da descoberta oficial de nosso território por parte de qualquer europeu moderno. É o que o autor defende nos seus livros História da Civilização da Arábia e do Brasil desde a Idade Média (1983) e A Origem da Palavra Brasil (1974), ambos polêmicos, mas que requerem uma atenção especial em certos detalhes e passagens.

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PROPAGANDA DO LIVRO A ORIGEM DA PALAVRA BRASIL, NUM JORNAL CARIOCA. FONTE: JORNAL DO BRASIL, RJ, 08 DE ABRIL DE 1975.

Segundo Pessoa, tudo teria começado no século VIII, quando a Espanha foi invadida por povos islâmicos vindos do norte da África, travando-se ali sanguinários combates entre cristãos e seguidores de Maomé, pela posse da terra europeia. Os islâmicos prevaleceram depois de encarniçadas batalhas e ocuparam a Ibéria, ficando conhecidos como mouros.

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MAPA MOSTRANDO A OCUPAÇÃO MOURA DA PENÍNSULA IBÉRICA ATRAVÉS DO NORTE DA ÁFRICA. FONTE: WWW.CAUSAMERITA.COM.

• Balj-Ibn-Beshr: a origem do nome Brasil

Vitorioso, um destacado membro da dinastia dos Omniades, um árabe de nome Balj-Ibn-Beshr (? – 742), com o nome de Vali I, formou o califado de Córdova e governou toda a Espanha (Andalus) por 31 longos anos, segundo Pessoa. Porém os registros históricos que consultamos referem-se a sua administração em apenas um ano, o de sua morte, em 742. Diz o pesquisador carioca que o seu governo foi o mais rico e progressista da civilização moura na Península Ibérica, com grande desenvolvimento das artes, da arquitetura, da ciência e da literatura.

A cidade de Córdova (ou Córdoba) tornou-se, naquele século, a maior cidade do mundo. Possuía um milhão de habitantes, sete bibliotecas públicas e uma famosa universidade, segundo Pessoa. Acrescentamos que foi uma das primeiras cidades do mundo a possuir iluminação pública.

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A CIDADE MOURA DE CÓRDOBA, ATUALMENTE. FONTE: CONSORCIO DE TURISMO DE CÓRDOBA.

Pois teria sido aquele poderoso califa, segundo o referido pesquisador, quem deu início às navegações árabes ao Brasil, emprestando, inclusive, seu nome ao nosso país. Sim, o étimo Brasil não seria originário de uma madeira que produzia uma tinta valiosa de igual nome. A evolução fonética do nome do mandatário árabe até o de nosso país teria sido: Braj-Ibn; Bralj-Ien; Bralj-Ie e, por fim, Brasile e Brasil. Muito engenhoso, mas não muito convincente, não? Em filologia e linguística quase tudo é possível, a depender das artimanhas e objetivos do interessado…

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REPRODUÇÃO IMAGINÁRIA DE PESSOA DA FIGURA DO CAFILA BRAJ-IBN.

O pesquisador carioca chega a apresentar o autógrafo de Braj-Ibn já com o nome de “Brasile”, para demonstrar a origem de nosso étimo…

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ASSINATURA DO LÍDER MOURO, SEGUNDO PESSOA.

Segundo Pessoa, os árabes herdaram vários roteiros náuticos dos antigos fenícios e de outros povos mediterrâneos e chegaram ao Brasil partindo de Faro (Portugal), via Açores. Sua presença no nosso país teria sido em larga escala e durado próximo de 500 anos (770 a 1.220). Seria, pois, um amplo e longo domínio colonizador, com uma história interna muito recheada de episódios lamentavelmente perdidos e esquecidos, em caso de terem ocorrido realmente.

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ROTEIRO DOS ÁRABES ATÉ O BRASIL, SEGUNDO PESSOA. 

• Um Brasil de vários povos

Aqui no Brasil os muçulmanos teriam se miscigenado com descendentes de egípcios, fenícios, indianos, chineses, romanos, gregos, portugueses e espanhóis, além de nativos. Isso mesmo! Não estranhem! Pessoa aponta para o nosso Brasil pré-cabralino um caldeirão étnico muito complexo, com povos heterogêneos, de etnias diversificadíssimas, chegados aqui em épocas muito distintas e em circunstâncias muito variadas. Era um Brasil cosmopolita e universalista, tal qual uma Nova Iorque atual.

Assim, neste ousado e lamentavelmente pouco embasado raciocínio, os próprios portugueses e espanhóis já viveriam no nosso vasto hinterland muito antes de Pedro Álvares Cabral (1467-1520) e Cristóvão Colombo (1451-1506) chegarem ao nosso continente. Ou seja, nada de novidade na partilha ibérica da futura América pelo Tratado de Tordesilhas (07 de junho de 1494). Muitos destes ibéricos que aqui viveriam seriam desterrados, exilados durante a ocupação Moura. A presença de desterrados mais recentes porém pré-cabralinos foi retomada por outros autores recentemente.

• As crônicas de Porto Cale

Aliás, segundo uma crônica de Porto-Cale (cidade do Porto, Portugal) escrita em latim, quando os árabes destruíram o Império Visigodo da Espanha (711) e invadiram a Lusitânia (parte do atual Portugal), o arcebispo de Porto-Cale recusou-se a se submeter ao jugo dos infiéis. Teria juntado várias centenas de voluntários, cerca de 500 e, no ano de 734, rumaram em 20 veleiros rumo ao longínquo oeste, nas vastidões do Atlântico. Nunca mais se soube da expedição, mas é possível que, naufrágios à parte, pelo menos porção dela tenha conseguido alcançar as costas brasílicas, possivelmente na porção oriental do Nordeste.

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PORTO CALE OU CIDADE DO PORTO, ATUALMENTE. FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Portus_Cale 

• Uma sociedade formada antes de Cabral

Por volta de 1.200, sempre na explicação de opinião de Pessoa, o Brasil contaria com o número fabuloso e pouco crível de 30 milhões de habitantes. Todo o litoral do Rio de Janeiro parte de São Paulo, o leste de Minas Gerais e a parte Oeste do Mato Grosso eram habitados por árabes, espanhóis, italianos, gregos e portugueses… Como já dissemos, um caldeirão étnico fumegante e altamente diversificado…

Em outras palavras, bem antes da chegada de Cabral aqui já existiria uma sociedade firmada, praticamente um proto-estado. Explica o autor:

Era uma sociedade estável, onde moravam famílias e agrupamentos distantes, de aborígines e mamelucos, e até existiam plantações de mandioca, de chá e de cana-de-açúcar. Até mesmo uma forma de governo que, embora primitivo, já dá a entender ser um organização.

Segundo o historiador carioca, a historiografia oficial do Brasil ignora propositadamente a presença de colonizadores árabes pré-cabralinos. Aliás, pelo menos nisso ele não diz nenhuma novidade; o mesmo fazem os doutos arqueólogos em relação à presença dos fenícios e povos do mar, por exemplo, no nosso antigo Brasil. 

O pesquisador cita o desconhecido mapa de Guilherme le Festu, da Biblioteca do Ministério da Guerra, de Paris, datado do final do século XVI. Ali se observariam desenhados dois magníficos castelos feudais na Bahia e no Rio de Janeiro. Supõe-se que as ruínas destes castelos ainda existiriam durante parte do século XVI. Porém nunca conseguimos nenhum dado sobre este Le Festu nem sobre seu mapa na web ou em qualquer livro. Lamentavelmente não temos mais informações sobre este polêmico mapa, além da citação de Pessoa.

• A colonização moura do Brasil entra em decadência

Na Espanha, depois da morte de Brasile (Bralj-Ibn), surgiu como dominante a dinastia dos Abássidas. A guerra entre os clãs Omníades e Abássidas teria sido a causa da decadência da bem-sucedida colonização árabe no Brasil. A divisão interna dos donos do poder causou o enfraquecimento do seu domínio no nosso território, advindo daí a decadência.

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IMAGEM MERAMENTE ILUSTRATIVA MOSTRANDO A MARCHA DE UM EXÉRCITO MOURO. FONTE: www.revista-temas.com

Com a vinda ao nosso território dos novos senhores do poder entre os mouros, acredita-se que tenham ocorrido sangrentos combates entre os diferentes clãs islâmicos aqui em nossas terras, encerrando o seu ciclo colonizador entre nós.

A navegação de árabes ao Brasil pré-cabralino em si nada possui de fantasiosa ou impossível, independentemente da plausibilidade das teorias de Pessoa. Afinal, os islâmicos foram grandes navegadores, herdeiros de acervo técnico em conhecimentos náuticos de fenícios, gregos, egípcios, cários, cartagineses e tartessos. E, acima de tudo, ocuparam a Península Ibérica, posição até hoje estratégica e porta de saída do Mediterrâneo rumo à América.

Bem antes de Antônio Pessoa, o diligente pesquisador austríaco Schwennhagen (1860-1934) já escrevia em 1928:

Um sábio sírio que fez viagens ao Brasil declarou numa conferência que teve, em 1923, no Maranhão, que na antiga literatura árabe existem muitos documentos sobre as viagens dos navegadores árabes para o Brasil e Chile.

• A navegação do imperador malinês a Pernambuco

Se não árabes, pelo menos a suposta presença de islamitas no Brasil pré-cabralino é defendida atualmente por um reputado pesquisador africano. Assim, segundo o historiador malinês Gaoussou Diawara, no seu livro A Saga de Abubakari II… Ele Partiu com 2000 Barcos, um imperador da África negra islamizada, que governou a região do atual Mali no século XIV, teria descoberto a América cerca de 200 anos antes da chegada de Cabral. 

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O IMPÉRIO DO MALI EM 1350, SEGUNDO WWW.WIKIPEDIA.ORG.

Em seu navio Abubakari II teria desembarcado no litoral pernambucano em 1312, liderando uma imensa frota.

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SEGUNDO O HISTORIADOR MALINÊS GAOUSSOU DIAWARA, UM ANTIGO IMPERADOR DO MALI NAVEGOU ATÉ O BRASIL MUITO ANTES DE CABRAL. FONTE: WWW.15MIN.LT

O imperador Abubaraki II governou de 1310 a 1312 e renunciou em favor de seu filho Kangumussa, partindo em seguida numa gigantesca expedição, com 2.000 barcos, rumo ao Ocidente. Segundo os antigos relatos do Mali, o grande aventureiro negro tinha como meta saber se o oceano Atlântico possuía outra margem, como ocorria com o portentoso rio Níger, que corta este país africano.

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ESTE SERIA ABUBAKARI II. FONTE: KILOMBOCULTURAL.BLOGSPOT.COM.

Aliás, para isso antes ele havia antes enviado uma expedição de 200 barcos, com muitos homens e víveres, para descobrir a outra margem do Atlântico. Após muito tempo ausente, só um dos navios retornou. O capitão sobrevivente contou então ao rei Abubakari II que os outros navios desapareceram em pleno mar, numa… espécie de rio com violenta correnteza…

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REPRODUÇÃO IMAGINÁRIA DA GIGANTESCA EXPEDIÇÃO DE ABUBARAKI II FONTE: WWW.MUSLIMNEWSMAGAZINE.TV.

Seria aquela a imagem exagerada da Corrente do Golfo, desconhecida para os africanos? Ou teriam descoberto a foz do rio Amazonas e a frota sofrida a impetuosidade de sua implacável pororoca? Ignoramos. Mas a hipótese do estudioso africano merece ser olhada com carinho.

O fato é que o rei do Mali não se desestimulou com o desaparecimento da primeira frota e equipou os 2.000 novos barcos. Eram 1.000 para as tripulações e soldados e 1.000 para água e víveres. Um fabuloso exagero histórico? Realmente algo espantoso, uma emigração em alta escala. Mas, quando se fala nos antigos potentados negros da África, esta imensidão de barcos não nos parece incrível. O que é fato é que a expedição nunca mais retornou ou deu notícias. Os cronistas africanos da época ignoram totalmente o seu fim.

Segundo Tiemoko Konate, que coordenou estas pesquisas no Mali, o nome Pernambuco seria uma corrupção de Bore Bambouk, nome dado aos campos de extração de ouro do império malinês. Teríamos que supor, então, que os malineses encontraram minas de ouro neste estado nordestino e, lembrando-se de suas terras auríferas na África, deram-lhe o nome pátrio…

Os pesquisadores africanos substanciaram suas teorias com as afirmações, bastante conhecidas de Colombo, de que teria encontrado comerciantes negros nas terras americanas. E algumas lanças de ouro encontradas entre os ameríndios seriam de origem africana. Mas tal observação não é muito relevante, pois a presença de povos negros, de biotipo africano, é registrada nas gigantescas esculturas basálticas de cabeças humanas da civilização mexicana Olmeca, as quais, entretanto, são datadas em 1.250 AC., ou seja, muito antes da suposta presença de navegantes do Mali.

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GIGANTESCA CABEÇA DE BASALTO COM FEIÇÕES NEGROIDES DA ANTIGA CULTURA OLMECA DE LA VENTA, MÉXICO, COM PESO DE MUITAS TONELADAS. FONTE: WWW.WIKIPEDIA.ORG. 

De qualquer maneira, se as hipóteses dos historiadores africanos pudessem se confirmadas, estes navegantes malineses seriam seguramente uma presença islâmica no Brasil, embora não árabe. Com efeito, a conversão do Mali ao Alcorão é anterior ao ano 1068 DC.

Aliás, inscrições em algarismos árabes medievais teriam sido descobertas no Paraguai pelo francês germanófilo Jacques Marie de Mahieu (1914-1990) nos anos 1970. Uma destas inscrições, se traduzida corretamente, apontaria a data de 1305, um pouco antes da viagem do malinês. Apesar de tudo, de Mahieu as reputa como sendo de origem viking, alegando os nórdicos teriam adotado os caracteres árabes na Idade Média.

Segundo nossa amiga paraibana Zilma Pinto, notável pesquisadora nordestina, a presença árabe no antigo Brasil pode estar patente nas gravuras rupestres da famosa Pedra do Ingá, no seu Estado.

Ali estariam registrados símbolos esotéricos de antigos impérios islâmicos. Também a escritora baseou-se em figuras humanas registradas em outros exemplos da arte parietal do Nordeste, onde observou figuras de trajes e calçados típicos de antigo uso entre sírios, turcos, berberes e maragatos.

 •Um leão mouro é encontrado no Rio de Janeiro

Voltando aos Mouros de Pessoa Leite, o pesquisador acrescenta uma curiosa prova material da presença islâmica no Brasil. Ele apresenta em seu livro uma imagem de um leão de pedra que teria sido encontrado em tempo e circunstâncias ignotas na cidade carioca de Angra dos Reis e em seguida compara a figura a uma uma semelhante da cultura Moura em granada (Espanha).

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DESENHO DE UM LEÃO DE PEDRA SUPOSTAMENTE ENCONTRADO EM ANGRA DOS REIS-RJ. DESENHO DE PESSOA.

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DESENHO DE UM LEÃO DA CULTURA MOURA NA IBÉRIA, SEGUNDO PESSOA.

Pessoa Leite teve suas ideias refutadas pelo jornalista José da Cruz Cordeiro Filho (1905-1984) em publicação no Jornal do Brasil de 10 de maio de 1975, logo após lançar seu livre “A Origem da Palavra Brasil”. Diz Cordeiro, após tecer várias considerações sobre o étimo Brasil:

Inaceitável então o livro “A origem da palavra Brasil”, de Antônio Leite Pessoa (Rio, 1974) dando Brasil como vindo do nome do governador muçulmano Bralj-ibn, alterado em Brasile no seu atrapalhado autógrafo (pag. 35), quando tal personagem jamais teve qualquer ingerência ou relacionamento com negócios de pau-brasil…

• O Piauí dominado pelos mouros

E qual seria a relação árabe com o Piauí pré-histórico na visão de Antônio Pessoa? Baseado em critérios cartográficos e linguísticos, Pessoa acredita que o Piauí foi, provavelmente, o ponto inicial da história do Brasil sob o domínio árabe.

Em carta de três de novembro de 1978, dirigida ao então Presidente do Congresso Nacional, o ilustre piauiense Petrônio Portela Nunes (1925-1980), Antônio Pessoa afirmava textualmente que:

…O Piauí foi o ponto inicial da nossa história. Ou foi lá ou no Maranhão que a nossa primeira metrópole se construiu!

Aquele califa Bralj-Ibn teria pessoalmente efetuado várias viagens ao antigo Brasil, atingindo inclusive nosso Estado. Diz Pessoa:

A primeira viagem deu-se no ano de 705, quando era ainda vali de Marrocos. Tendo deixado três caravelas na Ilha Terceira, no ano de 700, para proteção às ilhas de Açores. Voltou em 705, conforme lhe havia prometido, e nessa viagem, a primeira realizada por navegadores da Arábia e de Marrocos, trouxe umas 200 famílias das ilhas e alguns berberes como auxiliares de agricultura. Foram assim ao todo 4 caravelas muçulmanas as primeiras a chegar à foz do Rio Parnaíba, no Piauí.

A capital do estado do Piauí, artificialmente implantada às margens do rio Parnaíba em 1852 foi, como se sabe, homenageada com o nome da imperatriz Dona Thereza Cristina Maria de Bourbon-Sicílias e Bragança (1822-1889), esposa do nosso imperador D. Pedro II (1825-1891).

Não obstante este usual conhecimento, Pessoa tem outra interpretação ao nome de nossa capital, algo um tanto delirante e pouco sustentável:

Há ali também, na cidade de Viçosa, em Portugal, muitas ruínas do passado que foram reconstruídas e existiram no local próximo à vila, chamada Terência e Velha. A origem da sua antiguidade não é possível de ser calculada, mas sabe-se que no ano de 715 até 1217 ela foi um longo domínio sarraceno.

Por analogia ou mesmo por coincidência na sua origem participativa, o vocábulo terere, que significa segundo Júlio César: Era de membros bem proporcionados, era de figura bem feita.

Mas, tem mais: a própria mulher de Cícero se chamava Terencia. Também se chamou Teresina aos habitantes de Teresa de Corrientes, vila da província de Valência em Al Andalus, ao tempo das conquistas muçulmanas do século VIII.

Coisa curiosa esta: a célebre condessa Maria Theodora nasceu em Alicante, e esta cidade de Teresina, habitantes de Terena do Corrientes, não é distante de Valência, também. Será que de fato foi dada a denominação de Teresina, hoje capital do Piauí, ainda no século VII, aos seus habitantes?

Antônio Pessoa arremata, afirmando que:

A capital do Piauí, hoje Teresina, foi fundada pelos árabes, no século VIII, quando das conquistas em Al Andalus.

Se Teresina foi visitada ou fundada por árabes, não há nenhuma condição técnica de se descobrir isso. Entretanto, todos sabem é que o nome de nossa capital Therezina é originário da contração dos nomes da nossa imperatriz Theresa Cristina. E disso não há a menor sombra de dúvida.

De qualquer maneira ao livro foi bem recebido por alguns acadêmicos da Academia Piauiense de Letras, como se pode ver nas considerações feitas pelo grande intelectual, jornalista, cronista e ex-presidente da APL,  Arimathéa Tito Filho (1924-1992) no Jornal do Brasil.

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FONTE: JORNAL DO BRASIL, RJ, 05 DE ABRIL DE 1975.

Islâmicos ou cristãos, os árabes só voltariam ao Piauí em 1889, quando um casal de imigrantes sírio-libanês aportou em Floriano, às margens do Rio Parnaíba. No mais, fica a dúvida e a falta de evidências mais plausíveis nas teorias de Pessoa…

Fontes:

Cordeiro Filho, José da Cruz. Brasil a origem. Artigo no  Jornal do Brasil, RJ, 10 de maio de 1975.

Mahieu, Jacques Marie de. L’agonie du Dieu Soleil: Les vikings em Amérique du Sud. Ed. Robert Laffont, 1974.

Pessoa, Antônio Leite.  A origem da palavra Brasil. Ed. Cátedra, RJ, 1974.

Schwennhagen, Ludwig. Antiga história do Brasil. Imprensa Oficial, Teresina, 1928.

http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/1068950.stm