Aproximadamente 3500 km separam Cerro Azul (estado de Guaviare – Colômbia) da Serra do Morcego (no norte do estado do Piauí – Brasil), apesar da distância geográfica, ambos os locais sul-americanos, apresentam a peculiaridade de ostentarem dois grandes aglomerados de arte rupestre concentradas em imensos painéis. Esse artigo, portanto, busca relacionar esses dois locais tão importantes para a arqueologia mundial.
Cerro Azul
No final do ano de 2020, uma notícia chamou atenção da comunidade arqueológica mundial, principalmente daqueles que pesquisam e/ou são interessados pelos registros rupestres deixados pelos nossos antepassados, a divulgação mostrava as primeiras imagens dos paredões decorados de pinturas rupestres encontrados em uma área remota da selva colombiana, mais precisamente em Cerro Azul, no estado de Guaviare na Colômbia.
As pinturas de Cerro Azul estão dispostas em 12 painéis, estendendo-se por cerca de 13 km, apresentando figuras que lembram: humanos, plantas, animais, impressões de mãos, caça e padrões geométricos, além de outras com representações de humanos interagindo com animais como mastodontes, um parente pré-histórico de elefantes (1,2).
Serra do Morcego
Localizada dentro dos limites da cidade de Caxingó, no norte do estado do Piauí, a Serra do Morcego se destaca pela exuberância e quantidade de arte rupestre espalhadas pelo seu perímetro de aproximadamente 7 km. É uma área de cerca de 200 hectares, onde encontramos vários sítios arqueológicos com pinturas contornando a grande serra.
Um extenso material em texto, fotos e vídeo está disponível no documentário “Serra do Morcego em Caxingó-PI: A fabulosa Serra encantada com suas lendas e um grandioso acervo de arte rupestre”. Link disponível logo abaixo.
Entre os vários sítios com arte rupestre existentes no contorno da grande Serra, aqui destaco o mais conhecido deles, o Arco do Covão, que tem esse nome devido estar próximo a um imenso arco de pedra.
O paredão principal do Arco do Covão tem pelo menos 70 metros de comprimento e em alguns pontos, as pinturas decoram o painel a uma altura de aproximadamente 10 metros.
Relações entre Cerro Azul e a Serra do Morcego
A principal característica que relaciona os dois sítios arqueológicos é a quantidade de pinturas em um único painel, ambos totalmente decorados. Em Cerro Azul ocorre uma maior variedade de motivos diferentes e muitos são bem caracterizados, portanto, mais fáceis de serem identificados e relacionados. Já na Serra do Morcego, os desenhos são mais abstratos, sendo reconhecidas principalmente as figuras de mãos, zoomorfos, antropomorfos e muitas representações geométricas. No exemplo abaixo uma imagem de característica geométrica, comum nos dois sítios.
Com relação ao acesso, se por um lado Cerro Azul está localizado em meio à floresta amazônica colombiana, a Serra do Morcego está a apenas 4 km da BR 343, rodovia que liga a capital do Piauí (Teresina) ao litoral do estado. Assim, a Serra do Morcego está cada vez mais exposta à interferência humana. Daí, provavelmente venha a diferença na qualidade das pinturas nos dois sítios, no Cerro Azul as pinturas estão bem mais conservadas, já na Serra do Morcego, percebe-se muitas pinturas já apagadas e/ou danificadas por fatores humanos e/ou naturais.
No campo da pesquisa científica, apesar de já haverem publicações relacionadas à Serra do Morcego, ainda são poucas, comparadas ao nível das pesquisas que ocorrem em Cerro Azul. Pois, em Cerro Azul já foram feitas inclusive escavações que revelaram pistas sobre os primeiros ocupantes da Amazônia colombiana. Foi através desses estudos em Cerro Azul que conseguiu-se chegar à datação estimada das pinturas, entre 12.600 e 11.800 (1,2).
Já sobre as visitações, pela sua própria localização geográfica, a Serra do Morcego (que é uma área particular), está mais propensa a um maior trânsito de visitantes, daí carece de uma infraestrutura de proteção das pinturas e a promoção de visitas guiadas, uma outra questão é falta de apoio que os visitantes tem para pernoite e alimentação. Assim, um projeto deveria ser feito visando estruturar a Serra do Morcego e a inclusão da mesma em uma rota turística, isso envolvendo a comunidade do entorno, poderia ser uma fonte de renda para os moradores da região.
Referências consultadas:
1 – SoCieitífica. História, Milhares de pinturas rupestres foram descobertas na Amazônia. Link: https://socientifica.com.br/milhares-de-pinturas-rupestres-foram-descobertas-na-amazonia/. Acesso em: jul 2023.
2 – ABRA – Acacemia Brasileira de Arte Rupestre. Conheça a “Capela Sistina” da Pintura Rupestres na Amazônia”. Link: https://abra.com.br/artigos/conheca-a-capela-sistina-da-pintura-rupestre-na-amazonia/. Acesso em: jul 2023.
3 – GETTYIMAGES. Cerro Azul. Link: https://www.gettyimages.com.br/fotos/cerro-azul. Acesso em: jul 2023.