Expedição mostra parte das riquezas naturais e arqueológicas de Buriti dos Cavalos – Piripiri – Piauí

Um lugar com um vasto acervo de formações rochosas de aparência curiosa, com pelo menos 10 sítios arqueológicos com registros rupestres espalhados pelo seu ainda verdejante território de mais de 200 hectares. Além disso, rico em belezas naturais, com um rio perene de águas cristalinas, cachoeiras e trilhas para os amantes da natureza, cavernas, furnas, turismo de aventura e até a prática de esportes radicais. Tudo isso existe no norte do Piauí, no município de Piripiri, perto da divisa com o município de Pedro II-PI. Descrevei aqui um resumo da minha visita ao exuberante lugar chamado Buriti dos Cavalos.

Aventureiros se deslocando em trilha sobre uma das formações rochosas, uma pequena amostra do admirável e surpreendente vale de Butiti dos Cavalos.

O ponto de partida da expedição é a localidade Pé do Morro, que fica a cerca de 23 km do centro de Piripiri, seguindo rumo sudeste, pela BR 404, lá encontramos com o guia Sr. Antônio Pinto e a sua acolhedora família, de lá, mais de 9 km de moto, até começarmos a trilha a pé.

Expedicionários: Antônio Pinto (guia), Felipe Souza, Índio Apache e F Gerson Meneses.
Foram em torno de 7 km de trilha a pé, onde conhecemos intrigantes formações rochosas, furnas, 4 sítios com pinturas rupestres (todos cadastrados na base do IPHAN) e a cachoeira das tuncas, formada pelo Rio Corrente.

FORMAÇÕES ROCHOSAS
Sobre as rochas areníticas de Buriti dos Cavalos, em (1), é dito que elas estão inclusas na Formação Cabeças, Membro-Oeiras, apresentando feições geomorfológicas similares às do Parna Nacional de Sete Cidades. E completa:

As superfícies rochosas foram esculpidas pelos processos de erosão eólica, pluvierosão e erosão diferencial, formando monumentos geológicos com estruturas areníticas convexas ou abobodadas, isoladas ou mais comumente agrupadas e alongadas em sequência, apresentando feição semelhante a carapaças de gigantescos quelônios ou dorsos de lagartos.

Foi exatamente o que descreve a citação acima, o que encontramos ao chegar aos primeiros blocos de formações rochosas.

Trilheiros sobre a cadeia de rochas “dorso dos lagartos”.
A curiosa tartaruga de pedra.

SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS
Na parte arqueológica, o lugar também se caracteriza pela grande quantidade de pinturas rupestres. Buriti dos Cavalos está inserido em uma região onde ocorrem muitos sítios arqueológicos. Também no sudeste de Piripiri existem sítios com pinturas nos lugares Jardim e Cadoz Velho. Em um contexto geral, em todos os municípios limítrofes e/ou próximos a Piripiri, existem sítios arqueológicos com pinturas rupestres, a exemplo de Pedro II, Lagoa de São Francisco, Capitão de Campos, Brasileira, Batalha, Piracuruca. Destaque para o vizinho Parque Nacional de Sete Cidades, que fica distante em torno de 60 km de Buriti dos Cavalos. Portanto, em um raio de aproximadamente 200 km, podemos contabilizar talvez centenas de locais com pinturas rupestres, nestes municípios citados e em vários outros da região norte do Piauí.

Depois de conhecer e explorar as formações rochosas, logo chegamos aos primeiros painéis rupestres com pinturas. No geral, em (2) é dito o seguinte sobre os desenhos rupestres encontradas em Buriti dos Cavalos:

As pinturas rupestres consistem de grafismos puros e geométricos, carimbos de mãos humanas, motivos antropomórficos e zoomórficos, pintados predominantemente em diferentes tonalidades de cor vermelha; mas também em amarelo, preto, cinza (inclusive cinza esverdeado), rosa, branco, alaranjado e na cor vinho. Além da policromia, as inscrições antigas exibem frequentes sobreposições e recorrências dos motivos representados em diferentes momentos de evolução gráfica.

AS FOTOGRAFIAS DOS SÍTIOS VISITADOS ESTÃO NO FINAL DO ARTIGO, NA PLATAFORMA DO PROJETO ARTES DO BITOROCAIA. ASSIM COMO UM VÍDEO DA EXPEDIÇÃO QUE FAZ PARTE DO ACERVO DO CANAL WWW.CHECKINAVENTURA.COM.

Pedra do Dicionário:
Dos 4 sítios que visitamos, o primeiro deles é conhecido como Pedra do Dicionário, sobre este sítio, em (1) foi feito um importante trabalho com propostas de conservação das pinturas e também de algumas gravuras que existem no sítio. De fato, pudemos observar o sério problema de conservação dos grafismos, não só neste, mas em todos os outros que visitamos. São problemas relacionados principalmente ao desprendimento do arenito, pichações e fogo.

Chegada ao abrigo sob-rocha chamado de Pedra do Dicionário.
Algumas pinturas do painel da Pedra do Dicionário.
Problema sério do desprendimento do arenito, as placas se vão levando consigo as pinturas.

Pedra da Biblioteca:
Trata-se de um painel já bastante descaracterizado, mas que, no entanto, ainda mantém alguns poucos registros parecendo intactos e outros já comprometidos.

Painel da Pedra da Biblioteca.
Pinturas da Pedra da Biblioteca.

Pedra do Atlas:
De longe, foi o sítio que mais atraiu a nossa atenção, passamos um bom tempo observando as pinturas, o sítio trás os mesmos problemas de conservação já citados, porém, algumas das pinturas são bem altas, o que promove uma certa proteção e as mantém mais resilientes e vivas.

O magnífico painel rupestre da Pedra do Atlas.

No estudo “Pedra do atlas: uma síntese das pesquisas arqueológicas e perspectivas futuras” (3), o autor apresenta uma breve revisão das pesquisas arqueológicas realizadas no sítio, segundo ele:

As paredes rochosas contêm 423 pinturas rupestres em várias cores e algumas gravuras. As pinturas foram realizadas predominantemente em variados tons de vermelho, mas também em padrões cromáticos de amarelo e laranja, assim como nas cores oliva, cinza, branca e vinho.
São figuras abstratas, muitas das quais com formas geometrizadas, carimbos de mãos humanas, antropomorfos, zoomorfos e propulsores de dardos, observando-se alta densidade de figuras, frequência de sobreposições, variedade na forma de representação de um mesmo motivo e recorrência das imagens representadas.

A partir desta visão, temos uma noção da altura das pinturas.
Alguns registros das pinturas da Padra do Atlas.

Entre todas as mais de 400 pinturas deste sítio, uma delas me chama a atenção há tempos. Era realmente um sonho conhecer de perto uma das pinturas mais marcantes que considero, singular em mais de 25 anos visitando sítios com pinturas rupestres. Trata-se de uma figura antropomórfica que possui um certo ar místico, eu a chamo de “pintura dos bruxos”.

A pintura dos “bruxos” (nome dado por mim, apenas uma conclusão pessoal).

Um detalhe sobre a pintura supracitada, é um flagrante do desprendimento do arenito, esta ação prejudicou a metade da pintura, da cintura para baixo dos “bruxos”. Vejamos:

Detalhe do onde foi desprendida a placa que continha a parte de baixo dos corpos dos “bruxos”.

Furna do Recanto / Tuncas:

Trilha até o quarto e último sítio visitado na expedição.

Finalmente, tivemos que estender a trilha para conhecer mais um sítio, esse fica perto da margem do Rio Corrente, a caminho da Cachoeira das Tuncas, lá encontramos uma grande furna, com várias pinturas no teto e nas paredes da entrada. Este sítio fica mais distante dos 3 anteriores vistos acima.

Registros fotográficos das pinturas da Furna do Recanto, também conhecida como Furna das Tuncas, ou ainda “Caverna do Batman”.
Pinturas da Furna do Recanto.

As pinturas da Furna do Recanto são de variadas cores e também sofrem com a falta de conservação, no local o principal inimigo das pinturas é o fogo, que é feito dentro da gruta e a fumaça atinge o teto, encobre e “empreta” as pinturas.

Detalhe para a variedade de cores no teto da furna, pinturas de colocações brancas, amareladas, pretas e vermelhas.

IMPORTANTE: Apesar do desgaste natural que as pinturas destes sítios de Buriti dos Cavalos vêm sofrendo ao longo do tempo, cabe a nós, que somos apreciadores, fazermos a nossa parte. O básico é:
=> sempre seguir na trilha acompanhado por um guia,
=> não tocar nas pinturas,
=> não interferir no local, fazendo pichações,
=> não retirar material do local como rochas ou areia,
=> não colocar fogo próximo às pinturas e
=> não jogar lixo nas trilhas e nem nos sítios.

TRILHAS E GRUTAS
Para os praticantes de ecoturismo e esportes na natureza, Buriti dos Cavalos oferece várias possibilidades, apesar do constante fluxo de visitantes, o lugar não é habitado, pelo menos dentro da área onde ocorrem as pinturas, isso faz com que se mantenha uma certa preservação dos recursos naturais.

Arco de pedra que serve como ponte em períodos de cheia.
Piscina formada no topo das formações rochosas, água no período de chuvas.

Visitamos duas grutas, a primeira delas próxima à Pedra do Atlas e a outra foi a Furna do Recanto.

Uma das entradas da Gruta da Pedra do Atlas.
Na Gruta da Pedra do Atlas, nós conseguimos transpor o bloco rochoso, usando a gruta como um túnel de atalho.
Passando pela Gruta da Pedra do Atlas.
De dentro da Furna do Recanto, que também tem uma passagem que transpõe a rocha.

O RIO CORRENTE E A CACHOEIRA DAS TUNCAS
O Rio Corrente é um pequeno, mas, importante curso d’água que corta o vale de Buriti dos Cavalos. De acordo com o Professor Filipe Souza:

O Rio Corrente faz parte da bacia hidrográfica do Rio dos Matos, ele nasce na divisa de três municípios: Piripiri, Pedro II e Lagoa de São Francisco. O rio abastece as comunidades locais, com água o ano todo, pois é um rio perene.

Trilha na margem do Rio Corrente.
Chegando na Cachoeira das Tuncas.
Águas límpidas na piscina natural da Cachoeira das Tuncas.
Que sigamos a mensagem deixada na Cachoeira das Tuncas.
Realmente a mensagem é de gratidão por tantas belezas naturais. E torço para a que a região do Vale do Buriti dos Cavalos se mantenha preservada. Melhor seria se houvesse uma estruturação das trilhas e das visitações, ao mesmo tempo que a comunidade do entorno pudesse se organizar e a partir disso obter ganhos com a recepção dos turistas, oferecimento de guias, pousadas, restaurantes, vendas de artesanato, etc.

A CRIAÇÃO DA RPPN EM BURITI DOS CAVALOS
Um movimento acontecido ainda no ano de 2008, reuniu o poder público, comunidade e proprietários das terras onde fica o Vale de Buriti dos Cavalos, com o intuído de se criar uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) e fazer com que a região se tornasse um novo destino turístico no Piauí (4).

Infelizmente a ideia não floresceu. O fato é que ainda é tempo de Buriti dos Cavalos receber a merecida atenção e o cuidado necessário para que outras gerações possam conhecer essa que é uma das principais belezas naturais do Piauí.

Link para o vídeo da expedição:

Links para os fotos das pinturas, dos 4 sítios visitados:

Buriti dos Cavalos – Furna do Recanto

Buriti dos Cavalos – Pedra da Biblioteca

Buriti dos Cavalos – Pedra do Atlas

Buriti dos Cavalos – Pedra do Dicionário

Contato para visitações: Sr Antônio Pinto (86 99991-6166).


Fontes consultadas:
1 – CAVALCANTE, L. C. D., RODRIGUES, R. A. R. Pedra do Dicionário: Registros rupestres e propostas de intervenção de conservação. Periódicos UFPE, 2013. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/clioarqueologica/article/download/246756/35714. Acesso em: 27/08/2022.
2 – CAVALCANTE, L. C. D. SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DO VALE DO BURITI DOS CAVALOS: UMA BREVE REVISÃO. ARQUEOLOGIA IBEROAMERICANA – ISSN 1989-4104, 2016. Disponível em: https://www.laiesken.net/arqueologia/archivo/2016/30/3. Acesso em: 26/08/2022.
3 – CAVALCANTE, L. C. D. PEDRA DO ATLAS: UMA SÍNTESE DAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS E PERSPECTIVAS FUTURAS. ARQUEOLOGÍA IBEROAMERICANA – ISSN 1989-4104, 2022. Disponível em: https://www.laiesken.net/arqueologia/pdf/2022/AI4906.pdf. Acesso em: 27/08/2022.
4 – RPPN RIO DAS LONTRAS. Reunião define novo destino turístico no Piauí, 2008. Disponível em: http://rppnriodaslontras.blogspot.com/2008/02/rppn-em-buriti-dos-cavalos.html. Acesso em: 26/08/2022.