Em data imprecisa dos anos 1970, um ônibus procedente de Parnaíba com destino a Teresina sofreu gravíssimo acidente na BR-343 em Piripiri, entre o atual Balão do Chico Jovem e o Posto da Polícia Rodoviária Federal. Dentre os passageiros sinistrados estava a jovem parnaibana Maria das Graças, com dezesseis anos, que ia a Teresina dar assistência a uma irmã que havia partejado.
IMAGEM ORBITAL MOSTRANDO A POSIÇÃO DA CAPELINHA ONDE OCORREU O DESASTRE ÀS MARGENS DA BR-343, EM RELAÇÃO AO BALÃO DO CHICO JOVEM (ENTRADA DE PIRIPIRI) E A POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL.
Procedidos aos primeiros socorros com corpos mutilados e presos às ferragens, encontrou-se, já sem vida, a garota Maria das Graças, totalmente desfigurada pelo impacto e ferros retorcidos. Não sendo possível transportá-la para sua cidade natal, foi providenciado o seu enterro no cemitério São Francisco em Piripiri.
Resgatando pessoalmente o ocorrido através de exaustivas pesquisas, o historiador de Piripiri Evonaldo Andrade escreveu, referindo-se a pessoas de sua Cidade que atenderam aos acidentados:
Anita Moraes relata que Maria das Graças e sua irmã vinham num ônibus da Marimbá, que capotou no local onde fica a casinha. Todos os passageiros foram levados para o Posto de Saúde em que o Dr. Bandeira era médico e o Sr. Onias (pai da Anita) o enfermeiro. O Sr. Onias e sua esposa, a parteira Odília fizeram a limpeza dos corpos. Algumas pessoas sobreviveram. Entre elas, a irmã de Maria das Graças, que foi levada para a casa de Dona Maria Cornélio (já falecida), mãe da Professora Nilsa Araújo.
Os parentes da falecida levaram sua irmã, mas o corpo de Maria das Graças foi sepultado no Cemitério São Francisco.
Com o decorrer do tempo, a comoção com a trágica morte da garota não cessou e populares passaram a acender velas no local do sinistro. Dizem que milagres se sucederam com várias pessoas que ali fizeram suas preces. Então tomaram a atitude de no local do acidente construir uma capelinha em homenagem a Maria das Graças, que passou a ser objeto de romarias e preces, sendo sempre visitada por inúmeros devotos.
Diz Evonaldo Andrade:
Uma pessoa, dentre muitas que alcançaram milagres, mandou fazer o túmulo em sua homenagem. Recentemente, o túmulo foi restaurado e, na troca dos azulejos, a placa com as datas de nascimento e falecimento foi quebrada em minúsculos pedaços, perdendo-se assim, importantes informações.
DETALHE DA CAPELINHA VISTA PELA BR-343, MOSTRANDO UM NÍVEL DE TERRENO MAIS BAIXO.
UMA ESCADARIA LEVA O DEVOTO DA BR-343 À CAPELINHA.
Como o nome da garota era Maria das Graças, o nome e a imagem da santa homônima foi dado à capela.
IMAGEM DA CAPELA N.S. DAS GRAÇAS.
Frontalmente à capelinha, entre a BR-343 e a construção, uma cruz de madeira a testa a religiosidade do local.
CRUZ Á MARGEM DA CAPELINHA.
A capela é repartida em dois compartimentos: num deles estão livros, cadernos (devoção de estudantes), ex-votos, garrafas de água, imagens de N.S. das Graças, velas etc.; no segundo compartimento, o maior, além disto, tudo, um cenotáfio, já que a garota foi enterrada num cemitério de Piripiri e não ali, como alguns supõem pela presença do dito monumento. Retratos de crianças na parede parecem agradecer alguma graça alcançada.
CADERNOS, GARRAFAS COM ÁGUA, EX-VOTOS, FLORES, IMAGENS, ETC.
CENOTÁFIO EM HOMENAGEM A MARIA DAS GRAÇAS.
TÚMULO DA JOVEM NO CEMITÉRIO SÃO FRANCISCO EM PIRIPIRI, COBERTO DE TOCOS DE VELAS, CADERNOS, EX-VOTOS, ETC.
NA PAREDE DO SALÃO PRINCIPAL FOTOS DE DUAS CRIANÇAS QUE PARECEM HAVER ALCANÇADO ALGUMA GRAÇA.
A GRANDE QUANTIDADE DE TOCOS DE VELA ATESTA A DEVOÇÃO POPULAR A MARIA DAS GRAÇAS.
Na verdade não se sabe muito nem sobre a mocinha sinistrada e nem sobre o acidente propriamente dito. Nem o dia nem o mês nem o ano exato. Também não sabemos as circunstâncias do acidente, se foi um choque com outro veículo, tombamento do ônibus por motivos diversos, etc. A empresa Marimbá fazia a linha Parnaíba-Teresina. O centenário e lúcido cidadão piripiriense Sr. Gérson Ribeiro de Carvalho nos disse que era um ônibus do tipo misto e que seguia o itinerário Teresina a Parnaíba, não o inverso.
O historiador piripiriense Evonaldo Andrade refere-se às dificuldades que se impuseram a uma matéria por ele realizada sobre o ocorrido. As informações eram desencontradas e imprecisas. Ainda assim o intelectual publicou admirável artigo sobre a “Santa de Piripiri” em 2012.
Fontes
Andrade, Evonaldo. Maria das Graças, a santa de Piripiri. Publicado em 27/11/2012 na coluna Almanaque de Piripiri, site www.cliquepiriripiri.com.br.
Ribeiro, Verônica & Nunes, Maria Cecília. Manifestações folclóricas: capelinha de Maria das Graças. Capítulo XV de Piauí: Formação-desenvolvimento-perspectivas. FUNDAPI, Teresina, 1995.