Em mais um episódio da série “Memórias do Futebol Piracuruquense”, agora falarei de um domingo de clássico no Estádio Ribeirão em Piracuruca, aí por volta de meados dos anos 1980. Era o torneio Intermunicipal de Futebol e em campo, as Seleções de Piracuruca e de Piripiri disputariam mais uma partida, era uma das maiores rivalidades do futebol no interior piauiense, era como Brasil e Argentina (não necessariamente nessa mesma ordem).
O Ribeirão com a sua areia no meio da canela, recebia craques como: Cafá, Miguel Amaral, Lacerda, Zé Kleber, Tadeu, Rufino, Arimateia, Zé Mombal e Bacabal pelo lado de Piracuruca e por Piripiri os destaques eram Guará, Dr. Luiz, Derica, Manoelzinho e Cabo Rei. Tinham também os Perninha: Nazareno, Fernando e Zé, que viviam revezando entre Brasil e Argentina, ou melhor, entre as seleções de Piracuruca e Piripiri.
Aqui, dois retratos de formações dos dois esquadrões, com alguns destaques que ainda lembro:
Então, estádio lotado, o vento da praia era forte e vinha junto com os ônibus de farofeiros que passavam pela BR 343 vindos do banho de mar. De repente, lá se vem o Leonon escoltando um Sr. de baixa estatura e grisalho que ele tinha ido buscar na rodoviária. Ao perceber que seria o árbitro do jogo, a torcida já inflamou com o carinhoso brado em coro: “tu num vem roubar aqui não, seu feladaputa ladrão”. Tratava-se de Galba Mororó, que pela primeira vez apitava um jogo no Ribeirão, e foi logo pegar o maior clássico do interior na época.
Em tempo: é sempre bom lembrar que a Seleção de Piripiri era o grande bicho-papão dos torneios intermunicipais, tendo ganhado pelo menos perto de uma dezena de edições desse campeonato, que era promovido pela Associação Profissional dos Cronistas Desportivos do Estado do Piauí – APCDEP. Na época, o intermunicipal só perdia em importância para o campeonato piauiense de futebol profissional.
Também é bom lembrar que a Seleção de Piripiri, apesar de ser um grande time, vivia debaixo de desconfiança de conchavos com árbitros, os adversários juravam de pé junto que o Dr. Luiz “molhava” o bolso dos árbitros e eles ficavam mais solidários e tendenciosos para a seleção da terra dos vagalumes.
Conversas de torcedor à parte, o tal Galba Mororó já entrou em campo pressionado pelo torcedor piracuruquense. E começa a disputa, um jogo duro como sempre que se arrastava para um empate até o dia ficar turvo. E beirando a noite, lá pelos 40 minutos do segundo tempo, foi aí quando o ponta direita piracuruquense Tadeu Vilarinho recebeu uma bola de frente com o Guará, o paredão piripiriense não conseguiu evitar o gol, Goooooool do Tadeu!!!!! Nesse momento a torcida de Piracuruca entrou em êxtase e eu, um moleque de 12, 13 anos pulava de alegria junto com o meu pai Antônio Terto.
Tudo ia bem: a torcida comemorando, os jogadores correndo para abraçar o Tadeu, quando de repente o Galba Mororó entra em cena, alegando um impedimento do ponta piracuruquense, ele anula o gol – naqueles jogos do intermunicipal não tinham os bandeirinhas, era só o árbitro central – Mororó assume a (IR)responsabilidade e decreta que o gol foi irregular, começando assim uma grande confusão no Ribeirão.
Torcedores no ponto de invadirem o campo para darem um susto no Mororó, a polícia teve que intervir para protegê-lo. Era a noite caindo e o Mororó também prestes a cair nos braços da torcida, não tinham mais condições de continuar o jogo. No fim das contas, o Mororó saiu escoltado pelo portão detrás do Estádio, escondido dentro de um carro da polícia e foi embora, com certeza não voltou pela rodoviária de Piracuruca, pois lá, também estavam esperando ele.
A peleja oficialmente terminou 0 a 0, Piripiri saiu no lucro, mas na verdade, dizem que só quem ganhou foi o Mororó. Ficou então a fama na Piracuruca que ele foi mais um árbitro do intermunicipal a cair nas graças do selecionado de Piripiri, enfim, a escolta do Leonon não funcionou.
Salve salve os velhos intermunicipais e as suas resenhas.