Rui Lima, o craque piauiense que morreu em um acidente na Volta da Jurema em 1982

Rui Lima com a bola, Cacá se deslocando. É a dupla Tome Bola contra o River (1).
Foto colorizada: Portal Piracuruca.

A minha geração cresceu ouvindo que o craque Sima era a grande referência futebolista do Piaui, e continua sendo, até hoje não se teve um piauiense que ganhasse tanta notoriedade no futebol quanto Simão Teles Bacelar. No entanto, teve um jogador que morreu precocemente e que também tinha um grande talento, trata-se de Rui Lima. O texto abaixo é do Jornalista Ananias Júnior, que de um forma resumida, mas com uma narrativa rica em conteúdo, mostra a tragetória desse talento piauiense. Complementei com algumas fotografias cujas referência estão no final do texto.

Boa leitura.

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É de Teresina, nascido em 1959, um dos maiores craques de futebol que o Brasil já teve. Não foi multicampeão, não fez centenas de gols, nem jogou na seleção. Também pudera: foi curta sua carreira como jogador profissional.

Joaquim Rui Ferreira Lima empresta seu nome, hoje, a uma rua no bairro Acarape, ao ginásio poliesportivo do bairro Bela Vista e ao troféu que premia o jogador destaque do Campeonato Piauiense de Futebol.

Rui Lima começou a jogar bola, pela década de 60, nas peladas da grama da Praça Landri Sales (Praça do Liceu), na quadra do Liceu, no campo do Bariri (próximo ao Premem Norte) e nas coroas do rio Parnaíba.

Tal era sua habilidade que foi ganhando destaque e, mais tarde, foi jogar em equipes amadoras de Teresina e Timon, como o Candelária e o Kosmos. Seu maior destaque no futebol amador viria em 1973, jogando no Paraibinha (equipe do Armazém Paraíba) e, em 75-76, jogando no Colorado. Nessa época participou do Campeonato Suburbano de Teresina, sendo campeão por duas vezes.

Mas Rui Lima não jogava apenas futebol. Era um atleta na expressão da palavra e merece referência um grande feito realizado por ele: sua atuação nos Jogos Estudantis no Complexo Pirajá, pela Escola Técnica Federal do Piauí, tendo sido, num único dia, campeão de handebol e voleibol, pela manhã e, à tarde, campeão de futsal e atletismo 800m.

Quando jogava no Colorado Rui Lima despertou a atenção do futebol profissional. Em 1977 assinou contrato com o Piauí Esporte Clube, o rubro-anil teresinense. Naquele ano, o campeonato estadual foi dominado por River e Flamengo, mas Rui Lima foi a sensação do campeonato, jogando ao lado do cearense Cacá, com quem formou uma das melhores duplas de ataque no futebol.


Rui Lima em sua primeira temporada de Piauí (1).

Quando terminou o campeonato de 77, Rui Lima foi emprestado ao Flamengo do Piauí, para disputar o Campeonato Brasileiro, chamado, na época, de Copa Brasil. No ano seguinte retornou ao Piauí Esporte Clube, para disputa dos torneios estaduais, jogando, novamente, ao lado de Cacá, sob o comando técnico de Alberino de Paula, o Bero.


Equipe do Flamengo no estádio do Pacaembu minutos antes de enfrentar o Corinthians pelo Campeonato Brasileiro de 1977.
Rui Lima é o terceiro agachado da esquerda para a direita.
(02 de novembro de 1977 / Acervo da revista Placar / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: José Pinto) (3).

A dupla que Rui Lima fez ao lado de Cacá, no time do Piauí, em 78, só não rendeu o título, mas, juntos, eles marcaram 80 gols e eram temidos por todas as defesas adversárias. Naquele ano o Piauizão Vibrante foi vice-campeão do estadual.


Time do Piauí no Torneio Dirceu Arcoverde, em 1978: Cafofa, Félix, Ribas, Queiróz, Raimundo e Carlinhos (em pé); Rodrigues, Aníbal, Cacá, Rui Lima e Edmilson Furtado (agachados) (2).

O sucesso da dupla Cacá-Rui Lima já alcançava olheiros em outros cantos do país e, em julho de 1979, a dupla foi contratada pelo time da Portuguesa de Desportos, antes mesmo do fim do campeonato piauiense daquele ano. A estreia na Portuguesa foi em agosto, no estádio Brinco de Ouro da Princesa, contra o Guarani, pelo campeonato paulista.


Na Portuguêsa de Desportos, contra o Corinthians, segurando o Dr. Sócrates (1).

Ao longo da carreira, Rui Lima foi um jogador indisciplinado e deu algum trabalho nos clubes por onde passou. Era boêmio, gostava de noitadas e, às vezes, faltava os treinos. A indisciplina, porém, era sempre compensada com boas atuações, a exemplo de outros casos conhecidos, de rebeldia, como Sócrates, Edmundo, Romário e outros.

Neuri Cordeiro, um dos técnicos pelos quais passou Rui Lima, declarou, certa vez: “Ele me dava um trabalho danado, porque ele só queria saber de festa. Ia para a noitada direto. Ele era de família rica, a mãe era juíza em Teresina e estava acostumado com a vida boêmia. O problema é que todo craque é problemático, como Romário e Edmundo, por exemplo. Não gostava de treinar, mas resolvia em alguns jogos. Para mim ele foi até mais jogador que o Edmundo, mas era impossível de ser controlado”.

Em 1980, Rui Lima foi negociado com o MAC-Marília Atlético Clube, time do interior paulista. Lá, jogando duas temporadas, tornou-se ídolo, tendo sido, talvez, o melhor jogador que o Marília já teve na posição, jogando, vale enfatizar, outra vez ao lado de Cacá.


Rui Lima ao lado de Manguinha e Carlos Alberto Borges ( Raio – que jogou no Palmeiras) formou o melhor meio de campo do interior. Habilidoso, genial, coroou a sua passagem pelo Marília na década de 80 num time dos sonhos: Em pé a partir da esquerda: Paulo Cesar, Rui Lima, Manguinha, Tecão, Rubão, Edel. Agachados: Valdirzinho, Cacá, Reginaldo, Zanola e Zé Carlos (4).

Jogou sua última partida pelo MAC no dia 7 de fevereiro de 1982, num amistoso realizado em Novo Horizonte, contra o Novorizontino, quando as equipes empataram em 1 a 1.


Rui Lima com a camisa do Marília, onde foi titular absoluto (4).

No início de 1982 Rui Lima foi contratado pelo Juventus, equipe da capital paulista. Cacá permaneceu no time do Marília. O craque teresinense, porém, só atuaria pelo Juventus uma vez, em um amistoso.

Estava chegando o feriado da Semana Santa e Rui Lima veio pra Teresina, rever a família e os amigos. Na quinta, dia 8 de abril, viajou pra Parnaíba, na companhia de algumas pessoas. Há quem diga que foi num Chevette, há quem sustente que foi num Gol.

Chevette ou Gol, fizeram uma parada no povoado Brasileira (hoje município emancipado), na época município de Piripiri. De lá seguiram viagem, e, já na manhã do dia 9, uma sexta-feira da paixão, entre Piracuruca e Buriti dos Lopes, na Volta da Jurema, um trágico acidente. A Volta da Jurema é traiçoeira, é preciso saber entrar nela. O carro estourou um dos pneus dianteiros e capotou.

Rui Lima foi o mais atingido: teve fratura nas costelas e um corte na virilha. Perdendo muito sangue, foi levado para o hospital de Parnaíba, onde ficou sob os cuidados de uma equipe chefiada pelo médico Francisco de Assis Moraes Souza, o Mão Santa. Por volta de 11 da manhã, foi operado, mas não resistiu e, pouco tempo depois, a notícia que ninguém queria ouvir: Rui Lima está morto!

Seu corpo foi velado na zona leste de Teresina, na Avenida Dom Severino, bairro de Fátima, por familiares amigos e desportistas e sepultado às 5 da tarde de sábado, dia 10 de abril de 1982, no Cemitério São José.

No dia seguinte, em São Paulo, no estádio do Morumbi, antes do jogo CorinthiansXGrêmio, pelo Campeonato Brasileiro, o árbitro Luís Carlos Félix observou um minuto de silêncio em homenagem ao teresinense Joaquim Rui Ferreira Lima.

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Referências consultadas:

1 – http://sitedobuim.blogspot.com/2012/04/rui-lima-em-pouco-tempo-uma-grande.html
2 – http://sitedobuim.blogspot.com/2012/08/piaui-perde-mais-um-ex-atleta-em-apenas.html
3 – https://teresinaantiga.com/rui-lima.htm
4 – http://historiadomariliaatleticoclube.blogspot.com/2009/02/rui-lima-mago-do-meio-campo.html