O trator fantasma de Sete Cidades

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O velho Luís Morais era um depositário da história antiga e das lendas do Parque Nacional de Sete Cidades-PI.  Nascido em 1926, Morais faleceu cerca de dez anos atrás.  Foi encarregado da Unidade de Conservação no início dos anos 1960 e vivia em seu sítio na porção norte do Parque, após ter sido proprietário de terras onde seria criado o Parque. Antigo boêmio do campo, prosador e filósofo popular, é considerado uma das mais folclóricas personagens de Sete Cidades.

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 SEU LUÍS MORAIS EM 2001. 

Mais do que aquilo. O Sr. Morais era considerado carinhosamente “pai” de todos os antigos funcionários, homens simples do campo, a maioria hoje falecida ou aposentada.

Antigo proprietário de 14 hectares no local que hoje abrange o fechado abrigo-hotel, a administração e o olho d’água do Bacuri, doou tudo a União quando da criação do Parque em 1961. Seu único pedido era para que as autoridades não desamparassem seus trabalhadores braçais. Seu pedido foi atendido e os camponeses foram engajados pelo IBDF, atual IBAMA. Com o passar do tempo foram efetivados funcionários federais. Daí a eterna gratidão deles ao velho Morais.

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 ONDE HOJE SE ERGUE A POUSADA DO PARQUE ERA TERRA DO SR. LUÍS MORAIS.

E aí, Seu Morais, nos conte alguma marmota que aconteceu em Sete Cidades. – Pedimos.

O velho funcionário “matutou” e puxou do fundo da memória um “causo”:

Nos anos 80, não me recordo o ano exato, eu saía da guarita norte do Parque onde dava plantão, rumo à administração. Já era noitinha e eu ia caminhando com um menino que não lembro bem, mas acho quer era o “Perigoso”, aquele que faz artesanato de pedra-sabão.

Quando nós chegamos num campinho, ali antes do Arco do Triunfo, começamos a ouvir uma zoada e ver um clarão na estrada. Eu só pensei no nosso trator. O barulho era igualzinho. Mas fiquei achando estranho alguém andar de trator por ali àquelas horas da noite.

Aí caminhamos rumo ao trator pra ver quem era, e, antes que a gente visse alguma coisa, a zoada e a luz desapareceram duma vez.

A gente pensou que o trator tinha parado. Continuamos caminhando e nada vimos. Andamos o percurso todo e chegamos na administração. O trator tava ali, encostadinho no lugar de sempre. Tava mesmo era com dois dias parado, sem sair dali por nada, segundo os companheiros me disseram depois.

Mas eu juro que a zoada que eu ouvi era igual a do trator. Era um ronco medonho. Agora, desde muito tempo a gente sabe que aqui é lugar de muita pintura.

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POR AQUI, PRÓXIMO DO ARCO DO TRIUNFO SEU MORAIS OUVIU A ZOADA DE UM TRATOR.

Muito interessante. Conte outra pintura, Seu Morais. – Solicitamos.

Eu nasci e me criei por aqui. Já vi muita coisa, seu moço…

Ali por volta de 1960, só lembro que ainda não era Parque, eu tava indo pra minha casa, lá no Bacuri. Era noitinha e eu ia sozinho com meu cachorro ali pelo Rolo de Sola.

Rolo de Sola? O que é isso, seu morais. – Interrompemos.

É aquilo que vocês chamam de Pedra dos Canhões, na Primeira Cidade. Aí ouvi o estouro de um foguete e três bombas vindas do mato. O cachorro assombrou-se e ficou rodando feito doido.

Por ali não morava ninguém. Era só mato brabo. Também não era tiro de garrucha, que eu conheço muito bem. Era foguete mesmo daqueles de festejo. Eu sou acostumado com esse estouro. Agora saber quem é que poderia estar dentro do mato, no escuro, fazendo isso, só mesmo Deus.

E o que o Senhor acha que fez todas estas marmotas no mato? – Indagamos.

Acho que seja coisa dos antigos… – Respondeu enigmaticamente o velho Morais.

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 A PEDRA DOS CANHÕES, NA PRIMEIRA CIDADE. PARA O SR. MORAIS, O ROLO DE SOLA.