Em priscas eras, notadamente durante o Período Colonial era incansável e incessante a busca por metais e pedras preciosas por todo o Brasil. Se a agricultura e a pecuária rendiam alguns frutos, exigiam, por sua vez, muito trabalho, investimentos e longo prazo para o retorno. Mesmo para os produtos de maior aceitação no mercado internacional, como açúcar, algodão e tabaco, havia muito labor na sua obtenção.
Mas, uma pequena jazida de ouro, algumas esmeraldas ou diamantes, mudariam radicalmente a vida de uma pessoa ou de um pequeno grupo de aventureiros ou bandeirantes em pouco tempo. E a Coroa Portuguesa lucraria enormemente com isso. Quem não ouvira falar nos fabulosos e reais tesouros dos impérios do Peru e do México? E dos que supostamente ainda se deveriam descobrir, como o do lendário Eldorado e de outras cidades perdidas, como Manoa, Grã-Paititi, etc.?
ILUSTRAÇÃO IMAGINÁRIA DA LENDÁRIA EL-DORADO. FONTE: www.redicecreations.com
Assim, o grandioso sonho de riquezas minerais sempre povoou o imaginário de governantes, bandeirantes, aventureiros, militares, escravos, curraleiros, criminosos, escroques, etc.
E o Piauí, um dos últimos rincões do Nordeste a ser colonizado, também sofreu a sanha e a ilusão dos caçadores de tesouro. Mais ilusão e desilusão do que proveitos materiais. Como não possuíamos civilizações fantásticas como a dos incas peruanos, deveríamos, pelo menos, possuirmos em nossas entranhas rochosas riquezas minerais inigualáveis. Era o sonho de então, a ser alcançado a qualquer custo…
Não necessariamente a riqueza teria que ser o majestoso ouro, a prata, a esmeralda, o diamante ou outras pedras preciosas. Ferro, salitre, chumbo, cobre, mercúrio e outros produtos minerais também eram cobiçados e fariam a fortuna de seus descobridores e da Coroa.
E a História do Piauí foi repleta destas infindáveis descrições, boatos prospecções, devaneios e decepções. Aliás, muito mais de decepções e lendas…
O famigerado e hediondo João do Rego Castelo Branco (“El Matador”) e seus igualmente monstruosos e sanguinários filhos Félix e Teodósio, que perpetraram as piores e injustificáveis barbáries contra inocentes e desarmados povos indígenas a partir de 1776, tinham por objetivo principal a descoberta de fabulosas minas que criam haver no sul da Capitania, rumo a Goiás. Em nome dessa ambição, quantos sangues derramaram inutilmente, torturando e exterminando os brasílicos de forma covarde…
RECONSTITUIÇÃO IMAGINÁRIA DAS ATROCIDADES DE JOÃO DO REGO CASTELO BRANCO CONTRA OS INDÍGENAS DO PIAUÍ. FONTE: assassinatos.zip.net
Vejamos as principais descobertas, referências e descrições, tentando obedecer a certa ordem cronológica, baseados principalmente nos textos do historiador pernambucano F.A. Pereira da Costa (1851-1923):
Em 1795 um tal João Batista Ferreira teria descoberto minério de ferro nas serras de Jerumenha, às margens do rio Parnaíba.
A 15 de agosto de 1798 foi emitido um ofício do governador da Capitania, o sensato dom João de Amorim Pereira ao padre Antônio Carlos Saraiva, vigário da paróquia da mesma Jerumenha, para intimar o fazendeiro Maximiano da Silva do Rosário, o qual possuía na sua Fazenda Salobro muito salitre (nitrato de sódio ou de potássio) a conjuntamente enviarem amostras do minério para Oeiras, a antiga capital do Piauí.
Foi este extraordinário governador, português de Ponte de Lima, Cavaleiro da Ordem de cristo e Fidalgo Cavaleiro, que deu início em larga escala às investigações sobre nossas riquezas naturais, a flora medicinal, minérios, madeiras de valor econômico, etc. Grande moralizador da administração pública e incentivador da agricultura, Dom Amorim inclusive foi também um dos que aventou a transferência da capital da Capitania de Oeiras para Parnaíba ou para a chapada do Corisco, onde hoje se localiza realmente Teresina.
Começa aí no seu governo o grande cabedal de descrições ou referências a vultosas riquezas minerais, notadamente de salitre no território Piauiense.
Conta-nos nesta direção o historiador Pereira da Costa:
No mesmo sentido escreveu o governador ao juiz da vila e ao próprio Maximiano da Silva. Com relação ao salitre existente nas proximidades do Salobro e na serra do Surubim, nada consta; mas encontramos que o vigário Saraiva remetera ao governador umas amostras do mineral extraídas do sítio Estiva, no Uruçuí, que foram remetidas para Portugal.
No dia seguinte, informa o mesmo governador ao ministro Dom Rodrigo de Sousa Coutinho, – que há poucos anos o padre Joaquim José Pereira oferecera ao governador do Estrado do Maranhão Dom Fernando Antônio de Noronha umas amostras de excelente salitre, do qual se poderiam extrair todos os anos muitas arrobas.
O MINISTRO D. RODRIGO COUTINHO (1745-1812) FOI INFORMADO DE RIQUEZAS MINERAIS NO PIAUÍ POR D. AMORIM.
Por sua vez, o governador da Capitania do Maranhão Dom Diogo de Sousa (1755-1829) redigiu ofício ao ministro português do Ultramar, a 6 de março de 1799, no qual deixava claro de que havia jazidas de salitre nos limites do Piauí com o Ceará, e, uma vez explorado, o minério alcançaria por terra o rio Parnaíba em quatro dias. Daí seguiria de barco para Portugal via Atlântico.
No mesmo ano de 1798 continuam as descrições sobre as riquezas de salitre do antigo território de Valença do Piauí. Com efeito, a 3 de setembro uma carta oficial do governador João de Amorim Pereira dirigida ao juiz da referida vila recomendava-lhe que procedesse investigações sobre a existência do cobiçado salitre na sua circunscrição. Isso porque havia notícia de que o referido padre pernambucano Joaquim José Pereira teria levado excelentes amostras do salitre valenciano para São Luís, isso em 1796, segundo o historiador José Maria Pereira de Alencastre (1831-1871). Aliás, segundo o historiador amarantino (1899-1989) Odilon Nunes (1899-1989) , o governador Amorim prometera fabricar pólvora aqui mesmo na Capitania, com o nosso aparentemente abundante salitre.
Sempre é bom lembrar que cada uma destas antigas vilas corresponde hoje a mais de uma dezena de municípios, desmembrados ao passar do tempo. Assim, uma ocorrência descrita na antiga Vila de Valença, por exemplo, pode se referir hoje a terras de um município vizinho, desmembrado décadas depois da referência.
No mesmo período, o governador da capitania do Piauí dirigiu ofício a Teodoro Ribeiro de Carvalho, instando-o a visitar a fazenda do Boqueirão, as margens do rio Poti, no antigo Marvão (atualmente Castelo do Piauí), para proceder a investigações sobre notícias do nitrato naquelas plagas.
CAVERNA DO LOCAL “VEREDAS”, CASTELO DO PIAUÍ, ANTIGA MARVÃO. TERIAM OS ANTIGOS FEITO PESQUISAS DE EXPLORAÇÃO MINERAL POR AQUI?
Aliás, por mensagem do governador do Piauí ao governador do bispado de Maranhão, datada de 03 de setembro de 1798, percebe-se que o citado padre José Pereira era a grande autoridade da época em conhecimento de jazidas e métodos de lavra do salitre piauiense.
O mesmo religioso e naturalista voltou ao nosso território no ano de 1803 em explorações científicas sobre nossos minérios e flora, resultando de suas investigações o precioso manuscrito Memória Sobre os Nitros Naturais, Sal Glauber, Quina, e mais Produções Nativas Inventas na Capitania do Piauí e Maranhão.
Quanto aos metais preciosos, um deles, a prata, que teria sido explorado pelos holandeses no antigo Marvão no inicio do século XVII, foi citada em ofício do governador Amorim ao comandante militar da vila do Marvão em 23 de setembro de 1798. O comandante deveria investigar as notícias sobre o metal precioso e, se possível, explorá-la. Aliás, escrevendo em 1817 o padre português Manuel Aires de Casal (1724-1851) refere-se ao metal no antigo Marvão.
ANTIGA VILA DE MARVÃO, HOJE CASTELO DO PIAUÍ, ABRANGIA MAIS DE UMA DEZENA DE ATUAIS MUNICÍPIOS. FONTE: CARTA COROGRÁFICA DA PROVÍNCIA DO CEARÁ. ORGANIZADA PELO DR. THEBERGE, 1861.
Notícias sobre valorosíssimas pedras preciosas também não faltaram no Piauí Colonial. Sempre no ano de 1798, o coronel de milícias e futuro governador (20/10/1810 a 13/07/1811) Francisco da Costa Rabelo, informou ao governador da Capitania que teria sido encontrado no riacho de nome Iús, no município de Parnaíba, uma pedra de diamante do tamanho de uma unha.
Diz Pereira da Costa:
O mesmo coronel informa também ter encontrado esmeraldas na fazenda Imburana, e prata e chumbo nas terras de Carcondas, nos municípios de Piracuruca e Parnaíba.
Ignoramos mais detalhes sobre o tal diamante. Ou se realmente o era. A mais nobre das gemas ocorre atualmente no Piauí em aluviões dos municípios de Gilbués e Monte Alegre, sendo, aliás, sua exploração por garimpagem, a principal causa da desertificação acelerada verificada naquela área do Piauí. Também ocorre esporadicamente em Santa Filomena, mas, como em todo o Estado, sempre de qualidade inferior, a maioria das pedras é adequada geralmente ao uso industrial.
Alencastre afirma ter visto ele próprio um diamante encontrado em Jaicós.
No ano seguinte Costa Rabelo informou ao governador da capitania Dom Amorim que em diversos lugares dos municípios de Marvão, Campo Maior e Parnaíba, existiam muitas minas de pedra-ume (sulfato de alumínio ou de potássio), caparrosa (sulfato de cobre) e salitre.
Outra notícia citada por Pereira da Costa refere-se ao governador do Maranhão Fernando Antônio Noronha:
No tempo do governador do Maranhão Fernando Antônio de Noronha (1792 a 1798) remeteram-se ao mesmo governador algumas amostras de minerais existentes no Piauí, nomeadamente amianto, antimônio, caparrosa, chumbo e pedra-ume. Ao governador também mandaram umas amostras de salitre encontrada na ribeira do Itaim, que foram remetidas para Lisboa, e submetidas a exame, foram declaradas de muito boa qualidade.
O amianto realmente ocorre em razoável quantidade nos mais de 15 locais verificados no Estado. As maiores reservas estão no município de Capitão Gervásio de Oliveira, onde ocorre também muito níquel. É atualmente utilizado na fabricação de roupas contra fogo, muito utilizada por bombeiros. Misturado ao cimento, é imprescindível na fabricação das telhas de amianto, produto, aliás, em desuso. No município de Fronteiras é explorado e exportado bruto. São ainda registradas ocorrências em Campo Maior, São Raimundo Nonato e São João do Piauí. Do antimônio, não temos notícias. O chumbo ocorre na forma minério galena, nos municípios de Monsenhor Gil e São João do Piauí, provavelmente sem grande importância econômica.
Em 1799 Miguel Teixeira Monteiro escreveu carta ao governador da Capitania Dom João de Amorim Menezes, informando que no município de Piracuruca existiam diversas minas de ouro e prata.
Sobre o mais nobre dos metais, tiramos algumas notas históricas do excelente Dicionário histórico e Geográfico Piauiense, de Cláudio Basto (1935-2004). Ei-las:
No governo de Gonçalo Lourenço Botelho de Castro (1769 a 1775) foram descobertas minas auríferas.
Lopez Balinas, mineralogista espanhol que esteve no Piauí a serviço de uma empresa de Barcelona, encontrou algumas pepitas em um dos córregos perenes de Uruçuí.
Em 1799 Miguel Teixeira Monteiro informa ao governador da existência de minas de ouro e prata na freguesia de Piracuruca.
Em 1802 o ajudante Luís Raposo do Amaral encontrou ouro no lugar Pinga, na fazenda Serra, na ribeira do Paraim, nas fazendas Borrachuda e Taboquinha, e no riacho dos Tiombés, a uma légua da vila de Parnaguá.
Deste Balinas não sabemos nada, inclusive em que século esteve no nosso Piauí. O ouro ocorre ocasionalmente em aluviões ou impregnado nos veeiros, sendo, porém, ao que se sabe, em quantidade não rentável, ou seja, não constituem jazidas aqui pelo Piauí.
Atualmente ocorrências de ouro podem ser identificadas no Estado nos municípios de Castelo do Piauí, Parnaguá e Avelino Lopes.
No ano de 1813 Francisco Xavier Pires Campos dirigiu-se à junta do Governo da Capitania, declarando que a seguinte descoberta, nos subúrbios de Oeiras:
Dois veeiros com grande extensão de comprimento, que cortam de leste a oeste, os quais dão boas informações de neles se achar ouro.
Em 1800 o governador do Maranhão dirigiu ofício ao do Piauí, onde se refere a grande riqueza de nosso território de salitre, enxofre, pedra-ume, caparrosa, ferro, chumbo, antimônio e amianto.
Sabemos hoje que o ferro ocorre na forma do minério hematita, nas fazendas Quixabas e Araras, no município de Pio IX. Nos limites dos municípios de Curral do Piauí e Simões, no sudeste do Estado, há uma imensa jazida de ferro, em fase de pesquisa final para explotação. Aliás, o Dicionário Geográfico de Milliet, de 1845, também se refere a jazidas de ferro nas margens do rio Canindé, em Oeiras.
Neste mesmo ano de 1800 voltam as notícias sobre as cobiçadas pedras preciosas. Vejamos o que diz Pereira da Costa:
Luís Raposo do Amaral e o padre Bento Manuel Pereira de Campos descobrem algumas esmeraldas no riacho Curimatá, palhetas de ouro e pedras de ferro nas fazendas Língua de Vaca e Santo Antônio, e logo depois os mesmo metais e algumas esmeraldas nos riachos denominados Missão, Pequeno e Urucu, e nas fazendas Ilha, Palmeira de Baixo, Palmeira de Cima, Contrato, Lajes, e nos lugares chamados Cabeceiras e Morro Grande, no termo de Parnaguá. Também por esse tempo (1800-1801) foram achados alguns diamante nas fraldas da serra do riacho de Santana e inesgotáveis minas de salitre nos terrenos montanhosos que formam os limites do Estado pelo lado do nascente.
Ao que parece ocasionalmente ainda hoje se encontram esmeraldas nos municípios de Parnaguá e Curimatá, no extremo-sul do Estado.
A 4 de maio de 1806 o governador da Capitania expediu a seguinte ordem ao comandante da vila de Parnaguá, Teotônio Luís de Freitas:
Sei que nos distritos dessa vila se têm achado não só muito boas esmeraldas, mas outras pedras preciosas, e também alguns pães e folhas de ouro; sei mais que Dâmaso de Carvalho tem um vaqueiro ou compadres, que sabe ter lá ido, encontrado em uma montanha desse distrito esmeraldas de boa grandeza e formosura, das quais deu uma ao ajudante Luís Raposo do Amaral, e lhe disse conservava outras; como eu fui encarregado de fazer neste gênero toda qualidade de descobertas, espero que Vossa Mercê preencha bem esta vontade do príncipe, por mim a Vossa Mercê ordenada, fazendo-me colher com o maior segredo possível o maior número das ditas pedras, ou de outras que puder descobrir, como também de ouro.
Notícias circulantes no ano de 1829 nos indicam que o ouro procurado em Parnaguá pelo governador da Capitania em 1806 fora então descoberto.
Em maio de 1860, novamente volta à tona as notícias sobre os minérios do Piauí. Trata-se de um relatório do presidente da Província do Piauí, o mineiro Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque (1829-1899), ao passar o cargo ao 3º vice-presidente, coronel Ernesto José Batista. Diz o relatório:
A existência de minas de fácil exploração nesta Província está reconhecida, e chamo a atenção de V. Exa. Para uma exposição do Dr. José Sérvio Ferreira, médico de Oeiras, a semelhante respeito, a qual deixo com outros papéis e documentos no gabinete da presidência. Dela vê-se que abundam naquele termo ouro, ferro, mercúrio, pedra-ume, alvaide, salitre, sal comum, ocre de várias cores, a tabatinga, espécie de greda usada para caiamento de casas, no que é superior ao cal pelo brilho e aderência, pederneiras, pedra calcárias, etc.
ESTE PRESIDENTE DA PROVÍNCIA ACREDITAVA NA EXISTÊNCIA DE MINAS FABULOSAS. FONTE: WIKIPEDIA.
O mercúrio, único metal líquido à temperatura ambiente, é obtido pelo aquecimento do minério cinábrio. Não temos informações de que este ocorra em nosso Estado.
MERCÚRIO, O ÚNICO METAL LÍQUIDO À TEMPERATURA AMBIENTE. MUITO UTILIZADO PARA AGLUTINAR PARTÍCULAS DE OURO. FONTE: quiinformacao.blogspot.com
No ano de 1865 um engenheiro britânico anônimo, que esteve na Província em explorações científicas, afirma ter encontrado minério de ouro, prata e lousa (LAJES de siltito), no lugar denominado Pé de Serra, no município de Piripiri.
Já fizemos algumas explorações no Pé de Serra em Piripiri e a única jazida que ali ocorre é de halotriquita, porém de difícil explotação por se situar numa faixa intermediária de uma serra.
LOCAL PÉ DE SERRA, EM PIRIPIRI-PI. AQUI UM BRITÂNICO ANÔNIMO TERIA IDENTIFICADO VÁRIOS MINÉRIOS.
HALOTRIQUITA DO LOCAL PÉ DE SERRA, EM PIRIPIRI-PI. FOTO: CÉSAR NEGREIROS.
No mesmo Município teria ainda descoberto a caparrosa e o salitre, nas serras de Lajes e Serrinha, bem como o minério próprio para o fabrico de louça. Sempre em Piripiri, o engenheiro teria descoberto uma grande jazida de ouro e prata na cachoeira do Olho-d’água, no denominado Poção. Não temos notícias destas riquezas minerais no dito município, exceção feita a lajes de siltito, comercializadas com o nome (errado) de ardósia.
LAJES DE SILTITO.
De Pereira da Costa tiramos ainda uma interessante notícia de 1883:
Tendo os engenheiros Augusto Carlos da Silva Teles e Luís Godofredo d’Escragnolle Taunay e o Dr. Eliseu de Sousa Martins pedido permissão ao governo imperial para explorar minas de cobre e outros metais, bem como pedras preciosas , nos vales do rio Poti, Sambito, Longá e os seus afluentes, determina a presidência às câmaras municipais de Teresina, Humildes, Marvão, Pedro II, Barras, Parnaíba, Batalha, Piracuruca e Campo Maior que dentro do prazo de três meses, a contar desta data (27 de abril), declarassem a quem pertenciam os terrenos onde havia indícios de existirem tais minerais.
Os engenheiros paulistas Augusto C. da Silva teles (1851-1923) e Luís Godofredo d’Escragnolle Taunay (1853-1942) foram engenheiros ilustres, mas seus intentos fracassaram pela inexistência de jazidas nos referidos locais.
O sonho das riquezas minerais no Piauí varou o século XX e continuou despertando a cobiça entre muitos.
Segundo o jornal carioca O BRASIL (08 de março de 1922), no município de União, vizinho a Teresina, um ourives e geólogo residente no local Pedra lavrada se manifestou muito animado com o minério de níquel encontrado em diversas localidades como Pedra Atravessada, Maximeré e Sossego. No mapa de União só conseguimos localizar este último lugarejo.
O anônimo geólogo, segundo o jornal, seria o mesmo que descobrira a existência de cobre em solo piauiense. Patriota, o suposto geólogo estaria animado com seus trabalhos e preparou um forno em sua própria residência com o fim de extraída alguma quantidade de níquel, fundir o minério e forjar uma medalha destinada a figurar na exposição do Centenário da Independência, naquele mesmo ano de 1922. Notícia muito superficial e sem alicerces…
Em 27 de março de 1980 o jornal teresinense O DIA, noticiou um garimpo de ouro em um riacho do município de Monsenhor Gil, Cidade a pouco mais de 50 km ao sul de Teresina. Os garimpeiros chegaram a ser fotografados, mas a notícia morreu por aí…
GARIMPEIROS FAISCANDO OURO NUM RIACHO EM MONSENHOR GIL. FONTE: JORNAL O DIA, 27-MARÇO-1980.
No ano seguinte foi a vez de Barras, Município próximo a Teresina. O mesmo jornal noticiou em 17 de outubro de 1981 a descoberta de uma “mina” de prata no dito Município, de propriedade do Sr. João Manoel Torres. Este senhor teria encontrado duas “pedras” de prata no quintal de sua casa, as quais teriam sido enviadas para Teresina para análise.
O falecido geólogo da CPRM-COMPANHIA DE PESQUISA E RECURSOS MINERAIS João Cavalcante disse ter tomado conhecimento do caso pela televisão, mas que o órgão não recebera qualquer comunicação oficial sobre o assunto.
Mas tudo pareceu ser só uma ilusão. O ouro, a esmeralda, a prata, não tinham a dimensão que lhes era atribuída. Era só sonho e fantasia…
Alencastre foi o primeiro autor a escrever sobre a desilusão de nossas riquezas minerais. Vejamos:
A atenção dos primeiros governadores foi sempre atraída para este importante assunto, em que sempre obravam com muito recato e segredo. Dizia-se que a riqueza mineralógica do Piauí era grande; isso animava muito os aventureiros, que, a pretexto de fazerem guerra aos índios – trabalharam por largo tempo, vindo tarde o desengano desarmar os garimpeiros. Apesar dessas reiteradas tentativas que se fizeram, devemos dizer que não houve nunca explorações sérias e bem dirigidas. As poucas minas de metal preciosos que foram descobertas passaram por ser tão pobres, que ninguém delas mais se lembrou.
Após referir-se a D. João Amorim de Meneses como governante decidido a explorar novas fontes econômicas, inclusive minerais, o historiador Odilon Nunes explica:
Essas pesquisas prosseguiram especialmente nos dois governos seguintes, isto é, nos de Pedro José de Meneses e Carlos César Burlamaque. Trabalharam nesse empreendimento os naturalistas Vicente José Dias Cabral, vindo de Portugal especialmente para esse fim, e o P. Joaquim José Pereira, já conhecido da Capitania. Trabalharam enfim quase todos os fazendeiros. Coisa alguma nos ficou de importância econômica de tão longas e dispendiosas investigações. Mas foi uma fase de grandes esperanças e muito contribuiu para o conhecimento da terra.
Mas, o que aconteceu com as nossas riquezas minerais? Não seria o nosso território o Eldorado imaginado por pessoas como o governador Amorim?
Não é muito difícil se entender o que se passou e que originou a desilusão generalizada. Senão vejamos:
Em primeiro lugar, existem realmente indícios, ocorrências, depósitos ou até jazidas de níquel, amianto, chumbo, cobre, diamante, manganês, caulim, ardósia, atapulgita, calcário, talco, gipsita e ouro, entre outras, no nosso Estado, segundo a Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM).
Em segundo lugar, o simples fato de se encontrar um determinado minério, ouro, por exemplo, caracteriza a princípio um indício ou ocorrência, o que não será necessariamente um depósito ou uma jazida, esta última explorável economicamente. Assim, não é incomum ao se prospectar veios ou aluviões, se descobrir pequenas porções de minérios. Vejam só o caso do ouro e prata supostamente descoberto por um engenheiro inglês que percorreu Piripiri em 1865. Como conhecemos bem o Município e os atuais lugarejos por ele citado, podemos afirmar que por ali nunca houve sequer tradições sobre a presença de aluviões auríferas ou argentíferos. Nem os estudos geológicos modernos apontam para lá o metal dourado. Pé de Serra, Lajes, Serrinha e Olho d’Água nunca possuíram a aludida riqueza do inglês.
Em terceiro lugar devemos levar em conta que o homem do Período Colonial era perdidamente obcecado por descobrir velhas e salomônicas minas, o nosso Eldorado. Mesmo os que não se dedicavam ao labor da garimpagem sonhavam com a fortuna. Do oligarca rural ao boiadeiro; do escravo ao peão ou posseiro; do funcionário real ao cidadão comum. Essa riqueza fictícia povoava e inquietava o imaginário de nossos rudes colonizadores. O maior exemplo foi o famigerado João do Rego Castelo Branco, iludido até o fim de seus dias por uma quimera dourada.
Em quarto lugar, a maioria das descrições sobre nossas riquezas minerais pretéritas nos foi dadas por leigos, pessoas não versadas em mineralogia ou por naturalistas sensatos. Daí muitas vezes o entusiasmo inicial ao se descobrir em suas terras quaisquer tipo de rocha ou mineral diferente ou desconhecido. Como geólogo, nós mesmo já fomos convidados muitas vezes a visitar sítios e fazendas aqui no Nordeste, onde os donos suspeitavam que certas pedras eram minérios preciosos. E a desilusão sempre se fez à primeira visita, sempre com certo mau-humor do proprietário. Assim, um leigo pode ainda hoje, como antigamente, ter confundido ouro com pirita (sulfeto de ferro), conhecido justamente como ouro-de-tolo; alguns tipos de quartzo hialino podem ser confundidos com diamantes; turmalinas podem ser confundidas com rubis, esmeraldas e safiras, etc.
A PIRITA É UM SULFETO DE FERRO QUE LEMBRA O OURO POR SUA APARÊNCIA E DENSIDADE. É TAMBÉM CONHECIDA COMO OURO DE TOLO. FONTE: anapaulajoiasartesanais.blogspot.com
O CRISTAL DE ROCHA OU QUARTZO HIALINO PODE INDUZIR AO INCAUTO A CRER EM DIAMANTE. FONTE: rochasmineraisgemasfosseis.blogspot.com
CERTAS TURMALINAS VERDES PODEM SER CONFUNDIDAS COM ESMERALDA PELOS LEIGOS E AFOITOS. FONTE: produto.mercadolivre.com.br
Ainda assim atualmente se desenvolvem no Estado projetos de interesse mineralógico, tanto por iniciativas nacionais como até internacionais. É, por exemplo, o caso do níquel no município de Capitão Gervásio de Oliveira, a ser explorado pela poderosa Companhia Vale do Rio Doce. Uma gigantesca jazida de minério de ferro será explotada no sudeste do Piauí, nos municípios de Simões, Curral, Jacobina, Paulistana e Betânia.
Temos no nosso Estado muito calcário dolomítico, com minas em José de Freitas, Santa Filomena, Antônio Almeida, etc.; mármore, granito ornamental e calcário calcítico em Fronteiras e Pio IX; fosfato em Anísio de Abreu; Cobre em Oeiras e São Julião; atapulgita, em Guadalupe; vermiculita, em Paulistana; ametista em Batalha, etc. Isto sem falar de nossa preciosa opala, cujo celeiro é a cidade de Pedro II, onde o minério é explorado há mais de 60 anos. Há ocorrências também em Capitão de Campos, Buriti dos Montes e outros municíos.
Fontes:
Casal, Manuel Aires de. Corografia brasílica. Ed. Itatiaia, BH, 1976.
d’Alencastre, José Martins Pereira. Memória chronologica, Histórica e corographica da Provincia do Piauhy. Rev. do \inst. Hist. E Geog. Brasileiro. Tomo XX, 1° semestre de 1857.
Nunes, Odilon. Pesquisas para a história do Piauí. Vols. I e II. Ed. Artenova, RJ, 1975.
Pereira da Costa, Francisco Augusto. Chronologia histórica do estado do Piauhy. Vols. I e II. Recife, 1909.
Saint-Adolphe, J.C.R. Milliet de. Dicionário geográfico, histórico e descriptivo do império do Brazil. Tomos I e II. Paris, 1845.