No sertão nordestino, mais especificamente em nossa região, são diversos os casos de pessoas antes anônimas, que se transformaram em mártires após serem vítimas de cruéis e tortuosos assassinatos. Como exemplos, posso citar João Cartomante em Cocal – Piauí e Maria Rosa em Piracuruca, também no Piauí.
Em tempo: no final desta matéria tem os links para as matérias sobre João Cartomante e Maria Rosa.
Em todos esses casos, essas personalidades passaram a ser consideradas “santos”, pois, mesmo sem ser oficialmente consideradas pela Igreja Católica, elas são tratadas com um profundo respeito e devoção por grande parte da população sertaneja.
Nesses locais onde essas pessoas foram cruelmente mortas, são erigidos cemitérios, capelas e até casas de oração, são locais onde é comum vermos ex-votos como: pernas, braços, pés, cabeças e até corpos de crianças, são objetos feitos de madeira ou de gesso. São oferendas deixadas nestes locais de devoção pelos fiéis e seus familiares, como forma de agradecimento pelas promessas alcançadas.
Durante a realização do percurso da Expedição Caminhos da Ibiapaba – Na Rota dos Comboieiros, tive a oportunidade de conhecer mais um desses locais, trata-se do cemitério do Zé da Luz, o lugar fica logo após o distrito de Santo Antônio da Pindoba, hoje em terras da cidade de Ibiapina no Ceará.
A fala comum entre os moradores da região é que Zé da Luz era um comboieiro, inclusive ressaltam que ele foi o primeiro comboieiro a andar pela região, numa dessas viagens ele foi confundido com um ladrão de animais, foi perseguido, brutalmente judiado e morto e no local foi construído um cemitério. O cemitério do Zé da Luz se transformou em um centro de peregrinação, atraindo pessoas de toda a região, que fazem promessas pedindo bênçãos à alma do Zé da Luz.
Por colaboração do historiador João Bosco Gaspar, tive acesso ao Dicionário Histórico e Geográfico da Ibiapaba, escrito em 1935 por Pedro Ferreira de Assis. Nesse livro, na página 96 consta o seguinte sobre Zé da Luz (escrita original).
– Local na zona denominada “Carrasco”, entre Cacimbas e Varzea, do termo de Ibiapina, onde existe um pequeno cemitério, bento, em 13 de junho de 1927, pelo Padre Antônio Candido de Melo. Neste cemitério jaz o infeliz José da Luz que, tendo sido imputado – embora falsamente – como principal autor de um roubo de cavallos praticado em uma das fazendas do vizinho Estado do Piauhi, foi ali, consoante reza a tradição, sem mais nem mais, em 1868, friamente assassinado por dois facinorosos vindos daquelle Estado. Um delles, apesar da protecção que desfructava – foi preso, annos depois na sua própria residência, no Piauhi, e, de lá, transportado para a cadeia da cidade de Viçosa, neste Estado, onde expiou o barbaro crime de que foi victima o inditoso José da Luz.
Em tempo: veja a matéria completa sobre o Cemitério do Zé da Luz na 3ª parte do documentário em vídeo sobre a Expedição Caminhos da Ibiapaba – Na Rota dos Comboieiros, link logo abaixo.
Links citados:
A verdadeira identidade de João Cartomante, o beato de Cocal – Piauí