A Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso (RedeTrilhas) é uma rede de trilhas conectadas em todo o país que visa promover o ecoturismo sustentável, a conservação da natureza e o desenvolvimento local. A rede, é um iniciativa do Governo Federal e é coordenada pelo ICMBio, foi estabelecida como política pública e é administrada em parceria com a sociedade civil (1).
A rede conecta unidades de conservação e seus entornos, formando corredores ecológicos que facilitam a migração da vida selvagem, oferecem oportunidades para lazer, esporte e educação ambiental, além de ser uma mecanismo que promove emprego e renda principalmente nos serviços de apoio ao turista, favorecendo o desenvolvimento sustentável e minimizando o efeito de esvaziamento das áreas rurais (1).
Com a criação da Rede Trilhas, muitas iniciativas tem surgido nos mais diversos rincões do Brasil, estabelecendo roteiros que visam ressaltar aspectos particulares de valores de cada região, como por exemplo: bens culturais, naturais, históricos, arqueológicos.
No Piauí, pode ser destacado a atuação de Osiel Monteiro (Curiólogo), colaborador do ICMBio e guia do Parque Nacional de Sete Cidades. Curiólogo, como gosta de ser chamado, tem sido o responsável direto pela expansão da Rede Trilhas, principalmente no norte do Piauí, que é a área principal da sua atuação.
Uma das trilhas criadas no Piauí, que teve uma assessoria direta de Curiólogo, foi a Trilha Caminhos de Caxingó. A Trilha Caminhos de Caxingó tem como gestores os Professores de História Lucival Silva e Francisco Filho.
Em tempo 1: O município de Caxingó se localiza norte do estado do Piauí e a cerca de 280 km da capital Teresina. Dentro da área do município existem vários atrativos, como por exemplo os vários sítios arqueológicos com arte rupestre. No final deste texto, tem os links para matérias sobre a Serra do Morcego, que contém um dos maiores acervos de pinturas rupestres do estado do Piauí e sobre as misteriosas “Pegadas de São Pedro”, gravadas na margem do Riacho Pedrinhas, na área da Fazenda Pitombeira.
Bom, no dia 12 de outubro de 2025, tive a oportunidade de fazer uma parte importante da Trilha Caminhos de Caxingó, na oportunidade, fui ciceroneado pelo Professor Francisco Filho e tivemos também a companhia do fotógrafo parnaibano Helder Fontenele e o apoio dos garotos João Lucas e Gabriel. Os dois últimos são membros da comunidade local e estão sendo incentivados a atuarem como guias na trilha.
O trecho percorrido tem em torno de 5,5 Km (bate e volta), e ocorre no entorno da Lagoa do Bacurizeiro e próximo à margem do Rio Longá. Segundo o professor Francisco Filho:
…a trilha é conhecida como Trilha do Bacurizeiro, nela podemos contemplar pelo menos três sítios arqueológicos com pinturas rupestres e um com gravuras rupestres, além de formações rochosas, paredões de pedra, uma rica fauna e flora preservadas com nascentes de água…no aspecto cultural, histórico e econômico, temos a produção de farinha na localidade de início da trilha e o tradicional cultivo de arroz na Lagoa do Buritizeiro.
A partir de agora mostrarei aqui como foi a minha experiência em participar da Trilha Caminhos de Caxingó.
Início dos 5,5 Km, em busca das gravuras e pinturas rupestres da região do Bacurizeiro. Foto: Helder Fontenele.
Em tempo 2: os sítios arqueológicos existentes na trilha, foram devidamente mapeados e passaram a compor a base do Projeto Artes do Bitorocaia, que trata do mapeamento dos sítios arqueológicos com arte rupestre do Piauí. Os links para estes sítios estão no final deste texto.
A trilha está sinalizada com a pegada oficial da Trilha. Na Rede Trilhas, cada trilha tem a sua pegada específica.O fotógrafo parnaibano Helder Fontenele, participante da trilha. Foto: Gerson Meneses.Imagem aérea de parte da área trilhada, aqui podemos ver um cenário geral do trecho e os elementos que compõe a trilha como: formações rochosas, plantações de arroz e a lagoa do Bacurizeiro. Foto: Gerson Meneses.As plantações de arroz na margem da lagoa do Bacurizeiro. Foto: Gerson Meneses.A garça azul voando sobre a plantação de arroz, exemplos de elementos da fauna e da flora existentes na região. Foto: Gerson Meneses.
Encontrando a arte rupestre na trilha:
=> Sítio Bacurizeiro 1 – Gravuras
Logo no início da trilha passamos pelo primeiro dos sítios com arte rupestre, este conhecido como Bacurizeiro 1, é um sítio de gravuras rupestres.
No local, existem pelo menos quatro gravuras abstratas.Cenário da trilha, com muitas formações rochosas. Foto: Gerson Meneses.Algumas formações se destacam no cenário. Foto: Gerson Meneses.Escalando em busca de pinturas rupestres. Foto: Helder Fontenele.Algumas rochas tem uma curiosa superfície. Foto: Gerson Meneses.
=> Sítio Bacurizeiro 2 – Sítio da Cruz
Chegamos então ao sítio denominado de Bacurizeiro 2. Foto: Helder Fontenele.O local apresenta um painel com pinturas rupestres, destaque para uma cruz preenchida e várias mãos em carimbo. Na parte debaixo da figura acima, as pinturas foram realçadas digitalmente através da ferramenta DStretch. Foto: Gerson Meneses.No caminho para o próximo sítio, uma curiosa formação no topo da rocha. Foto: Gerson Meneses.Uma piscina natural no topo de uma das formações rochosas, aqui a água acumula no período de chuvas. Foto: Gerson Meneses.
=> Sítio Bacurizeiro 3 – Abrigo no alto
O sítio Bacurizeiro 3 só pode ser alcançado com o auxílio de uma corda, o acesso é um desafio. Trata-se de um abrigo no alto de uma encosta, com aproximadamente 6 metros de altura. Foto: Helder Fontenele.Fotografando as pinturas rupestres do sítio Bacurizeiro 3.No teto do abrigo, ocorrem várias pinturas rupestres com formas geométricas, ampulhetas, mãos, carimbos, cruz e outras abstrações. Também se observa descascamento de placas de arenito, o que faz com que muitas pinturas sejam danificadas. Foto: Gerson Meneses.Aqui na companhia do Professor Francisco Filho.Uma das pinturas do sítio Bacurizeiro 3, é esta mão. Na parte debaixo da figura acima, a pintura foi realçada digitalmente através da ferramenta DStretch. Foto: Gerson Meneses.Os jovens João Lucas e Gabriel, ao lado do Professor Francisco Filho. Estão segurando a bandeira da Trilha Caminhos de Caxingó. Foto: Gerson Meneses.
=> Sítio Bacurizeiro 4 – Sítio dos sóis
Em seguida chegamos ao último sítio da trilha, também o mais rico em pinturas, é conhecido como Bacurizeiro 4.
Trata-se de um painel com várias pinturas rupestres, a maioria graúdas em formas de cruzes preenchidas e bordadas, outras geométricas, zoomorfos, abstrações e muitos soliformes. Foto: Gerson Meneses.Destaque para 6 desenhos soliformes no sítio Bacurizeiro 4. Na parte debaixo da figura acima, as pinturas foram realçadas digitalmente através da ferramenta DStretch. Foto: Gerson Meneses.Eu aqui ao lado dos jovens João Lucas e Gabriel, ao fundo, o painel principal do sítio Bacurizeiro 4.
=> Sítio do pé invertido
No retorno para casa, ainda encontramos mais vestígios de arte rupestre, este bem curioso.
Um bloco de rocha isolado, na margem de uma estrada carroçável, próximo à localidade Vila Nova, zona rural de Caxingó. O entorno do bloco de pedra estava desmatado.A pedra apresenta alguns vestígios de pinturas rupestres, destaque para uma forma de pé de cabeça pra baixo. Ocorrem também outras pinturas bastante deterioradas. Foto: Gerson Meneses.
Para finalizar, o gestor da trilha, Professor Francisco Filho diz:
A Trilha do Bacurizeiro que faz parte da Trilha Caminhos de Caxingó, fica nas proximidades da Localidade Cajazeiras de Baixo, município de Caxingó-PI. Pois tem esses 2 acessos, pela Vila Nova e por Cajazeiras de Baixo. Estamos preparados para receber excursões, pesquisadores e demais visitantes, inclusive podemos fornecer comidas típicas, caso seja encomendado com antecedência.
Para quem quiser agendar uma visita, é só seguir o instagram oficial da trilha: @trilhacaminhosdecaxingo.
Curiólogo fazendo a sinalização da Trilha Caminhos de Caxingó.Os Professores Francisco e Lucival, gestores e grandes incentivadores da Trilha Caminhos de Caxingó.
F Gerson Meneses é natural de Piracuruca – PI, professor de informática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFPI / Campus Parnaíba – Piauí; Pós-Doutor em Arqueologia; Doutor em Biotecnologia; Mestre em Ciência da Computação; Especialista em Banco de Dados e em Análise de Sistemas; Bacharel em Ciência da Computação; Pesquisador em Computação Aplicada, destaque para pesquisas na área de Computação Visual com temas voltados para a Neurociência Computacional, onde estuda padrões em imagens do cérebro e Arqueologia Computacional, com estudos destinados ao realce, segmentação e vetorização de imagens de arte rupestre, incluindo a fotogrametria. Ganhador do Prêmio Luiz de Castro Farias (versão 2024), promovido pelo IPHAN, como melhor
Artigo Científico sobre a Preservação do Patrimônio Arqueológico brasileiro. Escritor, poeta, fotógrafo da natureza, colaborador do impresso "Piauí Poético" e de várias coletâneas, entre elas o "Almanaque da Parnaíba" e a série "Piauí em Letras".
Autor de várias obras, destaque para o livro "Ensaio histórico e genealógico dos Meneses da Piracuruca" (2022).
É idealizador e mantenedor do Portal Piracuruca (www.portalpiracuruca.com) e do periódico impresso Revista Ateneu (ISSN 2764-0701). Ambos os projetos existentes desde 1999 com a mesma finalidade, que é divulgar a exuberância de cenários, a cultura, a história, os mistérios, a pré-história, as lendas e as curiosidades do Piauí.
Desenvolve desde 2018 o Projeto Artes do Bitorocaia (www.portalpiracuruca.com/artes-do-bitorocaia/) que tem por objetivo o mapeamento e catalogação dos sítios arqueológicos com registros rupestres existentes no Piauí.