Manter uma edificação história de suprema importância para uma Cidade ou para o próprio estado do Piauí sempre foi uma tarefa árdua, esbarrando geralmente na incompetência ou alienação cultural dos gestores. Em casos muito relevantes por vezes o Poder Público usa instrumentos legais para tombar o imóvel e protegê-lo da ruína. Mas nem sempre estas medidas legais surtem efeito. É o caso da casa de fazenda de Dona Alemã (Vovó Alemã), na zona urbana da cidade de Capitão de Campos, norte do Piauí. A edificação se insere hoje na zona urbana da Cidade, numa colina do bairro Caixa d’Água, esquina das ruas José Fernandes com Raimundo Lopes.
Segundo FUNDAC (julho de 2009) o imóvel é propriedade atual da Municipalidade. Foi tombado pelo Decreto Estadual nº 8.686 de 06/07/92.
Sua área construída é de aproximadamente 200m² e na época do relatório FUNDAC (julho de 2009) apresentava-se em bom estado de conservação, funcionando ali uma creche municipal, como mostrava a foto abaixo.
IMAGEM DA CASA DE DONA ALEMÃ POR VOLTA DE 2009, QUANDO AINDA APRESENTAVA CERTA CONSERVAÇÃO. FONTE: FUNDAC.
Casa de fazenda exemplar, representante da arquitetura rural piauiense do final do século XIX, segundo FUNDAC, é possível que seja ainda mais antiga, tendo dado origem a cidade de Capitão de Campos. Não conseguimos dados consistentes sobre a origem do casarão. A bibliografia é escassa.
Segundo os mais antigos moradores da Cidade, neste casarão foram realizadas as reuniões políticas dos preparativos da emancipação do Município (1957) e participavam autoridades e moradores, um deles era o senador Sigefredo Pacheco (1904-1980).
Durante muitos anos foram destinadas teoricamente várias melhorias e funções ao velho casarão: creche, museu, centro cultural etc. Projetos e mais projetos de restauração…Tudo em vão. Passou-se o tempo, as intempéries e o abandono celeremente arruínam o patrimônio histórico esquecido.
VISTA ATUAL DO CASARÃO DE FAZENDA VOVÓ ALEMÃ.
A enormidade da edificação parece encolhida ante as torres de comunicações, ruas e casas vizinhas. O esquecimento e o abandono é completo, relegado ao desaparecimento mesmo sendo oficialmente um imóvel protegido por Lei. As pessoas em sua maioria olham para o local com indiferença. É só um monte de ruínas…
DE FÁCIL ACESSO, O CASARÃO AGONIZA, ESQUECIDO E ABANDONADO.
A expressão arquitetônica externa nos mostra imediatamente as típicas casas rurais de grandes curraleiros do Piauí, latifundiários cujas moradias se destacavam mais pela grandiosidade do que pela suntuosidade. Poder e ostentação mas sem luxo. Telhado em duas águas, parede de adobe com tijolo cozidos ao sol, portas e janelas em trave reta, cumeeira elevada, terraço avarandado. Tudo isso sustentado por troncos e ripas de carnaúbas e outras madeiras talhadas nas colunas. No chão, o piso de ladrilhos de barro.
A ESPAÇOSA VARANDA DO CASARÃO. ERA ÁREA DE CONFRATERNIZAÇÃO E REUNIÕES FAMILIARES.
Num dos enormes salões do velho casarão funciona hoje uma oficina de conserto de televisores. O responsável e sua família residem na edificação arruinada. Muita coragem ou falta de opção, pois a qualquer chuva mais intensa tudo vai ao chão…”tomba” mesmo…
NUM DOS APOSENTOS FUNCIONA UMA OFICINA DE ELETRÔNICOS.
ESTA PARECE SER A COZINHA ORIGINAL, HOJE ABANDONADA DESTA FUNÇÃO. OBSERVEM O ESTADO DE DEGRADAÇÃO.
OS TRADICIONAIS LADRILHOS DOS VELHOS CASARÕES RURAIS.
DETALHE DA VARANDA: ESPAÇOSA E COM MURETA MAS DE BEIRAL BAIXO.
UMA DAS PORTAS INTERNAS. COMO AS OUTRAS, EM VERGA RETA.
AQUI O ADOBE QUE RECOBRIA ESTA VIGA DE MADEIRA DESAPARECEU, DEIXANDO-A EXPOSTA.
AQUI RESTOU UM ESQUÁLIDO “PORTAL”.
O VELHO CASARÃO POSSUI UM ENORME QUINTAL COM MUITAS FRUTEIRAS.
MAIS UM DETALHE DE UMA DAS PORTAS. OBSERVEM A ESPESSURA DA PAREDE ONDE É ENCAIXADA.
TELHADO BASTANTE INCLINADO, COM VIGAS DE CARNAÚBA.
RUÍNA E DESOLAÇÃO. PARECE UM CENÁRIO DE GUERRA…
ESTA IMAGEM É VOLTADA PARA O QUINTAL
MAIS PARTES DESABADAS. PAREDES E TETO.
DETALHE DE UMA PAREDE EXPOSTA. DE ADOBE E TIJOLO CRU, HOJE O MATERIAL SE DECOMPÕE COM FACILIDADE.
OBJETOS SIMPLES ANUNCIAM A PRESENÇA HUMANA QUE UTILIZAM A VELHA EDIFICAÇÃO COMO MORADIA.
AS PASSAGENS CARCOMIDAS E IRREGULARES ENTRE OS CÔMODOS LEMBRAM MAIS UMA CAVERNA DO QUE UM CASARÃO.
AQUI FICA O FOGÃO À LENHA ATUAL DA EDIFICAÇÃO.
MAIS IMAGEM DA ESTRUTURA INCOMPLETA DA EDIFICAÇÃO.
TOMADA INTERNA DANDO IDEIA DO ESPAÇAMENTO.
UMA ÚLTIMA TOMADA FOTOGRÁFICA, EXTERNA, DO CONDENADO PATRIMÔNIO CULTURAL DO PIAUÍ.
Não sabemos se há alguma medida legal de imediato em andamento para salvar o casarão de Dona Alemã. Se for destas ações de gabinete, burocráticas, não haverá mais salvação. O socorro urge, tem que ser imediato para ver o que ainda pode ser salvo. Embora de paredes espessas e maciças, o material se decompõe com facilidade. O teto já está quase totalmente arruinado. Muitas paredes já foram ao chão. A edificação secular agoniza e o poder público parece ignorar…
Fontes:
FUNDAC. FUNDAÇÃO CULTURAL DO PIAUÍ. Bens Tombados no Piauí. Teresina, julho de 2009.
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