O Manifesto Prestes

O movimento tenentista conhecido como Coluna Prestes foi uma reação militar à corrupta e inoperante República Velha, liderada por graduados oficiais do Exército Brasileiro. Entre seus principais líderes destacamos Luís Carlos Prestes (1898-1990), João Alberto Lins de Barros (1897-1955), Antônio de Siqueira Campos (1898-1930), Gustavo Cordeiro de Farias (1901-1981), Juarez do Nascimento Fernandes Távora (1898-1975), Djalma Dutra (1895-1930) e o general de origem argentina Miguel Alberto Crispim Rodrigues da Costa (1885-1959).

 

Estiveram no Piauí por duas ocasiões, nos anos de 1925 e 1926, ocupando várias cidades piauienses, como Floriano, Bocaina, Picos, Altos, Amarante, Pedro II, Oeiras, etc. Em Floriano chegaram 11 de dezembro de 1925. No nosso Estado ficaram conhecidos como “revoltosos”.

Em muitos povoados e cidades grupos dos revoltosos invadiam fazendas, casas, comércios e edifícios públicos, sempre à procura de bens, víveres, animais, ouro, prata, etc. Foram ações dessa natureza que rotulou a Coluna com uma imagem negativa, pois transmitia o medo generalizado na população.

O Governo Federal fazia sua parte, procedendo a uma propaganda negativa, apresentando os “revolucionários” como assassinos, ladrões, sanguinários, estupradores e impetuosos. Dizia o governo tratar-se de bandidos perigosos e fortemente armados que não poupavam nem mesmo mulheres, velhos e crianças. Isso estava longe da verdade, embora tenham ocorrido alguns excessos.

Na capital, Teresina, a passagem da Coluna Prestes deixou rastro de pavor e o pânico tomou conta da população. Segundo historiadores, o então governador Matias Olímpio (1882-1967) tentou, sem sucesso, impedir a entrada na capital através da construção de um canal ligando os rios Poti e Parnaíba.

A capital do Piauí sofreu um cerco por parte dos revoltosos desde o dia 23 de dezembro de 1925 e os combates se deram tanto em Teresina como em Flores, hoje Timon (Maranhão), cidade separada da capital apenas pelo Rio Parnaíba. Graças ao empenho das forças militares locais e de outros estados em ferrenhos combates, Teresina não foi capturada.


IMAGEM DA ANTIGA SEDE DO GOVERNO PROVINCIAL (HOJE MUSEU DO PIAUÍ) GUARNECIDA POR BARRICADAS E SOLDADOS DURANTE O CERCO A TERESINA PELOS REVOLTOSOS

 

Dentre os fatos mais importantes da passagem do movimento pelas proximidades da Capital, vale destacar a prisão do ex-militar cearense Juarez Távora, um dos cabeças do movimento rebelde. Este não foi “justiçado”, isto é, não sofreu violência por conta da atuação dos oficiais do Exército brasileiro, que comandavam as tropas legalistas, chefiadas pelo Tenente e Secretário de Segurança pública Jacob Manoel Gayoso e Almendra (1899-1976).


O REVOLTOSO JUAREZ TÁVORA

 

Távora foi preso num descuido por policiais do Rio grande do Norte, que estavam no Piauí a serviço do Governo Federal para combater a Coluna Prestes. Após intenso tiroteio, Juarez Távora foi fazer um reconhecimento do terreno e teria se equivocado na direção de onde estavam seus comandados. Como consequência teria se encontrado com uma tropa legalista potiguar, comandada pelo cabo José Paulino de Medeiros. Diante da surpresa e na eminência do confronto, Távora se entregou sem resistência.

Logo após sua prisão Juarez Távora foi enviado para São Luís, capital do Maranhão, para embarcar em um navio em direção a então Capital Federal, o Rio de Janeiro, onde ficou prisioneiro na ilha de Trindade e depois na ilha das Cobras. Deste local conseguiu fugir e viajou com uma identidade falsa para o Uruguai. Ele continuou na sua luta pela revolução e se dirigiu para o Nordeste. Na região começou as articulações com as forças políticas e militares, onde ele comandaria a conhecida Revolução de 30 entre os nordestinos.

 
FOTO POUCO CONHECIDA DE JUAREZ TÁVORA DETIDO, PROVAVELMENTE EM SÃO LUIZ. O MILITAR SORRIDENTE AO SEU LADO NÃO FOI INDENTIFICADO, MAS SEGUNDO ROSTAND MEDEIROS PODE SER O CABO JOÃO PAULINO QUE O DETEVE.

 

Depois da prisão de Juarez Távora a Coluna Prestes seguiu pelo Piauí, sempre perseguidos pelas tropas legalistas. Passaram pelos municípios de Altos, Alto Longá, Campo Maior, Castelo, Piripiri, Pedro II, Valença, Oeiras, Picos, Pio IX, Simões, JaIcós e Uruçui. Depois seguiram para o Ceará e adentraram no Rio Grande do Norte pelo município de São Miguel, na sequência estiveram na cidade de Luís Gomes e seguiram para a Paraíba.

Em 1927 a Coluna Preste se dissolve depois de percorrer mais de 24.000 quilômetros. Muitos dos seus participantes, que ficaram ao lado de Luiz Carlos Prestes até o fim, conseguiram asilo político por parte do governo da Bolívia.

Voltando ao Piauí, no Natal de 1925 a Coluna ocupava a cidade de Floriano, às margens do Rio Parnaíba, 224 km ao sul de Teresina.

Em 24 de dezembro de 1925 os revoltosos editaram numa gráfica daquela cidade um exemplar de seu jornal “O Libertador”, nº 8, o qual dirigia uma mensagem de trégua natalina ao Governo Federal.

Eis a mensagem do comando revolucionário estacionado na cidade de Floriano ao Governo Federal presidido por Arthur Bernardes (1875-1955), assinada por um dos líderes revoltosos, general Miguel Costa:

  
Dr. Arthur Bernardes.
Palácio do Catete.

 

Hoje, vésperas do nascimento do filho da Imaculada Virgem Nazaré, quando o mundo cristão cala todas as dores e esquece todos os dias para somente cuidar ou pensar na grandeza de Jesus, deus do amor e da bondade, que baixou do céu para derramar seu sangue inocente pela salvação da humanidade, nós, esquecendo o sangue derramado nos campos de batalha, cuja responsabilidade cabe aos traidores que hoje sustentam o governo de V. Excia., suspendemos nossas operações militares por vinte e quatro horas para que neste dia não seja derramado uma só gota de sangue irmão e enviando ao povo os nossos votos e felicidades neste dia e no decorrer do ano de 1926 pedimos ao Nazareno que aplaque as iras e restabeleça a paz no Brasil.

Floriano e no Piauí, 24 de dezembro de 1925.

Comandante da Divisão Revolucionária do Norte do Brasil – General Miguel Costa.

Miguel Costa, em foto de 1927.

 

Parece que o manifesto foi ignorado pelas forças legalistas e os combates se sucederam até a retirada dos revoltosos do Piauí.

Referências:

Leal, Firmino. A Coluna Preste no Piauí “O Fogo da Boa Vista”. Crônica publicada no livro “Vozes da Ribeira” publicado pela UPE – União Picoense de Escritores em Janeiro de 2008.

Medeiros, Rostand. A prisão de Juarez Távora pelos potiguares no Piauí. Artigo publicado em 07/05/2011 no blog Tok de História. 

http://tokdehistoria.wordpress.com/2011/05/07/a-prisao-de-juarez-tavora-pelos-potiguares-no-piaui/