O aleijadinho da macaca e outras lendas do Jequi em Inhuma

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O aprazível lugarejo Jequi localiza-se na zona suburbana da pacata cidade de Inhuma, na porção central do Estado. Com campos inundáveis e baixios repletos de nascentes, riachos e buritizais, o local é o preferido pelas lavadeiras da cidade. Segundo os mais antigos moradores, essas redondezas alagadas da cidade são um riquíssimo cabedal de causos sobrenaturais.

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BURITIZAIS DO JEQUI. FONTE: ARQUIVO MUNICIPAL DE INHUMA.

Dizem que o Jequi era parte de uma enorme fazenda, propriedade de um rico e cruel latifundiário, dono inclusive de muitos escravos. O folclore sobrenatural sempre fala destes cruéis proprietários… Consta que em determinado local do latifúndio havia uma enorme faveira, onde os cativos revoltosos eram acorrentados e impiedosamente açoitados, atormentados com cruel agonia de fome e sede.

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ESCRAVO AMARRADO A UM TRONCO SENDO MARTIRIZADO. IMAGEM ILUSTRATIVA. FONTE: http://luzparaasluzes.blogspot.com.br

A tradição local reza que em noites arrepiantes de lua cheia as mulheres que iam buscar água nos córregos próximos à faveira, viam uma apavorante aparição. Seriam no entender dos mais idosos moradores, os espíritos de escravos, que morreram de sede e tortura, acorrentada ao tronco, a poucos metros dos riachos.

Nos olhos d’água do Jequi as mulheres lavam as suas roupas e as de seus patrões, entremeando canções com fofocas. Dizem também que no meio do local dos alagados e baixios vez por outra aparecia uma formosa mulher, com longos e sensuais cabelos negros. Possuía o tronco e a cabeça de humanos, mas os membros inferiores eram de peixe… Em suma, uma sereia… Quando o ente misterioso sentia alguém se aproximar, mergulhava rapidamente no riacho e desaparecia como que por milagre.

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SERIA ASSIM A SEREIA DO JEQUI? IMAGEM ILUSTRATIVA. FONTE: http://www.mundodrive.com

Prosseguindo com as fábulas do Jequi, conta-se que no meio do campo havia um sumidouro, espécie de fatal areia movediça. Um incauto vaqueiro, que vinha em seu cavalo tangendo um boi foi vítima do sugadouro. Dizem que o homem e os dois animais foram tragados pelo chão de uma só vez, não restando deles o menor vestígio. Isso há mais de cem anos.

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IMAGEM ILUSTRATIVA DA AREIA MOVEDIÇA DO JEQUI. FONTE: http://verdadeirosadoradores-servamara.blogspot.com.br

Contam também a historieta de um retirante conhecido como “Aleijadinho da Macaca”, que se existiu ocorreu no início do século XX. Este dito cidadão visitava a cidade de Inhuma nos festivos dias de feira, levando uma macaquinha em sua companhia. Ali o animal, sob o comando de seu mestre, virava a atração, gerando ao seu proprietário alguns trocados.

Se o aleijado desse dez tões à macaca, ela dava dez pulos para indicar o dinheiro. Se fossem um mil réis, dava um pulo. O certo é que com essa e outras estrepolias coordenadas do animal, seu dono auferia generosas gorjetas da multidão que lhe assistia. E ia torrar na cachaça… E dizem que a macaca tomava umas beiçadinhas também…

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SERIA ASSIM O ALEIJADINHO E A MACAQUINHA? IMAGEM ILUSTRATIVA. FONTE: fubalablog.blogspot.com

Pois dizem que após encher o bolso com a grana, o aleijado e sua macaca se dirigiam até os banhos do Jequi e se escondiam sorrateiramente nas árvores. Dali espreitava maliciosamente as mulheres tomando banho. Reza a tradição oral que, acaso descoberta a inconveniência, muitos inhumenses proibiram suas mulheres de se banharem no Jequi, principalmente nos dias em que o aleijado e sua macaca estivessem na cidade.

Consta que o aleijado teria sido assassinado. Como costumava se embriagar após seus shows, teria ofendido e até espancado uma senhora por motivos fúteis. Um dos filhos da mulher o teria emboscado e morto enquanto espreitava distraidamente as mulheres no banho do Jequi. Como nunca se provou autoria do crime, o suspeito chegou a ser preso, mas logo foi libertado.

Quanto à órfã macaquinha, talvez ainda hoje assombre as lavadeiras dos inundáveis campos do Jequi…