Do barzinho onde eu tomava umas cervejas, vi o velho boêmio Jurandir em sua casa defronte. Em companhia de um outro boêmio, fui cumprimentá-lo, aproveitando o ensejo para fazer um “discurso relâmpago” em sua homenagem. O velho fauno, até os oitenta anos de idade, bebeu bravamente, e se gabava de ainda abater umas “lebres”, como dizia um colunista federal das fofocas.
Após as oitenta primaveras, ficou bastante decrépito, e a saúde já não lhe permitia as libações etílicas, como costumava dizer o popular Pacamão, que serviu de título a um livro do romancista Assis Brasil, e que conheci a perambular na Praça da Graça, com a sua indefectível e emblemática bengala. O médico lhe proibira a ingestão de álcool, sob pena de ele ser convocado mais cedo pela velha ceifadora.
Sua filha, parece ter fechado o portão gradeado como se fora uma gaiola, porque de minha mesa eu observava o Jurandir a voltear no pátio, de um lado para outro, como um pássaro engaiolado ou como um velho leão, já sem juba, sem garras e sem dentes, saudoso de sua liberdade, nostálgico dos tempos em que percorria as savanas da África, como um legítimo Rei dos Animais.
Certamente, o velho boêmio estava a recordar os áureos tempos das boas talagadas de calibrinas e dos tempos em que desbravava virilmente as curvas de um corpo feminino. A tela de arame dava ainda mais ao portão o aspecto de uma gaiola ou de um viveiro. Contudo, o velho galo-de-campina já não cantava de galo.