Aventura, cultura e ancestralidade na trilha das marisqueiras em Ilha Grande do Piauí

Uma experiência extraordinária foi vivenciada hoje, 10 de março de 2024, por alguns membros do Grupo Trilhas PHB. Desta vez, o palco foi a região do entorno no Porto dos Tatus, no município litorâneo de Ilha Grande do Piauí. Tivemos a oportunidade de acompanhar um grupo de Senhoras, conhecidas como marisqueiras, na sua lida de catar mariscos.

Grupo que participou da trilha, ciceroneados pelas marisqueiras, as Senhoras Cátia e Luiza. Foto: Adriano Carvalho.

A cata do marisco é uma atividade econômica importante no município de Ilha Grande do Piauí, a partir deste pequeno animal conhecido cientificamente como Anomalocardia brasiliana, as mulheres da comunidade garantem uma renda extra para a família.

Um punhado de mariscos.

A atividade de cata do marisco é muito relevante para o sustento das famílias, principalmente em períodos do defeso ou da piracema, em que a cata do caranguejo e a pesca são proibidas, influenciando no sustento das famílias ribeirinhas. No caso da cata do marisco, não há impedimento, assim, as marisqueiras tem todo o ano para trabalhar, sem interrupções.

De tão importantes para a comunidade, as Marisqueiras da Ilha Grande se organizaram numa Associação, com sede próxima ao cais do Porto dos Tatus. Esta Associação recebe o apoio de algumas instituições, como por exemplo a UFDPar. No caso da UFDPar, todas as quartas-feiras, as marisqueiras de Ilha Grande expõem seus produtos e comercializam da instituição.

De acordo com a marisqueira Cátia, o marisco é a matéria prima para a produção de vários pratos com receitas da culinária típica da região e a partir dele pode ser feito: baião de quatro, torta, creme, farofa, ensopado e até lasanha. Ainda segundo ela, a associação tem em torno de 50 marisqueiras associadas e o trabalho de cata do marisco é feito sob demanda. Diz ela: “atendemos aos nossos clientes que fazem as encomendas e de acordo com esses pedidos a gente faz o serviço, a quantidade de marisqueiras que vai para a cata é de acordo com o tamanho do pedido”.

Dona Cátia durante a cata do marisco. De acordo com ela, infelizmente os restaurantes locais não valorizam o trabalho das marisqueiras, por isto, toda a clientela é externa. Dona Cátia completa: “…mas mesmo assim eu me sinto feliz com o meu serviço, me ajuda muito…se eu tiver precisando pagar um talão de energia, uma medicação eu já sei de onde tirar, é um meio de sobrevivência…tem semanas que sou eu quem coloco as coisas em casa…criei meus filhos assim e isso aconteceu com minha mãe, minha avó e agora passo para as minhas filhas e netas.” Foto: Adriano Carvalho.

A Associação dos Catadores de Mariscos da Ilha Grande é presidida atualmente pela Sra. Luiza, segundo ela, ao chegar da cata, o marisco é cozinhado na lenha e depois peneirado e posteriormente, após ser extraído, ele é limpo para ser comercializado. Diz ela “…as vezes, quando tem muito trabalho, a gente sai daqui 1 hora da manhã.”

Dona Luiza e os mariscos. Foto: Adriano Carvalho.
Dona Luiza, tem no sangue a ancestralidade indígena. Segundo ela: “meu avô era Índio Tremembé”. Foto: Adriano Carvalho.
As marisqueiras Luiza, Cátia e outras gerações de marisqueiras, filhas e netas. Aqui, demonstrando como o marisco é peneirado.

=> A trilha:
A trilha completa junto com as marisqueiras é feita mediante o fechamento de um pacote e está incluso, além do passeio (trekking e barco), um café da manhã antes da trilha e um almoço, que é servido ao chegar. Ao todo são cerca de 11,5 km, entre alagados, vegetação fechada, dunas e rio.

Em destaque, o percurso da trilha das marisqueiras.

No percurso da trilha, é possível colher e degustar algumas frutas típicas da região, como a melancia, por exemplo. Além de observar várias paisagens. A Seguir, alguns registros:

Paisagem da trilha das marisqueiras. Foto: F Gerson Meneses
A caminhada entre florestas e alagados. Foto: Airton Porto.
Ao fundo, os escombros de uma casa típica dos ribeirinhos. Foto: Airton Porto.
As dunas. Foto: Adriano Carvalho.
Melancia na trila. Foto: Juliana Nogueira.
Trilheiros avançam pela mata… Foto: Airton Porto.
…pelos alagados… Foto: Juliana Nogueira.
…e pelas dunas. Foto: F Gerson Meneses.
A passagem da barca e o belo cenário do litoral piauiense. Foto: Adriano Carvalho.
Caranguejo na trilha. Foto: F Gerson Meneses.
O vai e vem dos pescadores no Delta do Parnaíba. Foto: F Gerson Meneses.
Dona Luiza descascando coco. Para as marisqueiras algumas questões ameaçam o trabalho delas e são motivos de preocupação, como por exemplo o avanço das dunas, além disso, tem outras questões como o descarte incorreto de lixo na trilha e o desmatamento feito pelos carvoeiros.

=> Artefatos cerâmicos
Alguns antiquíssimos fragmentos cerâmicos foram encontrados na trilha, registros vivos dos povos originários que habitavam no Delta do Parnaíba, entre eles, os povos indígenas Tremembés, ancestrais de Dona Luiza.

Fragmentos cerâmicos, vestígios dos antepassados que habitavam a região do Delta do Parnaíba.
São fragmentos de utensílios usados pelos povos originários.

Em tempo: para mais informações sobre a “Trilha das Marisqueiras” confira o instagram @marisqueiras.ilhagrande ou entre em contato pelo número: 86 99562-5016.