Álvaro de Assis Osório Mendes nasceu em Oeiras, a 31 de maio de 1853 vindo a falecer em Teresina, a 5 de dezembro de 1907. Foi um advogado, senador e governador do Piauí (1904-1907) durante a República Velha. É Patrono da Academia Piauiense de Letras, ocupando a cadeira número 20.
GOVERNADOR ÁLVARO MENDES
Era filho do médico e político Simplício de Sousa Mendes (1823-1892) que presidiu a província do Piauí quatro vezes, de 12 de março a 2 de abril de 1853; de 30 de dezembro de 1858 a 1 de janeiro de 1859; de 24 a 28 de agosto de 1868, e de 3 de abril a 21 de maio de 1869. Foi também lente do Liceu Piauiense. A mãe de Álvaro se chamava Francisca de Osório Mendes.
Álvaro Mendes formou-se em Direito pela Faculdade de Recife em 1878. Foi nomeado promotor público em Barreirinhas e depois em São José dos Matões, ambos no Maranhão. Depois, durante algum tempo foi sucessivamente advogado e promotor em Amarante-PI. Volta a exercer a promotoria em São José dos Matões e de volta ao Piauí, torna-se juiz em São João do Piauí. Depois foi nomeado chefe de Polícia, função na qual resolveu delicados assuntos no atual município, de Alto Longá.
O Decreto nº. 01, de 10/06/1891, do Governador Gabriel Luís Ferreira (1848-1905), fixou o dia primeiro de outubro daquele ano, para a instalação da Corte Judiciária piauiense. Na data marcada, no edifício onde funcionou o Liceu Piauiense, hoje o Luxor Hotel do Piauí, na Praça Rio Branco, o TJPI era instalado solenemente. O Governador participou da posse dos desembargadores Álvaro Mendes, Helvídio Clementino de Aguiar (?-?), João Gabriel Baptista (?-?), Augusto Collin da Silva Rios (?-?) e Polidoro César Burlamaqui (1836-1894), os três primeiros, magistrados, os dois últimos, advogados; o Procurador Geral nomeado, Juiz de Direito, Joaquim Ribeiro Gonçalves (?-1919); o Secretário, Jeremias José da Silva Melo (?-?).
Em 1895 Álvaro Mendes renunciou ao elevado cargo por motivo de foro intimo, pois a maioria dos colegas votou contra ele uma suspeição que lhe pareceu desairosa à integridade de magistrado, voltando a ser chefe de polícia.
Abraçou a seguir a carreira política. Foi três vezes chefe de polícia do Piauí. Candidato ao Senado da República, não teve a eleição reconhecida no Rio de Janeiro. Aceitou, na época, uma promotoria pública, no Estado do Rio. Depois, tesoureiro da Imprensa Nacional. Eleito senador em 1899, teve a eleição homologada pelo Congresso em 1900. Governador exerceu o mandato no Período de 01-07-1904 a 05-12-1907, data do seu falecimento em Teresina. Teve como vice Areolino de Abreu (1865-1908), que lhe substituiu.
Teve dois filhos antes de se casar com D. Maria dos Anjos, a qual, após a sua morte, casou-se em segundas núpcias com Pedro Mendes, primo do falecido marido, e um dos heróis da guerra dos Canudos.
Na sua administração, construíram-se algumas obras públicas importantes. Inaugurou-se o serviço de abastecimento d’água da capital piauiense, até então servida pelos prestimosos cargueiros, como eram chamados, de latas equilibradas sobre a rodilha na cabeça, ou tocando jegues de ancoretas nos lombos, de casa em casa, para venda do indispensável líquido. Foi com o auxílio do futuro govenador Antonino Freire (1878-1934), então diretor de Obras Públicas, que implantou um moderno sistema de abastecimento de água. A maior parte da vultosa quantia para as obras foi conseguida junto a dois ricos particulares: Antônio Gonçalves Pedreira Portelada e Ana Cruz. O primeiro era o homem mais rico do Piauí na época, tendo sido anteriormente intendente de Teresina entre 07/01/1897 e 07/01/1901.
ESTA IMAGEM ANTIGA (ANOS 1950) DAS MARGENS DO RIO PARNAÍBA EM FLORIANO-PI REFLETE BEM COMO ERA O ABASTECIMENTO DE ÁGUA TAMBÉM EM TERESINA: O PRECIOSO LÍQUIDO CHEGAVA AS CASAS DOS MAIS ABASTADOS EM ANCORETAS DE MADEIRA TRANSPORTADAS EM LOMBO DE BURRO. FOTO: TIBOR JABOLNSKY.
USINA ELEVATÓRIA DE ÁGUAS EM TERESINA. OBRA DE INFRAESTRUTURA ALTAMENTE RELEVANTE NO GOVERNO ÁLVARO MENDES. REPRODUÇÃO.
Este serviço, muito eficiente para a época, foi inaugurado sem alarde nem festas em 1º de maio de 1906, às margens do rio Parnaíba, de onde era captada as águas. Ali foi construído o reservatório de São João e todas as máquinas necessárias ao empreendimento. Fornecia por dia um milhão de litros d’água, ou seja, uma média de 100 litros para cada um dos habitantes da Capital, que na época possuía 10.000 moradores. Claro que este índice era apenas uma média; a maior parte da população ainda continuava tomando banho nos rios Parnaíba e Poti, e dali também trazendo a água para outros consumos. Mas foi um início, um grande marco, o abastecimento de água na Capital.
Durante o governo de Álvaro Mendes houve uma visita política muito festiva a Teresina, a do então presidente da República, Afonso Pena (1847-1909) em 14 de julho de 1907.
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NO GOVERNO DE ÁLVARO MENDES O PRESIDENTE AFONSO PENA VISITOU O PIAUÍ. REPRODUÇÃO.
No terreno religioso, assumiu o primeiro bispo do Piauí, Dom Joaquim Antônio de Almeida (1868-1947), em 1906. Era potiguar de nascimento. Criou o nosso bispado, em 1901, o papa Leão XIII (1810-1903), pela bula Supremum Catholicum Ecclesiam.
PRIMEIRO BISPO DO PIAUÍ, O POTIGUAR D. JOAQUIM ANTÔNIO DE ALMEIDA.
Ainda na administração Álvaro Mendes houve fato auspicioso: instalou-se empresa telefônica particular, aparelhos de manivela, pertencente ao tenente-Coronel João Maria Brochado, mais conhecido por Joca Broxado. A central administrava 18 linhas telefônicas.
Em sua administração o governador criou os municípios de Simplício Mendes e São João do Piauí; as Comarcas de São João do Piauí e de Buriti dos Lopes. Fundou também o Asilo de Alienados de Teresina. O médico Areolino de Abreu viria a ser o grande incentivador da criação do “Asylo de Alienados”, hoje Hospital Psiquiátrico Areolino de Abreu, no cargo de vice-governador, e de sua inauguração no ano de 1907. Foi um grande gesto humanitário, pois retirava os doentes mentais das cadeias e os colocava numa instituição apropriada.
O governador construiu estradas, reformou edifícios públicos, recuperou cadeias no interior, fez reparos no Liceu Piauiense e no fórum. Em julho de 1907 montou a primeira estação meteorológica do estado, com três postos pluviométricos. Entregou a Instrução Pública ao futuro governador Miguel Rosa (1876-1929), o que gerou grande impulso na educação do Estado. Foi instituída a Escola Normal; comprou-se um laboratório de física e química; criou-se uma cadeira de letras na cadeia.
O governo de Álvaro Mendes enfrentou muitos problemas, como as secas que assolavam o Estado. Mesmo assim o mandatário administrava as finanças estaduais com tanta eficiência e controle que conseguia superar as crises econômicas. Não conseguiu, como até hoje nenhum governador o fez, resolver a questão do litígio de terras com o Ceará.
Álvaro Mendes sempre colocou os interesses da consciência reta acima de quaisquer outros. Enérgico e calmo, o seu governo foi de reconstrução moral. Era um respeitável julgador, culto e dado a prática da mais elevada justiça.
Álvaro Mendes foi Mestre da maçonaria em 1896, 1897 e 1904. Quando efetivado Governador em 1904, acumulou o cargo de Governador do Estado com o de venerável da Caridade II tendo sido eleito para este cargo no dia 27 de Maio de 1904.
O grande governador, pelo seu empreendedorismo e honestidade foi homenageado pela população teresinense numa de suas principais ruas do centro da cidade. Faleceu em decorrência de problemas pulmonares em 05 de dezembro de 1907 aos 54 anos. Seu vice, Areolino de Abreu assumiu por algum tempo, adoeceu, se afastou e, na ausência do presidente da Assembleia assumiu o desembargador José Lourenço de Morais e Silva (? – ?). Volta Areolino e falecendo em pouco tempo, assume em definitivo o desembargador até o final do mandato de Álvaro Mendes.
Fontes:
Chaves, Monsenhor Joaquim. Apontamentos biográficos e outros. Fund. Cultural Mons. Chaves. Teresina, 1994.
Tavares, Zózimo. 100 fatos do Piauí no século XX. Teresina, 2001.
www.wikipedia.org
http://acervoatitofilho1.blogspot.com.br/2011/03/alvaro-mendes.html
http://www.meionorte.com/josefortes/o-governador-alvaro-mendes-59760.html
http://www.cnj.jus.br/noticias/judiciario/21452-comemoracao-resgata-historia-do-final-de-seculo-xix-no-piaui