Ao longo de décadas houve uma intensa navegação de vapores em extensão de 1.000 km do rio Parnaíba, da cidade de Parnaíba a Santa Filomena. Numa época em que ainda não havia o transporte rodoviário mecanizado, passageiros e mercadorias de importação e exportação circulavam nos atracadouros de cidades ribeirinhas como Teresina, Floriano, Amarante, Uruçuí, etc.
Com o contínuo e avassalador desmatamento das margens do rio o assoreamento foi tornando esta navegação cada vez sofrível, pois os bancos de areia cada vez ocupavam inexoravelmente o canal do rio. O golpe de misericórdia foi a construção da Barragem de Boa Esperança, em Guadalupe, inaugurada em 1970, que represou grande volume das águas do Parnaíba, reduzindo o fluxo d’água a jusante. A política rodoviarista do regime militar sepultou de vez as possibilidades de retomada da antiga navegação no Velho Monge.
ANTIGO VAPOR ANCORADO EM TERESINA. REPRODUÇÃO
No segundo Governo do engenheiro civil Alberto Silva (1918-2009), governador do Piauí de 1987 a 1991 a situação econômica do estado do Piauí era desesperadora. No sentido de incrementar a cambaleante economia estadual, Alberto Silva bolou um mirabolante projeto fluvial. Sendo um homem de visão extraordináriamente enérgicas e decisivas, notadamente no setor de obras civis e transportes, o governador planejou a construção de uma moderníssima barca fluvial, de grande porte, para melhorar nossos acanhados índices econômicos. Era a fabulosa e desafortunada Barca do Sal.
Assim, em seu ultimo governo, ele pensou em reinserir o Rio Parnaíba na relação dos rios navegáveis do País. Isto significaria captar mais recursos para a manutenção da navegabilidade, gerando mais empregos e desenvolvimento econômico para o Estado. Para viabilizar sua ideia semifantasiosa teria que fazer um barco capacitado a descer rio abaixo e outro fazer a viagem inversa.
UMA MULTIDÃO SE ACOTOVELA PARA OBSERVAR DE PERTO A BARCA DO SAL NO CAIS DO TROCA-TROCA, EM TERESINA. REPRODUÇÃO.
Para ter sucesso nesta empresa, teria que construir uma barca de altíssima tecnologia, que pudesse navegar em uma lâmina d´água de oitenta centímetros. Seria uma barca computadorizada capaz de detectar bancos de areia e que indicava o melhor caminho a seguir entre as águas. A ideia era fazer com que essa barca levasse sal de Luís Correia a Teresina, além de outros produtos. Silva imaginava que o sucesso do Projeto Barca do Sal poderia estimular a preservação e recuperação do Rio Parnaíba, ao mesmo tempo em que fomentava o progresso. A retomada da navegação do rio serviria, pois, como instrumento para alavancar a economia do Piauí.
O projeto era de duas embarcações com 22,70m de comprimento cada, a ser construído no estaleiro de Igarassu, Parnaíba. Ambas de baixo calado para poderem enfrentar os bancos de areia ao longo do Rio Parnaíba. Seriam equipadas com sonares e outros modernos equipamentos de navegação. Solicitou os recursos ao BNDES, tendo como agentes financeiros o Banco do Estado do Piauí e o Banco do Nordeste.
DETALHE DO CONVÉS DA BARCA DO SAL. ACERVO APL.
Como o Estado atravessava uma impiedosa crise financeira, a Barca do Sal foi duramente combatida por membros do governo e políticos da oposição. Muitos, contudo, se entusiasmaram com ela, principalmente populares, ainda embalados pelo otimismo exagerado de Alberto Silva.
A primeira das duas barcas saiu do papel em 1988. Era chamada Comandante Fausto Fernandes e Silva. Construída com recursos financeiros formidáveis, sua característica marcante desde o início foram o improviso e o imprevisto. Esqueceu-se de certos detalhes fundamentais da obra, tais como o trilho que sustenta e daria condução a uma embarcação até a flutuação n’água.
Do estaleiro em Parnaíba, a barca foi colocada no rio Parnaíba e deveria navegar até a Capital, mas o que se fez foi literalmente arrastá-lo do litoral até Teresina. A embarcação não superou os bancos de areia formados no leito do rio. A areia era dragada por maquinário pesado e tratores colocados nas margens puxavam penosamente a barca, que demorou vários dias para chegar à Teresina. Um suplício para o que se pensou ser a redenção de nossa anêmica economia. Para se ter uma ideia, tamanha eram as dificuldades que a chegada da barca a Capital foi adiada três vezes.
OUTRA IMAGEM DA BARCA DO SAL NO CAIS DO TROCA-TROCA, EM TERESINA. REPRODUÇÃO.
Construído o primeiro barco, foi convidada para fazer o batismo do mesmo a Primeira Dama, Marly Sarney, esposa do então presidente José Sarney. Cortada a faixa, o champanhe bateu no casco e empinou de volta sem quebrar. Estava selada a desgraça do Projeto, assim reza a lenda. Não por isso. A inexperiência dos executivos do Estaleiro era tanta, que não calcularam corretamente a altura necessária para romper o casco do champanhe.
Seguiu-se então o lançamento da nave e os problemas se sucederam. O deslocamento não foi mais que 30 cm. Os trilhos não suportando o peso, selaram, formando uma superfície côncava. Para se conseguir lançar ao rio a embarcação, diversas foram as tentativas. Os críticos diziam que a barca teria que ter sempre a companhia de um trator às margens com cabos de aço para rebocá-la.
Fracasso total, nunca transportou nada e os milhões gastos fugiram pelo ralo. A segunda barca obviamente nunca foi construída e barco infausto foi vendido na primeira gestão do governador Mão Santa (1995-98), provavelmente como sucata.
Fontes:
Colombo para o Jornal da Parnaíba http://jornaldaparnaiba.blogspot.com.br/2011/04/o-porto-de-luis-correia-e-barca-do-sal.html
Ricardo Luís – http://rlat05.blog.uol.com.br/arch2009-09-27_2009-10-03.html
Toni Rodrigues/Allisson Paixão http://180graus.com/politica/alberto-silva-deixa-grandes-obras-e-mais-alguns-elefantes-brancos-246342.html