Um novo dado sobre a histórica fotografia do carro transportando passageiros em Piracuruca

Na Revista Ateneu nº 2, lançada em janeiro de 2020, eu destaquei uma histórica fotografia sobre a qual descrevi alguns comentários e fiz um pequeno conto (o conto está disponível no final desse texto). A matéria da revista se chama “O carro grande, cheio de gente”.

Na matéria eu digo:

“Memorável fotografia do acervo do Sr. Augusto Morais (12/08/1935 – 10/10/2010). Mostra um veículo, aparentemente transportando pessoas, parado ao lado da igreja de Nossa Senhora do Carmo.

Observa-se que ainda não havia pavimentação no entorno da praça e as calçadas das casas não seguiam o alinhamento que têm hoje. Além disso, a Praça Irmãos Dantas se resumia a um espaço bem menor.

Ao lado, a edificação da esquina, ligada à casa da Sra. Laura Mendes já existia, assim como à frente, o casarão onde funcionou o Hotel do Sr. Astrolábio. No entanto, a residência onde mora o Dr. Pedro Paulo ainda não existia. De fato, essa última só foi construída em 1939.

Não se sabe ao certo a data do retrato. Baseado nas mudanças do contexto arquitetônico e dos elementos que compõem a foto, conclui-se que a data é anterior a 1939. Portanto, há mais de 80 anos.”

Portanto, tentei com base nos elementos que compõe a foto, fazer um paralelo entre o retrato e o momento atual, estabelecendo assim uma ideia com o intuito de determinar o período em que foi feito o registro, já que a datação é um fator primordial, principalmente em fotos antigas.

Complemento a matéria assim:


“Cenário atual, aproximadamente no mesmo local da histórica foto. Os Casarões da Sra. Laura Mendes (a) e onde funcionou o Hotel do Sr. Astrolábio Amaral (b), ainda estão de pé.”

Após o lançamento da revista, tive acesso, através do Professor Reinaldo Coutinho, a um recorte do Jornal A Imprensa de Teresina, datado de 10 de maio de 1928, que vejo ser relacionado com a histórica fotografia. Trata-se de uma publicidade jornalística para viajantes, referente a um caminhão que fazia linha de Teresina-PI a Piracuruca-PI, passando por Altos, Campo Maior e Peripery.


RECORTE DO JORNAL A IMPRENSA DE 10 DE MAIO DE 1928, COM PUBLICIDADE SOBRE O TRANSPORTE DE PASSAGEIROS ATÉ PIRACURUCA

Há um forte indício de que o caminhão citado do anúncio seja esse da fotografia, caso isso se confirme, se antes tínhamos o ano de 1939 como base para uma datação, agora também temos no ano de 1928 uma confirmação de que já existiam carros transportando passageiros em Piracuruca.

Um detalhe importante do anúncio é que diz: “…devendo voltar daquella cidade, segunda feira, 14, depois da chegada do trem“. De fato, em 1928 a linha do trem partindo de Luis Correia, acabava em Piracuruca. Somente em 1937, o trem avançou até a próxima estação, na então vila de Brasileira, na época pertencente ao município de Piripiri.

Em 2001 participei como programador da composição do Banco de Dados do Transporte Coletivo de Passageiros do Piauí. A plataforma virtual foi patrocinada pela CEPIMAR e pelo SEST SENAT – Piauí e contava com uma variedade de documentos sobre a história do transporte de passageiros no Piauí, incluindo fotos históricas. Logo abaixo segue o link, nesse acervo fotográfico constam veículos que nas décadas de 1920 e 1930 já transitavam pelos sertões do Piauí.

História do Transporte no Piauí

Conto: O carro grande, cheio de gente

Ontonte, eu tava saindo duma budega alí do mercado, quando escutei uma zoada parecida com a dum carro, estrondando no camim atrás da igreja, perto daquele cemitério véi.

Do povo que tava na rua, muitos ficaram com medo, eu mermo não, fui foi pra riba, pra ver o que era.

Amuntei na bicicleta e saí desconfiado. Um menino ia na frente, correndo e gritando: – o carro grande, o carro grande, o carro grande!

Eu, vendo de longe, disse: – num pode ser um carro! isturdia eu vi um e num era assim tão grande e zoadento como isso.

Chegando lá, eu me espantei, era um carro mermo, assim cuma se diz. Era mais maior e tava cheio de gente, parecia viajante.

Já tava do lado da igreja parado e eu fiquei bem perto, pra mode assuntar, mas não soube difinição de nada.

Fiquemo: o carro oiando pra gente, a gente oiando pro carro e a igreja, como sempre, oiando pra tudo.

De onde vinham num sei, só sei que o menino me mostrou um retratista apontando a máquina pra nois, ali onde dizem que vai passar um calçamento.

Demoraram um pouco e, depois do retrato, foram embora, ainda bem que ficou alguma prova pra não me chamarem de mintiroso.

Se foram! rumo a num sei pra donde. Deixaram eu com a minha bicicleta, o menino e a igreja.

Já o retrato, esse vai ficar de lembrança, tomara que escrevam atrás, pelo menos a data.