Porto Piauí, uma criança que espera nascer há mais de 300 anos

O Porto de Luis Correia, hoje renomeado de Porto Piauí, é um dos “partos” mais difíceis da história da humanidade. Essa “criança” ainda não nasceu não foi por falta de crédito, pelo menos da minha parte, sou um menino besta para acreditar nas coisas e como um bairrista de primeira linha, quando se fala em algo para alavancar esse meu Piauí, vem logo aquele sentimento de: agora vai!!!

Tudo começou ainda em 1699, vejam quanto tempo…nessa época foi autorizado um estudo no rio Parnaíba e na sua foz, sobre a viabilidade de construção de um porto, foi dada até a ordem para a sua construção1. Pois é, mais de três séculos depois, nelsu…nada de porto ainda que eu possa ver navio carregando e descarregando! Agora, promessa tiveram muitas.

Entre tantas promessas, episódios que já acompanhei sobre o porto, destacarei aqui 3 que me marcaram bastante:
1º – Capas do “Almanack da Parnahyba” de 1930 e 1931
2º – Uma visita que fiz em 31 de julho de 2009
3º – Inauguração da 1ª etapa do Porto Piauí

Vamos lá…

1º – Capas do “Almanack da Parnahyba2” de 1930 e 1931
O Almanaque da Parnaíba é um dos periódicos mais tradicionais e importantes do Piauí, começou a circular ainda em 1924, portanto, em 2024 completará 100 anos. Tenho a honra de ser um dos seus colaboradores, participei nas últimas duas edições com muito prazer.

Bom, o Almanaque é uma valiosa fonte de informação e vez por outra gosto de visitar o meu acervo digitalizado, foi nessas minhas pesquisas que encontrei, achei muito pertinente e gostaria de destacar as capas dos Almanaques, dos anos de 1930 e 1931, vejam como são preciosas as ilustrações de J. Adonias:

Capa de 1930 – Aqui uma embarcação chegando ao “Porto de Amarração”, carregada de mercadorias, ela é observada pelo olhar indiferente e de descrédito de um cidadão com um traje típico dos malandros da velha boemia de outrora. O observante está na sombra de árvores típicas, cheias de frutos, produtos que deveriam ser exportados através do porto.
Capa de 1931 – Um cidadão triste e sem nenhum ar de esperança, ele está sentado sobre caixas, simbolizando os produtos, como: cera, babaçu e algodão, que deveriam ser exportados a partir do porto. Observa um avião, que já era uma realidade por essas bandas, ele não olha para o pequeno barquinho que chega na praia de amarração, sem nenhum ancoradouro. Lá ao fundo, um prédio, simbolizando um tímido progresso.
No caso de 1931, além da capa, vem o parecer do editor sobre a mesma, que termina com o seguinte dizer: “…é que não appareceu ainda no Brasil, quem o libertasse definitivamente da tutella dos seus visinhos3“. Aqui ele deve referir-se à nossa incapacidade de praticarmos um abundante comércio de importação e exportação por falta de um porto, por isso ficamos dependendo dos vizinhos, principalmente Ceará e Maranhão, 100 anos depois desse comentário e a ladainha continua a mesma.

2º – Uma visita que fiz em 31 de julho de 2009
Em 2009 houveram rumores fortes de que a obra seria finalizada, um movimento menor do que o que tivemos agora em 2023, mas que também chamou muita a atenção da imprensa e de toda a comunidade. Palco armado para crentes e descrentes fazerem os seus comentários. Eu estive lá e escrevi uma matéria para o Portal Piracuruca, segue na íntegra o print:

Print da nota veiculada no Portal Piracuruca em 31 de julho de 2009, ao final, eu cito algumas promessas da época, como: voos regulares no aeroporto de Parnaíba, reativação da ferrovia, ZPE e o próprio porto. Desses, o aeroporto, a ZPE e o porto avançaram um pouco, nada totalmente de concreto ainda. De qualquer forma foi um avanço muito pequeno, é bom lembrar que já se passaram 14 anos.

Esta nota repercutiu muito na época, inclusive foi me solicitado um direito de resposta, que eu concedi prontamente. Houve uma reafirmação de que a obra iria continuar, mas, o fato foi que parou, não investiguei os motivos, por isso evitarei fazer qualquer especulação.

3º – Inauguração da 1ª etapa do Porto Piauí
O novo sucessor da dinastia petista no Piauí, o governador Rafael Fonteles é um entusiasta, uma motivação que empolga, imaginem você com o carro atolado e chega um trator para te socorrer, é deste jeito que um bairrista como eu se sente quando ver no estado um comandante com tanta firmeza nas palavras. Vem no pacote: porto, ZPE, hidrogênio verde, educação com muita tecnologia, etc.

Assim, no dia 13 de dezembro de 2023 o homem prometeu e realmente inaugurou, diz ele: “a primeira etapa do Porto Piauí”, neste primeiro momento houve a dragagem e a construção de uma razoável infraestrutura, o foco inicial é o escoamento de produtos oriundos da pesca.

Não fui no dia da inauguração que teve festa de cantor famoso, chegada de embarcação da marinha e muita badalação. Mas fui 4 dias depois, dia 17 lá estava eu com meu filho observando a obra, realmente foi feita muita coisa.

Eu e o meu filho Antônio Neto na visita ao porto.
Algumas embarcações ancoradas na área.
Um memorial foi erguido contando a história que envolve o porto, no entanto, eu não vi na marcação temporal o episódio do ano de 2009 que eu citei acima.

Por fim, admito que de todas as promessas, esta foi a que me deu mais confiança. A mosca na sopa é a notícia que vem de lá, dando conta de que os maquinários e trabalhadores já se despediram, espero que a obra não pare novamente e eu não tenha que escrever um 4º capítulo daqui há uns anos.

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1 “Em 1699 foi autorizado um estudo sobre a viabilidade de construção de um porto. Sondagem do Rio Parnaíba e sua foz. O governador de Pernambuco deu instruções para o capitão-mor, Francisco Gil Ribeiro, para construir o porto.” Informação obtida em 17 de dezembro de 2023, no memorial existente nas imediações da área do porto.
2 Grafia da época.
3 Grafia original.