Mais um patrimônio arquitetônico antigo de Piripiri vira escombros

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Estamos relativamente acostumados a ver nosso passado em forma de edificações ruírem quase que diariamente nas cidades e nos campos piauienses. Uns tombam pelo abandono e desinteresse dos proprietários. Outros, geralmente localizados nas zonas comerciais das cidades, são alvos de especulação imobiliária. O que vale é o terreno…

Quase nunca há ação dos órgãos competentes dos poderes públicos. Geralmente não possuem verba nem pessoal suficiente para classificar e estudar um imóvel antigo antes de decidir se seria conveniente a sua demolição.

A nível federal o IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico nacional; a nível estadual a FUNDAC-Fundação Cultural do Piauí; a nível municipal, bem, somente algumas cidades como Teresina possuem órgão competente.

A população da aprazível cidade de Piripiri viu recentemente com muito contragosto mais uma demolição de um casarão histórico, feito de maneira rápida e fulminante, em meados de abril de 2015. Trata-se da antiga residência do Sr. Álvaro de Melo Castro, na Praça da Bandeira, cruzamento das ruas Prof. Bem com Felinto Resende.

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ESTA ANTIGA EDIFICAÇÃO DE ESQUINA NA PRAÇA DA BANDEIRA HOJE É SÓ UM TERRENO. ALI JÁ FOI RESIDÊNCIA, BAR, COMITÊ POLÍTICO, ETC.

Histórico

Segundo o historiador piripiriense Evonaldo Andrade, a antiga residência hoje desaparecida pertenceu a Álvaro de Melo Castro nascido no dia 19 de dezembro de 1904. Casou-se com Gerviz de Castro Cruz Melo. Foi pai de cinco filhos: Gilka, Maria Gilda, Edson, Zélia e Álvaro Francisco. 

Álvaro de Melo Castro notabilizou-se por sua retidão e pelo amor aos seus familiares, consideração aos amigos e respeito às pessoas com quem conviveu. Faleceu aos 53 anos de idade, quando ainda tinha muito a oferecer.

Sempre segundo Evonaldo Andrade, em sua homenagem a sua filha Zélia fundou uma instituição de ensino em 1965, a Escolinha Álvaro de Melo Castro, em atividade de 1965 a 1973. Oferecia Maternal até 3ª série. Funcionou na Rua Pires Rebelo, em salas de aula adaptadas de galpões existentes no quintal da casa do casal Antônio Bezerra e Zélia.

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ÁLVARO CASTRO EM FOTO DE SUA FILHA ZÉLIA.

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DESCRIÇÃO ANTIGA DAS RESIDÊNCIAS DA RUA FELINTO RESENDE-PRAÇA DA BANDEIRA. A CASA DE ÁLVARO CASTRO É A DA ESQUERDA. IMAGEM POSSIVELMENTE DO FACE DE FABIANO MELO.

A arquitetura

A edificação, sem estilo arquitetônico definido, possui telhado em duas águas, beiral, sem platibanda.  Hoje parece ser bem menor até do que apresenta a imagem de satélite de 2004 Google Earth. Também parece que foi seccionada rumo ao centro da quadra. De qualquer maneira a casa era geminada com a de cor verde da imagem abaixo. De paredes bastante espessas, a casa apresenta cunhais bem vistosos bem como cornijas bem salientes.

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FACHADA DA EDIFICAÇÃO PELA RUA FELINTO RESENDE, PRAÇA DA BANDEIRA. 

Observando a imagem antiga abaixo, percebe-se que para o lado voltado para a Praça a edificação possuía, da esquerda para a direita, três portas e duas janelas. Posteriormente, com a transformação da residência em ponto comercial, uma das portas de madeira, a terceira da esquerda para a direita foi substituída por metálica de enrolar e as duas janelas da esquerda também se transformaram neste tipo de porta.

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OBSERVEM A FACHADA PRINCIPAL, VOLTADA PARA A PRAÇA DA BANDEIRA, EM IMAGEM NÃO MUITO ANTIGA, MAS MUITO REALISTA. DA ESQUERDA PARA A DIREITA: DUAS PORTAS SECUNDÁRIAS, A PRINCIPAL E DUAS JANELAS. FOTO: ZÉ MARIA VIANA.

Na imagem abaixo é possível observar sobre o que sobrou das portas, sendo que as três eram em arco abatido e com bandeiras de madeiras acompanhando a curva do arco. As janelas, que já não existem nesta imagem, mas sim na anterior, eram em verga reta, envidraçadas, com bandeiras também envidraçadas.

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AS DUAS PRIMEIRAS PORTAS AINDA SÃO DE MADEIRA NESTA IMAGEM. A PRINCIPAL, DO MEIO, HOJE É METÁLICA. AS DUAS JANELAS DA DIREITA FORAM TRANSFORMADAS EM PORTAS.

A cumeeira é voltada para a Rua Professor Bem, e nessa fachada apresentava apenas uma porta, já próximo da esquina. 

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FACHADA DA CUMEEIRA VOLTADA PARA A RUA PROF. BEM. OBSERVE QUE NESTA IMAGEM RELATIVAMENTE ANTIGA SÓ HAVIA UMA PORTA. FONTE: ZÉ MARIA VIANA.

Na imagem abaixo, também voltada para a Rua Prof. Bem é possível se ver que foi instalada uma porta menor, à esquerda da primeira. Ambas de madeira, com arco abatido e bandeira de madeira curva, exatamente como na fachada principal.

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NESTA IMAGEM BEM MAIS RECENTE É POSSÍVEL OBSERVAR QUE FOI INSTALADO UMA SEGUNDA PORTA NESTE LADO, NA RUA PROFESSOR  BEM, EXATAMENTE ONDE HAVIA UMA CAIXA DE AR CONDICIONADO. DESTAQUE PARAA CORNIJA (1) E PARA OS VISTOSOS CUNHAIS (2).

Outro detalhe interessante é a presença de um óculo, abertura geralmente circular, destinada à passagem de ar e/ou luz. Está á esquerda da edificação, ao alto da porta. Não nos lembramos de ter observados óculo em construções residenciais antigas de Piripiri. Da mesma maneira não sabemos se é original, desde a construção.

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DETALHE DO ÓCULO DA EDIFICAÇÃO DO SR. ÁLVARO DE MELO CASTRO, HOJE DEMOLIDA.

A demolição

Foi no período aproximado de 15-20 de abril de 2015 que tudo veio abaixo, para tristeza dos piripirienses que são briosos de seu passado histórico muito rico. Uma parte de nossa cultura se foi rapidamente, sem ao menos se discutir a questão. As máquinas chegaram e pronto!

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AS MAQUINAS FINALIZAM SEUS TRABALHOS. A HISTÓRIA SE DESPEDE.

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PRATICAMENTE ENCERRADO OS TRABALHOS DE DEMOLIÇÃO. 

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ESTE TERRENO IRÁ ABRIGAR TALVEZ UMA MODERNA LOJA.

A questão da preservação

Geralmente as pessoas lamentam a derrubada de suas edificações históricas, que lhe trazem doces lembranças e atribuem a demolição apenas à ganância comercial. Entretanto seria bom observar que o que parece ser mais falho é a ausência do Poder Público. Nem todo mundo que derruba edificações antigas o faz por desprezo ao passado. Há muitos casos onde estas edificações são objetos de partilha familiar e nem sempre estas pessoas são ricas. Herdar um imóvel historicamente valioso, mas comercialmente fraco é desastroso para muitos. Por isso muitos se apressam em jogar tudo ao chão, antes que se façam denúncias, campanhas, etc. 

Se os governos federal, estadual e municipal atuassem conjuntamente, com um órgão em três esferas, dotando o proprietário de vantagens como ausência de impostos municipais, federais e estaduais e ainda incentivando através de financiamento a instalação de atividades que implicassem a preservação, certamente estas edificações seriam conservadas.

Em Olinda-Pernambuco, na parte velha, ter um prédio antigo anda longe de ser um estorvo para os seus proprietários. O governo fez a sua parte e naquelas dezenas de edificações geminadas em vários quarteirões as edificações são bares, restaurante, lojas de artesanato, pousadas, agências de viagens, etc.

Sem o braço decisivo e com incentivos financeiros a maior parte dos prédios históricos de Piripiri irão ao chão, cedo ou tarde, antes que IPHAN ou FUNDAC façam alguma coisa, como aconteceu quando este último salvou por pouco o Casarão Espedito Resende,  após imensa mobilização e clamor popular.

Fica aqui nosso lamento e consternação por este desaparecimento de pedaço de nossa história…

Fonte:

Andrade, Evonaldo. A História da Educação em Piripiri – Parte II. In  http://www.cliquepiripiri.com.br/noticias/a-historia-da-educacao-em-piripiri-parte-ii.