Na cidade de Parnaíba localizada no norte do Piauí, possui cerca de 46 bairros, dentre esses, um específico chama atenção por ser conhecido como “Bairro dos Artistas”, devido no mesmo ter grande concentração de personalidades como vereadores, prefeitos, deputados, empresários, entre outros que foram importantes e que passaram por lá.
Parte da visão aérea da cidade de Parnaíba com destaque para o Bairro Nova Parnaíba
Fonte: Google Maps
Parnaíba também acompanhou o movimento que se desenvolvia pelo país. Foi durante o governo de Cel. Constantino de Moraes Correia que a cidade sofreu diversas mudanças, passando por um período de urbanização, com a criação de jardins em praças, reforma na iluminação pública, calçamento, etc. O bairro Nova Parnaíba, inicialmente “Cidade Nova” e “Caatinga de cima”, também recebeu modificações em suas estruturas, tendo suas ruas projetadas a fim de que se estabelecesse um melhor acesso dos automóveis, bem como a circulação de pessoas, além do oferecimento de limpeza pública e doação de terrenos por parte da prefeitura.
Avenida Coronel Lucas Correia e a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, datada de 1966
Fonte: Google Earth
O bairro Nova Parnaíba, passou a ser visto como bairro com domínio de relação de tempo e espaço, onde a sociedade deseja morar ou deslocar saindo de sua casa para ter uma relação de amizade com os vizinhos do local onde mora, no qual o mesmo é considerado como pedaço da cidade sendo ele privado ou público. Segundo o autor Pierre Mayol:
Uma porta de entrada e de saída entre espaços qualificados e o espaço quantificado, o bairro surge como domínio onde a relação espaço/tempo é mais favorável para um usuário que deseja deslocar-se por ele a pé saindo de sua casa. Por conseguinte, é o pedaço de cidade atravessando por um limite distinguindo o espaço privado do espaço público, ou seja, e o que resulta de uma caminhada, da sucessão de passos numa calçada, pouco a pouco significada pelo seu vínculo orgânico com a residência (MAYOL, 2003, p. 41).
O bairro Nova Parnaíba, antiga caatinga foi fundado em 1913 no período em que a cidade estava crescendo economicamente e a vinda de comerciantes de outras cidades fez com que o bairro caatinga (atual Nova Parnaíba) fosse criado no mandato de cel. Constantino de Moraes Correia no período do seu intendente municipal de 1913 a 1916, onde ele buscava dar formas para os quarteirões. Portanto:
O bairro nova Parnaíba – antiga caatinga coube ao cel. Constantino de Moraes correia, intendente municipal no quatriênio 1913-1916 , a denominação de bairro nova Parnaíba e o seu traçado, dando forma retangular aos quarteirões, conforme planta de 1913, pertencente ao arquivo do Dr. Lauro Andrade Correia (PASSOS, 1982, p. 39).
Durante o governo de Cel. Constantino de Moraes Correia, planejou-se o “Nova Parnaíba”, o qual também recebera a denominação de “Cidade Nova”, objetivando regimentar as novas construções.
Cel. Constantino de Moraes Correia
Fonte: https://portalcostanorte.com/grandes-administradores-da-parnaiba-ii-constantino-correia/
No período de modernização a cidade Parnaíba, como qualquer outra cidade no Brasil, recebeu um tratamento urbano, passou por modificações em sua estrutura acompanhando o desenvolvimento comercial que causava, sendo assim, passou a ter novas áreas que foram ampliadas buscando acentuar um tom de moderno, valorizando os bairros da cidade:
A cidade recebeu tratamento urbano, novas áreas de sociabilidades, além de transportes modernos, sendo tudo isso valorizado no discurso oficial[…]Desse modo alguns símbolos da modernidade foram sendo incorporados ao cotidiano da cidade e de seus habitantes. Mas existia “outra cidade” menos presente no discurso oficial onde faltava água tratada e canalizada, “oficial”, com animais domésticos criados à solta (NASCIMENTO, 2002, p. 19).
Dessa forma, observou-se a mudança da paisagem local em decorrência das diversas transformações urbanas ocorridas com a modernização, como por exemplo a construção de jardins e praças, calçamento e arborização das ruas, a limpeza pública passou a compreender as áreas mais afastadas do Centro, bem como a inauguração de mercados e a reforma da rede elétrica da cidade (MELO, 2012, p. 52).
Nesse contexto, o bairro Nova Parnaíba é considerado um bairro diferenciado por parte de alguns pesquisadores, pois alguns estudiosos relatam que ele é um dos mais preferidos da cidade, pelo fato de apresentar um clima diferente comparado aos demais bairros.
Segundo relata Passos (1982) “A nova Parnaíba é uma das zonas preferidas da cidade pela sua altitude, pelo seu clima ameno e pelas suas ruas e avenidas largas, arborizadas e bem delineadas”. Nova Parnaíba por ter suas ruas e avenidas largas, chama a atenção das pessoas que passaram por lá, pela forma retangular de cem metros em quadro do bairro, até mesmo pelas ruas medirem 20 metros, e as avenidas 30 metros, proporcionando um maior espaço para se locomover e assim uma maior comodidade para o convívio social entre os indivíduos que compartilham desse bairro.
As ruas largas são uma característica do Bairro Nova Parnaíba
Fonte: Google Earth
O levantamento da planta da chamada Cidade Nova ou Bairro Nova Parnaíba, cujos quarteirões propostos tinham forma retangular, dimensão de cem metros em quadro, ruas alargadas para 20m e avenidas para 30m, e ainda, propunha a regulamentação das construções, com alguns prédios demolidos e substituídos por novas edificações (MELO, 2012).
O bairro Nova Parnaíba quando começou a se desenvolver teve a implantação de uma escola em 11 de julho de 1927, a Escola Normal Doutor Francisco Correia, popularmente conhecida como escola normal. No início funcionava somente oferecendo um ensino para mulheres que desejavam lecionar. No bairro, também se encontra o palácio episcopal. Segundo Passos (1982), “Encontramos ainda no bairro, o palácio Episcopal, a escola normal “Dr. Francisco Correia”, fundada em 11 de julho de 1927”.
Escola Normal Francisco Correia, na Avenida das Normalistas
Fonte: Google Earth
Registro histórico da Escola Normal Francisco Correia
Fonte: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?id=449078&view=detalhes
A cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos pára-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras (CALVINO, 1947).
O bairro tem seus significados, suas formas, dependendo dos olhares que percorrem as ruas como se fossem páginas escritas nas quais cada uma tem seus conceitos, suas histórias, seu processo de modernização, ou seja, o bairro constitui, assim como os outros, a história da cidade, seus pensamentos e o modo de se expressar. Desse modo percebemos pela constituição urbana de cada bairro as mudanças que foram compondo tanto a história individual quanto coletiva da população parnaibana.
Vista aérea de parte das ruas e avenidas do Bairro Nova Parbaíba
Fonte: Google Earth
[…] cultura arquitetônica própria de uma classe burguesa que dava primazia ao conforto, amava o progresso (especialmente quando melhorava suas condições de vida), amava as novidades, mas rebaixava a produção arquitetônica ao nível da moda e do gosto (PATETA, 2012).
Na arquitetura das casas, a cidade recebeu influências especialmente advindas da Europa, fator que marcou no decorrer do tempo as estruturas das casas, dos prédios, etc. observáveis à medida que se percorre as ruas e avenidas parnaibanas, possibilitando a visualização de décadas nas fachadas das casas.
Foi durante o início do século XX que o Ecletismo ganhou ênfase, principalmente em cidades em grande desenvolvimento, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Belém e Parnaíba. O período denominado Belle Époque notabilizou o Ecletismo, haja vista a abrangente difusão do que se considerava ser intelectual, proeminente, bem como novos modos de pensar e viver.
Em qualquer cidade existe um espaço reservado ao lazer responsável por atrair um número significativo de pessoas para passear, descontrair. Em Parnaíba o centro da cidade é um deles, justificado pelo fato de ter uma grande quantidade de casas comerciais e residenciais próximos uns dos outros. Essas casas constituíam a classe alta da sociedade parnaibana, representavam o prestígio da elite, ou até mesmo o estabelecimento de compromissos políticos e comerciais.
Em termos gerais, o conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais usos definem áreas, como: o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviço e de gestão; áreas industriais e áreas residenciais, distintas em termos de forma e conteúdo social; áreas de lazer; e, entre outras, aquelas de reserva para futura expansão. Este conjunto de usos da terra é a organização espacial da cidade ou simplesmente o espaço urbano fragmentado (CORREA, 1989).
Com o processo de modernização que aconteceu no início do século XX, não somente as ruas da cidade passaram pelo embelezamento, as residências tiveram sua arquitetura mudada, onde que a mesma é vista como sentido positivo, pois é visto como uma criação inseparável da vida da sociedade que nela habita. Com a proximidade com os centros econômicos brasileiros e o crescimento da economia parnaibana houve exigências ao consumo da sociedade, tornando-os mais exigentes e sofisticados como as louçarias, o mobiliário, etc.
A arquitetura das casas na cidade contribuiu para a exposição da riqueza, promovido pelo desenvolvimento econômico que originou as mudanças na paisagem urbana parnaibana salientando os novos modos de ser da elite, na tentativa de evidenciar a ideia de movimento, modernização e requinte.
REFERENCIAS
CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. Ed. 1947
CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço Urbano. PUCRS: 1989,
MAYOL,Pierre. O bairro.In:Certeau, M. A invenção do cotidiano II morar,cozinhar.Petrópoles:Vozes,2003,p.37-70.
MELO, Neuza Brito de Arêa Leão. O ECLETISMO PARNAIBANO: hibridismo e tradução cultural na paisagem da cidade na primeira metade do século XX. UFPI, Teresina, 2012.
NASCIMENTO, Francisco Alcides do. A cidade sob o fogo: modernização e violência policial em Teresina (1937-1945).Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves.2002.
PASSOS. Caio. Cada rua sua História.Parnaíba.1982. p. 39.
PATETTA, L. Considerações sobre o ecletismo na Europa., 1977 ApudMELO, Neuza Brito de Arêa Leão. 2012.