Expedição mostra algumas das riquezas arqueológicas, culturais e naturais de Milton Brandão – Piauí

A cidade de Milton Brandão fica distante cerca de 239 km da capital do Piauí, Teresina. Localiza-se na mesorregião do Centro-Norte Piauiense e tem uma população de 6.542 pessoas (censo 2022). Apesar de ser uma cidade serrana, a população da cidade é abastecida por olhos d’água que nascem nas serras que circundam a cidade. No passado, estes olhos d’água atraiam muitos retirantes, daí vem o primeiro nome do lugar, “Retiro”. Ficou assim até se emancipar da cidade de Pedro II, em meados dos anos 1990, quando passou a se chamar de Milton Brandão.

Chegando em Milton Brandão – Piauí.
Vista do Mirante na área urbana da cidade de Milton Brandão.
Praça da matriz, ao fundo a Igreja católica do Sagrado Coração de Jesus.

Visitei a cidade nos dias 27 e 28 de janeiro de 2024, fiz uma expedição para conhecer alguns locais do rico acervo de sítios arqueológicos com arte rupestre que existem na cidade e também alguns atrativos culturais e naturais. A “Expedição riquezas arqueológicas, culturais e naturais de Milton Brandão” teve o apoio da Secretaria de Turismo do munícipio, que nos ajudou disponibilizando guias e hospedagem. De já o nosso agradecimento à secretária Ana Flávia.

Aqui ao lado do guia Gilson, foi o nosso principal cicerone nesta expedição.

Foram dois dias bem movimentados, com muitas trilhas, registros, diálogos, descobertas e aprendizagens. Valeu a pena cada esforço, a cidade de Milton Brandão tem um imenso potencial para o turismo arqueológico, natural e cultural.

Em tempo: o material gerado na expedição ficará disponível na base do Projeto Artes do Bitorocaia, onde ficarão cadastrados os locais com arte rupestre mapeados dividido em 5 itens (links no final desta matéria). No canal Check’in Aventura, onde ficará o documentário em vídeo dividido em 6 partes mostradas ao longo deste texto. As fotos e vídeos do material foram feitos por F Gerson Meneses e Índio Apache.

=> Primeiro dia da Expedição – 27/01/2024 – sábado
Saímos da área urbana acompanhados pelo guia Gilson, rodamos cerca de 10km em estrada vicinal, fomos até a localidade Sertão de Dentro, lá encontramos a ótima receptividade e acolhimento da família do Sr. Sinézio e Dona Socorro.

Ao lado de Dona Socorro e Sr. Sinézio, na frente do casarão da família.

1ª PARADA: PINTURAS RUPESTRES DA PEDRA GRANDE

Após encontrarmos com o guia local, Firmino (filho do casal Sinézio e Socorro), seguimos em trilha para conhecer o primeiro local com arte rupestre, chamado de Pedra Grande.

Gilson, Índio, Gerson e Firmino. Grupo que participou da trilha.
Pedra Grande fica distante cerca de 2km do núcleo do povoado Sertão de Dentro.
Vista aérea da Pedra Grande.
Escalando a Pedra Grande.
Registrando os painéis rupestres da Pedra Grande, são pelo menos 2 painéis com pinturas, prevalecendo os formatos geométricos e abstratos. No final deste texto tem o link para as demais fotos de pinturas a partir da base do Projeto Artes do Bitorocaia.
A partir da Pedra Grande consegue-se ver ao fundo a grandiosa Serra do Morcego.

Após a Pedra Grande, seguimos até outro local com pinturas, chamado de Serra do Morcego.

2ª PARADA: PINTURAS RUPESTRES DA SERRA DO MORCEGO

Firmino, nosso guia, próximo ao sopé da Serra do Morcego.
Já chegando na Serra do Morcego, encontramos esta grande caverna. A caverna é habitada por morcegos, daí vem o nome da “Serra do Morcego”.

A Serra do Morcego apresenta pelo menos 2 painéis com arte rupestre, sendo um deles um imenso mural com aproximadamente 35 metros de extensão totalmente decorado de pinturas. As formas variam de geométricas, abstratas, zoomórficas e algumas pinturas minúsculas. As pinturas minúsculas, menores que 10 cm, apresentam seres antropomorfos, zoomorfos e passam a ideia de movimento.

No detalhe, uma das minúsculas pinturas rupestres da Serra do Morcego. Algumas destas pequenas pinturas mostram movimento, dinamicidade envolvendo seres zoomórficos e antropomórficos, são símbolos que tem certa semelhança com os apresentados na Serra da Capivara, onde lá eles são classificados como sendo da “Tradição Nordeste”.
Detalhe do imenso painel decorado por arte rupestre na Serra do Morcego.
Alguns registros rupestres da Serra do Morcego. No final deste texto tem o link para as demais fotos de pinturas a partir da base do Projeto Artes do Bitorocaia.

3ª PARADA: CACHOEIRA DOS NOGUEIRA
Passamos então por uma cachoeira formada no curso do Rio Parafuso, afluente do Rio Poty. A Cachoeira dos Nogueira tem uma altura de aproximadamente 10 metros de queda d’água, infelizmente no período que fomos ainda não havia queda d’água.

Ao fundo a Cachoeira dos Nogueira.
Firmino explica que apesar da estiagem, o Rio Parafuso permanece com água neste local que é de grande profundidade.

4ª PARADA: PEDRA DO CRUZEIRO
Um outro local da nossa passagem foi a Pedra do Cruzeiro, fica na localidade Olho D’água. Chama a atenção a forma como blocos rochosos se mantém equilibrados sobre um monólito.

A intrigante Pedra do Cruzeiro.
Detalhes da Pedra do Cruzeiro. No topo da pedra existem pelo menos dois cruzeiros.
Sr. Agostinho de 88 anos, morador ao lado da Pedra do Cruzeiro diz que ela também é conhecida como Pedra do Milagre e já ouvia dos seus antepassados que: “essa pedra não existia aí, ela apareceu depois do grande dilúvio…choveu quarenta dias e quarenta noites, quando a água baixou a pedra apareceu aí.”

Material em vídeo da Parte 1 da expedição: A partir da localidade Sertão de Dentro, visitamos dois sítios arqueológicos com pinturas (Pedra Grande e Serra do Morcego), passamos pela Cachoeira dos Nogueira e concluímos na Pedra do Cruzeiro.

 

5ª PARADA: LENDAS E VIÊNCIAS LOCAIS
Ao retornar para o casarão da localidade Sertão de Dentro, parei para ouvir o Sr. Sinézio, sobre lendas e vivencias locais.

Dois relatos me chamaram a atenção: as luzes misteriosas que perseguem moradores e a visagem da “Velha de Branco”.

Material em vídeo da Parte 2 da expedição: Uma conversa com o Sr. Sinézio, da localidade Sertão de Dentro, que nos relata algumas lendas e vivências passadas por ele e por membros da comunidade Sertão de Dentro e entorno, como: avistamento de luzes no céu e aparecimento de visagens.

 

6ª PARADA: ESPAÇO CULTURAL “CASINHA DO SERTÃO”
Um espaço inusitado, em pleno o sertão piauiense, existe um disseminador de cultura. A “Casinha do Sertão” fica na localidade Sertão de Dentro e é mantida por Reginaldo Costa, que também é filho de Sr. Sinézio e Dona Socorro.

Gilson, Gerson e o anfitrião Reginaldo (Regis Costa), em frente à Casinha do Sertão.
Detalhes internos da “Casinha do Sertão”.

A Casinha do Sertão também funciona como um museu e guarda artefatos típicos das casas do sertão nordestinho, como: lampiões, gaiolas, candeeiros, fogão a lenha, pinico, etc. A casinha também é palco de uma série de produções audiovisuais produzidas por Regis Costa. Regis incorpora o personagem “Pereira” e envolve vários outros membros da comunidade Sertão de Dentro em suas produções que são disponibilizadas no instagram.

Rede social onde “Sr Pereira” mostra a sua rotinha na Casinha do Sertão.

Material em vídeo da Parte 3 da expedição: “Casinha do Sertão”, um espaço dedicado à cultura, localizado no meio do sertão piauiense. Uma casa que guarda artefatos típicos do sertanejo, toda a recepção é feita pelo personagem “Sr. Pereira”. O espaço é palco para a produção de filmagens que compõem séries para as redes sociais.

 

=> Segundo dia da Expedição – 28/01/2024 – domingo

7ª PARADA: PINTURAS RUPESTRES DA SERRA DA ANDORINHA
Na manhã seguinte, seguimos rumo ao Assentamento Lagoa do Mato, de passagem, registrei o belo cenário da Fazenda Barro Vermelho.

Cenários a partir da Fazenda Barro Vermelho.

O nosso objetivo era conhecer a Serra da Andorinha e alguns dos locais com arte rupestre existentes na serra, para isto, seguimos em uma trilha bastante íngreme de aproximadamente 2,5 km.

Serra da Andorinha, vista aérea a partir do Assentamento Lagoa do Mato.
Escalada da Serra da Andorinha. Aqui comigo estão os guias: Gilson, Francisco e Vasconcelos (os dois últimos são do Assentamento Lagoa do Mato).
Arco de pedra chamado pelos moradores de “Pedra Furada”.

No primeiro sítio com pinturas visitado, uma nota triste, o mesmo está totalmente deteriorado devido às pichações.

Pichações com giz e carvão sobre as pinturas rupestres em um dos sítios arqueológicos da Serra da Andorinha.

IMPORTANTE: Para a preservação das pinturas rupestres, cabe a nós, que somos apreciadores, fazermos a nossa parte. O básico é:
=> sempre seguir na trilha acompanhado por um guia,
=> não tocar nas pinturas,
=> não interferir no local, fazendo pichações,
=> não retirar material do local como rochas ou areia,
=> não colocar fogo próximo às pinturas e
=> não jogar lixo nas trilhas e nem nos sítios.

Um detalhe importante, foi encontrarmos bem próximo às pinturas, algumas gravuras rupestres, é realmente uma raridade para mim, encontrar pinturas e gravuras rupestres no mesmo painel.

Alguns registros das gravuras da Serra da Andorinho. No final deste texto tem o link para as demais fotos de gravuras a partir da base do Projeto Artes do Bitorocaia.

Chegamos então em um grande painel rupestre com várias pinturas de estilos diferentes, assim como na Pedra Grande, na Serra da Andorinha também ocorrem pinturas pequenas, entre 5 e 10 com e que expressam movimento.

Grande painel rupestre com pinturas de vários estilos, tamanhos e formas. Aqui, pelo fato de ficar de frente para o sol e muito exposto às chuvas, o arenito está esbranquiçado, dessa forma, as pinturas estão bem claras. O painel também sofre com o desprendimento de placas de arenito.
Pinturas zoomórficas e antropomórficas da Serra da Andorinha. No destaque, um recorte das imagens realçada com a ferramenta Dstretch. Importante salientar a ausência de pinturas de mãos nos sítios visitados em Milton Brandão, as pinturas de mãos são muito comuns no norte do Piauí. No final deste texto tem o link para as demais fotos de pinturas a partir da base do Projeto Artes do Bitorocaia.

Para finalizar a trilha da Serra da Andorinha, conhecemos e exploramos uma grande gruta.

Gruta existente no topo da Serra da Andorinha.
Agradeço a receptividade dos nossos guias Francisco e Vasconcelos, suas famílias e demais moradores do Assentamento Lagoa do Mato.

Material em vídeo da Parte 4 da expedição: Uma trilha a partir do Assentamento Lagoa do Mato, partimos para conhecer a Serra da Andorinha. Um grande arcabouço de arte rupestre, a serra também tem uma grande gruta.

 

8ª PARADA: MIRANTE URBANO E ARTE RUPESTRE
Logo ao chegar na cidade de Milton Brandão percebemos um Mirante, o espaço foi construído recentemente e proporciona uma visão panorâmica da cidade.

A escadaria do Mirante é ornamentada com símbolos rupestres.
Vista panorâmica da cidade de Milton Brandão a partir do Mirante.
Bem próximo ao Mirante, ocorre um outro sítio arqueológico com pinturas rupestres. No final deste texto tem o link para as demais fotos de pinturas a partir da base do Projeto Artes do Bitorocaia.
Artefato semelhante a uma machadinha, encontrado durante as obras de infraestrutura do Mirante. O mesmo está exposto no Mirante.

Material em vídeo da Parte 5 da expedição: Conhecendo o mirante urbano construído no centro de Milton Brandão, um sítio com arte rupestre e um interessante artefato semelhante a uma machadinha. Lá também ficamos sabendo das origens da cidade.

 

9ª PARADA: PEDRA FURADA
Finalmente, fomos conhecer a Pedra Furada, o acesso ao local foi a partir do Balneário Ponto 1, também na área urbana da cidade.

Entrada do Balneário Ponto 1.
Vista a partir do Mirante do Balneário Ponto 1.
Sorato, o proprietário do Balneário Ponto 1 nos guiou até a Pedra Furada.
Finalmente chegamos a mais este atrativo natural de Milton Brandão.
Pedra Furada.
Próximo à Pedra Furada observamos esta intrigante rocha que lembra um leão de pedra “O guardião da Pedra Furada”.
Ao cair da noite, fomos presenteados por essa majestosa lua, a partir do Balneário Ponto 1.

Material em vídeo da Parte 6 da expedição: A partir do Balneário Ponto 1, seguimos em trilha por cerca de 2km até conhecermos a Pedra Furada, um local de cenário exuberante.

 

Ao final, fiquei satisfeito, foram dois dias e nove paradas em que conheci um poucos das riquezas arqueológicas, culturais e naturais de Milton Brandão – Piauí.

Dedico esta matéria ao meu amigo Juarez “Caminho e Trilhas” (In memoriam).

Links dos sítios arqueológicos mapeados na expedição:

Milton Brandão – PI – Gravuras da Serra da Andorinha

Milton Brandão – PI – Pedra Grande

Milton Brandão – PI – Pinturas da Serra da Andorinha

Milton Brandão – PI – Serra do Morcego

Milton Brandão – Serra de Milton Brandão (área urbana)