Continuando a minha trajetória na busca pelos descendentes de Pedro de Britto Passos e Ana Maria de Cerqueira, dessa vez fui até o interior da cidade de Domingos Mourão – Piauí, no lugar chamado de Dois Riachos. O que me motivou a ir até lá foi uma fotografia que recebi do meu amigo de longas datas, Mário Cristiano Lopes de Moura. O retrato mostrava uma casa grande, de interior, que continha em seu frontão, escrito em alto relevo, o nome JOÃO DE BRITTO PASSOS. Não há como não associar esse nome, escrito no casarão, a Pedro de Britto Passos, o grande patriarca dos Britto em todo o norte do Piauí.
Assim, no dia 19 de fevereiro de 2023 (domingo de carnaval), fui lá conferir e conhecer a fazenda Dois Riachos, estava acompanhado por Mário, a sua esposa Adriana, o filho deles Miguel e a afilhada deles Maria Eduarda. O casal Mário e Adriana também são amigos de alguns dos proprietários da Fazenda Dois Riachos e já frequentam o lugar há alguns anos.
Antes de contar para vocês o que vi na fazendo Dois Riachos e da relação genealógica que há entre os supracitados Pedro de Britto Passos e João de Britto Passos, falarei um pouco sobre a nascença dessa família que traz um dos sobrenomes de maior expressão da Ibiapaba e entorno (os “Britto Passos”), tanto do lado cearense como do lado piauiense, isso, a partir da segunda metade do século XVIII.
O texto a seguir está dividido nos seguintes tópicos: A nascença dos Brito no norte do Piauí, Chegada na Fazenda Dois Riachos, Banho no Rio Piracuruca, A sede da Fazenda Dois Riachos, Detalhes do casarão, Detalhes da capela, O patriarca João de Britto Passos e finalmente o parentesco entre João de Britto Passos e Pedro de Britto Passos.
A nascença dos Brito no norte do Piauí:
Iniciarei ainda em Portugal, a partir de Agostinho de Brito Passos e Joanna Pereira de Sousa (≈1730 – ?). Agostinho nasceu no dia 10 de junho de 1710, no lugar de Brito, Freguesia de Santa Eulália de Paços de Ferreira, Porto – Portugal e faleceu em Granja – Ceará – Brasil, no dia 26 de fevereiro de 1781. Ao se aventurar por terras brasileiras, Agostinho trouxe o nome da sua terra natal (‘Paços’ que passou a escrever ‘Passos’) e agregou ao seu sobrenome, assim, a partir da junção desses dois toponímicos (Brito e Passos), nasceu o “Britto Passos” (1,2).
Da união conjugal de Agostinho de Brito Passos e Joanna Pereira de Sousa nasceram 15 filhos, entre eles um homônimo ao pai. Agostinho de Brito Passos Júnior, nascido em Granja-CE, que se casou com Ana Rodrigues Ramos e daí nasceu Pedro de Brito Passos (1794 – 1875). Pedro casou-se com Ana Maria de Cerqueira, que era filha do também granjense Capitão Gonçalo Machado de Cerqueira (1752 – 1834) e de Bárbara Maria da Rocha (≈1760 – ≈1825) (1,3).
Agostinho Filho (pai de Pedro) e Gonçalo (pai de Ana), foram pioneiros em desbravar o norte do Piauí, seguindo as ribeiras dos rios Piracuruca, Jacareí e Pirangi. Coube então aos seus filhos Pedro de Brito Passos e Ana Maria de Cerqueira, já casados, fixarem residência na Fazenda Chafariz nas antigas terras de Piracuruca que hoje pertencem ao município de Cocal dos Alves. Tiveram 9 filhos e daí deram início a uma das famílias mais importantes do norte do Piauí (1), trazendo uma valorosa e ilustre descendência, como por exemplo as personalidades abaixo:
Em tempo: no final desse artigo tem os links para matérias específicas sobre Gervásio de Brito Passos, Anísio Brito, Hermínio Conde e Gerson Boson.
Pedro de Brito Passos se tornou um dos homens mais ricos do Piauí, uma fortuna só superada pela de Simplício Dias da Silva da Parnaíba. De acordo com Vicente Miranda, a riqueza de Pedro era estimada em quatro milhões de dólares. Pedro e Ana tiveram 9 filhos, são eles: Agostinho, Domingos, Antônio, Francisco, JOÃO, Gervásio, Zeferina, Clementina e Maria do Carmo (1).
Bom, conforme visto acima, um dos filhos de Pedro e Ana se chamava JOÃO, daí veio a minha primeira suspeita, seria o mesmo JOÃO DE BRITO PASSOS, que está com seu nome grafado no casarão da Fazenda Dois Riachos? Antes de responder a essa pergunta, vou contar para vocês o que vi na Fazenda Dois Riachos durante a minha visita.
Chegada na Fazenda Dois Riachos:
Com a devida autorização, chegamos à sede da Fazenda, que fica a cerca de 22 km da área urbana da cidade de Domingos Mourão.
O nome “Dois Riachos” é em virtude da localização privilegiada da fazenda, os dois riachos referenciados, na verdade são: o rio Piracuruca e o seu afluente, um riacho conhecido pelos moradores como Cuminguara. Ambos misturam suas águas a cerca de 2 km da sede da fazenda.
Em tempo: o Rio Piracuruca nasce em São Benedito no Ceará e cerca de 200 km depois deságua no Rio Longá em São José do Divino. No final desse texto tem o link para o documentário de uma expedição pelo Rio Piracuruca.
Banho no Rio Piracuruca:
Fomos então até o Rio Piracuruca; na sua passagem pelas terras da Fazenda Dois Riachos o Rio Piracuruca tem trechos bem rasos e foi em um desses locais que paramos a “Lôra” para fazermos um churrasco, banhar e bater um bom papo.
Em tempo: nesse ponto do Rio Piracuruca, existe uma “passagem molhada natural”, onde tem um tráfego alternativo entre os municípios de Domingos Mourão e Brasileira. Do lado do município de Brasileira (lado norte) andando mais uns 4 km aproximadamente, se chega até a sede do Povoado Saco dos Polidoros. No final dessa matéria tem o link pra uma matéria e vídeo sobre o Povoado Saco dos Polidoros.
A sede da Fazenda Dois Riachos:
Depois da descontração na margem do Rio Piracuruca, fomos registrar a sede da Fazenda Dois Riachos e não foi só o casarão que me surpreendeu, na verdade o lugar retrata um cenário histórico cada vez mais raro.
O cenário é composto por uma capela datada de 1941, uma outra casa, currais, além do grande casarão datado de 1927, construído por João de Brito Passos.
Vale ressaltar o cuidado e o zelo com que João de Britto Passos teve ao erigir essas construções, além da beleza arquitetônica, a preocupação em registar datas e dizeres.
Casa grande, capela, currais, são elementos típicos dos antigos núcleos rurais. Muitas dessas fazendas transformaram-se em vilas, povoados e até cidades. Outras permanecerem como fazenda, como é o caso da Dois Riachos.
Detalhes do casarão:
Na parte interna, o casarão ainda apresenta alguns objetos, retratos e características originais, imagens abaixo:
Detalhes da capela:
A capela está precisando de cuidados, contudo, ainda revela a sua imponência e se destaca no meio da paisagem do sertão.
Um outro detalhe importante da capela, é que nela esteve sepultado o patriarca da fazenda e construtor da capela: João de Britto Passos (16/06/1889 – 23/08/1963).
Em tempo: de acordo com a data de nascimento de João de Britto passos, que se deu em 16/06/1889, eu já descartei ele ser filho de Pedro de Brito Passos, pois Pedro faleceu em 24/07/1875.
O patriarca João de Britto Passos:
A partir de (3) tive acesso ao assento de casamento de João de Britto Passos e Dona Luisa de Melo Castro (depois do casamento passou a assinar Luiza de Melo Britto). A cerimônia se deu no lugar “Há Mais Tempo” (próximo à Fazenda Dois Riachos) em 2 de outubro de 1909.
Ainda de acordo com o documento visto em (3), João de Britto Passos era negociante. Isso se confirma a partir do depoimento da trineta Narjara Brito:
“… por trás da casa grande havia uma outra casa de fazenda bem mais antiga, de adobe e nela além dos utensílios para a criação de animais e máquinas de moagem, havia também um comércio, uma loja em que meu trisavô comercializava: tecidos, óleo, mercadorias. Mantimentos que eram distribuídos pela região através dos comboieiros.”
João e Luiza tiveram 11 filhos, são eles: Antônio, Francisco, Hilda, José, Luiz, Maria, Marilda, Marilene, Mário, Zilda (todos com o sobrenome Mello Britto) além de João de Britto Filho (1922 – 1983) (todos in memoriam). Entre todos os filhos, foi João de Britto Filho que residiu na fazenda até falecer. João Filho casou-se com Jovita Maria de Jesus e tiveram 4 filhas, hoje a fazenda é de propriedade de alguns dos seus descendentes.
Parentesco entre João de Britto Passos e Pedro de Britto Passos:
Finalmente, depois de consultas em (3) pude montar a árvore genealógica e perceber a ligação entre João e Pedro de Britto Passos. João de Brito Passos era filho de Antônio Coelho de Brito e Cândida Rosa Castelo Branco, era neto paterno do homônimo João de Britto Passos e Cândida Rosa de Jesus. Por último, era bisneto de Pedro de Britto Passos. Conforme árvore abaixo:
Assim, está respondida à pergunta, o JOÃO DE BRITTO PASSOS que tem seu nome grafado no casarão da Fazenda Dois Riachos é bisneto de Pedro de Britto Passos.
Resolvida essa dúvida, continuarei a busca por mais descentes de Pedro de Britto Passos…até a próxima.
Agradecimentos:
– José Consu
– Narjara Brito
– Mário e Adriana Moura
Referências consultadas:
1 – GASPAR, J. B. Revista Ateneu Nº 3. Coronel Pedro de Britto, nos “Passos da História”. Gráfica e Editora SIEART, 2021.
2 – LIMA, F. A. A. Siará Grande: Uma província portuguesa no nordeste oriental do Brasil. Fortaleza-CE, 2016.
3 – FAMILY SEARCH. Árvore Genealógica de Antônio Coelho de Brito. Disponível em: https://www.familysearch.org/tree/pedigree/landscape/GFST-9ZT. Acesso em: fevereiro de 2023.
Links:
Um homem múltiplo: A trajetória de Gerson Boson o piracuruquense que fez história em Minas Gerais
Expedição científica Arabê / Piracuruca, conhecendo o nosso rio, da nascente à foz
Memorial Polidoro de Brito, o primeiro museu rural do Piauí está no povoado Saco dos Polidórios